sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Um bagulho meio esquisito

 Ontem a noite me bateu um negócio que até estranhei. Passei o dia tão agitada, fazendo as coisas, mas meio que fazendo cosplay de barata tonta, começando uma coisa pra largar ela no meio do caminho depois de ter começado outra e repetido este mesmo ciclo. Consegui concluir quase tudo o que eu queria, no entanto. Mas quando chegou a noite e eu fui sentar com meu livrinho, eu não conseguia ler, porque minha cabeça ficava indo longe a cada duas frases, e eu tinha que voltar uma página toda pra entender o que eu tava lendo. 

Comecei a ver um filme, pra ver se me ajudava a focar mais, mas é um saco ter que ficar interrompendo o filme toda vez que eu preciso levantar. Acho que tô mais conformada em interromper a leitura, me incomoda menos. Enfim. 

No final das contas, perdi um bom tempo no instagram vendo bobagens e foi aí que o bagulho bateu e foi inesperado. Senti uma agitação, mas toda diferente do que eu tava sentindo durante o dia. Senti um bagulho muito parecido com esperança e confiança. Minha mente foi reunindo a Assembléia e eles que já estavam em polvorosa, pior ficaram. A diferença é que dessa vez eram boas ideias, bons pensamentos. Pensamentos me dizendo que eu sou capaz, que eu consigo sim fazer um plano a médio ou longo prazo. Um plano que me dá esperança de viver uma vida mais estável e de talvez trazer pra mim aquilo que ando querendo faz tempo demais. 

Faz alguns dias que eu voltei a estudar. Pra falar a verdade eu decidi pela tarefa Hercúlea (ou seria Alcídica?) de transcrever o curso sobre gatos. São mais de 60h de vídeo, é trabalho pra cacete. Não ousei contar pra ninguém porque eu sei que a partir do momento em que eu "me gabar" sobre isso eu vou perder a disposição. E eu tô determinada a reter cada pedaço daquelas informações, porque eu tenho um caderno todo que eu escrevi enquanto assistia o curso pela primeira vez, mas muito se perde, né? Muito se distorce pelo nosso entendimento. E minha memória nunca foi lá muito memorável. Não pelo motivo certo, pelo menos. Então decidi por essa tarefa e continuo firme, fazendo todos os dias, igual aqui. 

É engraçado a súbita disposição que a gente sente sobre um assunto imediatamente após desistir dele. Foi assim quando eu fazia tricô também. Eu tava tão cansada e cheia de tricotar por meses a fio, fazendo peças que eu não queria estar fazendo, só porque tinha me comprometido com os clientes. Quando eu fechei a loja, passaram poucos dias e eu já estava lá tricotando recreativamente, animada e faceira. 

Eu não estou animada e faceira transcrevendo o curso, mas o sentimento mudou. Considerando que eu passei o mês de novembro inteirinho com o corpo completamente travado, emoções no fundo do poço e um ânimo já muito esquecido no canto do porão, decidir por uma tarefa tão grande como essa, que vai me levar meses, é uma puta vitória. Não tô animadissima em relação a isso mas também não tô com ranço, tô assistindo como se fosse a primeira vez, mas sem o chicotinho a espreita como foi antes. O chicotinho ficava ali do lado, esperando a informação vir e bater no meu peito me dizendo "você faz tudo errado, caralho". Sem chicotinho dessa vez. 

Eu ainda tenho aquela parte de mim que quer depois de tudo isso, fazer uma lista com todos os pontos em que eu ainda erro, e ir corrigindo um por um, ostentando cada check. Mas tem outra parte de mim, mais inteligente eu acho, que sabe que no meu contexto, é bem próximo do impossível fazer todas os requisitos serem cumpridos com sucesso. Não quero me cobrar demais. Quero sim dar o melhor que eu posso dar para os meus gatos, assim como já venho fazendo, e vamos considerar aqui que esse melhor nem sempre é a mesma coisa sempre. Saúde mental é um bagulho muito louco que caga com tudo. Mas eu tenho essa honesta vontade de fazer eles realmente felizes com uma vida rica e feliz, sem esquecer de me fazer feliz também. Talvez essa seja a tarefa realmente Hercúlea. 

Pois bem, ontem olhando o instagram, encontrei um perfil de catsitter muito honesto, simples e engraçado e me fez flertar um pouco com essa possibilidade. Encontrar a graça de novo dentro do que eu faço, encontrar a alma, a alegria, o humor.. e também a parte profissional e estratégica. Me deu vontade de estudar certos perfis que conheço, recolher informações e ver o que funciona. Acho que sou capaz, mesmo que o timing não seja propício por ser fim de ano. Fim de ano eu tinha que aproveitar pra fazer mais dinheiro quanto for possível, mesmo se eu me lascar um pouquinho. Mas talvez seja justamente o contrário, talvez o fato de eu só poder fazer esse estudo depois que o fuzuê do fim de ano passar, me dê o tempo e a calmaria necessária pra realmente planejar com tempo tudo direitinho. Eu tinha me dado 7 meses pra fazer a coisa acontecer, mas de verdade, eu posso me dar o tempo que eu quiser. Eu posso desistir ou posso tentar fazer dar certo, independente se leve 10 meses ou um ano e alguma coisa. Não precisa exatamente cumprir meu prazo. O prazo é bom pra botar as coisas em perspectiva, chamar pra ação, mas não precisa ser mais uma cobrança inútil dentro da minha cabeça já muito perturbada. 

Então vamos ver o que vai ser, vamos ver como eu consigo me manter mentalmente, vamos ver como as coisas vão andar. Mas por hoje eu tô sentindo essa esperança, essa vontade de agir. Tenho sentido há alguns meses a imensa vontade de viver, de sair desse buraco que eu vivo - no sentido emocional - mas quase nunca encontrava em mim a vontade em forma de ação, vontade suficiente pra fazer acontecer alguma coisa, porque sempre tava alguma coisa doendo, incomodando, agoniando. Ainda tem, claro, mas como eu disse, alguma coisa mudou. Espero que dure tempo suficiente. Espero que eu aprenda dessa vez. 

Mais do que nunca, me deseje sorte. 

Vou ficar ausente por uns dias porque estou indo viajar, mas provavelmente vou escrever algo no celular pra postar depois que eu voltar. 


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