sábado, 3 de dezembro de 2022

Mas como?

Então.

Esse nosso pequeno arranjo aqui já está começando a mostrar alguns resultados. Escrever aqui faz de conta bem lindamente que eu não estou falando sozinha, apesar de saber que sim, sigo falando sozinha porque é uma comunicação bem passiva e também não tenho a intenção que ninguém leia. Mas expor esses pensamentos sem quase nenhum filtro faz a mente sair do redemoinho insistente de alguns temas e se propor a criar uma linha de raciocínio. Especular sobre um tema, desenhar e engavetar. Tem ajudado. 

A conversa aqui de ontem me fez perceber o quanto eu tenho me feito desinteressante. Se é causa ou efeito não sei dizer, provavelmente um pouco dos dois. Tenho estado tão desesperada em busca de um caminho, de uma orientação, de alívio das angústias que obviamente não tenho tido mais interesse em mais nada. Essa busca desesperada tá menos relacionada a pesquisas e mais em vomitar minhas amebas em quem me dá o mínimo de atenção. Esse é o primeiro ponto. O segundo é não ter estar fazendo o movimento de volta, em me abrir pra também acolher as pessoas com quem eu falo. Eu simplesmente desapareço e ainda fico esperando um resgate que eu sei que não vai vir. Virei aquela pessoa dramalhona, isolada e carente, tudo o que eu sempre sonhei, só que não. 

Eu não sei onde a vida perdeu o sentido, mas tenho percebido a sensação de não querer fazer mais parte desse mundo. Não no sentido suicídico da coisa, mas no sentido de não me encaixar e de também não fazer questão de tentar me encaixar. Eu gosto de fazer várias coisas e costumava me divertir com pouco, mas ultimamente até as coisas que eu sempre gostei chegam até mim com um peso. 

Eu gosto de cuidar do meu cabelo, por exemplo. Mas olhar pra ele e decidir que ele não tá do jeito que eu queria e nunca vai ficar ficou mais fácil. Me olhar no espelho e ver uma pessoa torta, feia e sem graça virou rotina então já nem me olho mais. Enchi minha casa de plantas e algumas não gostam do lugar e adoecem e eu concordo com elas muitas vezes e faço o mesmo. Me ouvi cantar outro dia e só ouvi gemidos. Tentei tirar uma música no ukulele e fiquei frustrada por meus dedos não saberem o que fazer, mesmo que o tempo que eu tenha dedicado pra aprender tenha sido ridículo. Meus textos aqui também não são tão bons quanto costumavam ser (ou como eu costumava a acreditar). Meu trabalho se divide em limpar e brincar e a parte de brincar é a que tem sido mais difícil. Foi aí que eu vi uma completa perda de beleza. Beleza em tudo, falta de se divertir, falta de ver essa beleza boba e sentir vontade de sorrir e agradecer. 

O que por outro lado também me faz sentir muito ingrata. Eu sei que tenho uma vida privilegiada. EU SEI. Eu moro numa chácara cheia de verde, cheia de silêncio e animais que eu amo. Moro com minha família, que apesar de todos os pesares, a gente convive bem. Vejo famílias por aí, até dentro da minha própria árvore familiar, que vivem em pé de guerra diariamente. Temos várias questões aqui, algumas mais sérias do que outras, mas a dificuldade de conviver tá muito mais relacionada a minha inteligência emocional do que com qualquer outra coisa. Cada um tem seu tempo e seu aprendizado, seu caminho. Mas as vezes eu me deixo ferir com tudo isso. Eu também tenho um trabalho que me permite ficar em casa pra fazer o que eu quiser. Um trabalho que sinceramente eu já gostei mais, mas que ainda é muitíssimo melhor do que estar presa a um cubículo por várias horas todos os dias. Tenho tempo para ler, para limpar a minha casa do jeito que eu quiser, pra tirar uma soneca, pra inventar uma moda qualquer, eu só não faço isso.

Eu gosto muito de um aplicativo de troca de cartas, e foi lá que esse sentimento de ingratidão ficou bem evidente. Muitas pessoas contando sobre seus trabalhos, suas vidas e ficou muito claro o quanto eu sou mimadinha, com a faca e o queijo na mão e um coração bem ingrato. Mas não tem caixinha nessa vida que seja garantia de felicidade e saúde mental. Cada qualidade tem seus desafios. Já conheci gente lindíssima que tinha problemas sérios justamente por isso. Gente de muita grana com problemas enormes. Então vou me proteger aqui e dizer que tá tudo bem eu ter essa vida "que todo mundo pediu a Deus" e ainda assim estar sofrendo tanto e por tanto tempo. 

Talvez se eu tivesse mais liberdade financeira eu não fosse tão noiada. Mas esse é mais um daqueles tópicos que podem ser tanto uma liberdade como uma agonia. Pode ser que eu fique milionária e ainda assim continue tendo meus episódios. Um dia a maioria dos meus gatos vai do lado de lá e ainda pode ser que eu me sinta sobrecarregada com as atividades. Depois que eu ouvi sobre o COMO eu comecei a pensar muito sobre isso. Tem tudo a ver com o como a gente age, reage, como a gente decide levar a vida. Apesar de saber que tudo é decisão, todas as nossas decisões são emocionais. Então levantar de manhã e decidir ter um bom dia também depende que você tenha acordado se sentindo preparado para um bom dia. O que me faz pensar pra que a gente acorda decidindo não estar preparado para um bom dia, mas é assim que tem sido aqui. É triste. 

É muito triste quando as coisas perdem o gosto, quando as atividades mais queridas não tem sentido. Quando simplesmente a cabeça não consegue mais imaginar o lado arco íris da força. Nas insônias criativas frequentemente eu estou pintando alguma coisa, mas veja quantas coisas eu parei pra pintar, zero. Tenho uma cortina que ficou uma gracinha e ela está esperando a segunda parte e a coitada tá aqui, esperando atenção faz meses. 

A sensação é que absolutamente tudo me cobra. Os gatos me cobram carinho, atenção, força de vontade. A casa me cobra olhar. Meu corpo me cobra cuidado. Falar com alguém me cobra abertura e disposição. Até me divertir me cobra alguma coisa. Isso deixou a vida pesada demais pra eu carregar e eu preciso resgatar essa criança retardada e brincalhona que tá brincando de esconde esconde tão bem que eu não encontro ela há muito tempo. Revisar e mudar o meu como. 

O problema é como, mas vamos lá. 

Até amanhã, quem sabe.

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