segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Entrevista

- O que você faz para viver?
- Eu canto, moça.
- Ah sério! Você tem cd, faz turnê, essas coisas? Eu devia te pedir um autógrafo?
- Não, não... ainda não. Eu tenho um emprego, se é isso que você quer saber. Mas pra viver, VIVER mesmo, eu canto. Tudo parece meio morto, meio xoxo quando deixo de cantar, sabe?

Jogo da vida

Então é assim: você fica no meio, aqui, enquanto todas essas petecas estão no ar, em volta. Você não pode deixar que elas caiam no chão, tá?
- Mas todas essas petecas juntas, como vou controlar todas ao mesmo tempo?
Eventualmente, uma ou outra, talvez até várias saiam do seu controle. O desafio é botar tudo em ordem de novo. E manter elas no ar. E levantar de novo quando for preciso.
- Peraí, mas essas petecas tem nome!
Tem, tem, como tem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A terrível face do Piti Azul

DEVE SER dura essa vida de quem se vinga: visão estratégica pra planos detalhados, planos alternativos (caso dê tudo errado), discrição e um bocado de influência. E paciência. E teimosia.
Tudo isso com cuidado para não estragar as unhas, não despetecar a biju nem escorrer a maquiagem.
São tantos detalhes, frases de efeito e contatos quentes. 
Que vida, né?
Qual será o segredo, massagem, pedras quentes, yoga (tem que ser algo chique - manguaça é coisa de perua mequetrefe)
Sei lá viu, todo esse desgaste...não saiu de moda?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não escrevi.

ESTAVA eu com meus botões
  a pensar sem compromisso
E diante dos meus olhos aparece um conto:
  pronto, inteiro, ali
  só esperando minha intenção pra lhe dar um corpo.
Mas ele apareceu tão triste
  que achei melhor não deixar que ele existisse.

Melhor amiga

- Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não sabe?
- Sei sim, mas eu não posso fazer isso.
- Mas ué, claro que pode!
- Tá... mas e como vai ser quando eu quiser te fazer uma surpresa?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

E no terminal

O ÔNIBUS levou dois capítulos para chegar. O sino da igreja já tava tocando (tô atrasada), o pessoal todo se esbaforindo
  aquela ôla de braços se cruzando sem parar. 
Só a cadelarada que não tava nem aí. 
  Seguiam bem faceiros de lá pra cá, ignorando a cara feia dos atrasados da vez...
A bruxa quando se solta não atinge os caninos.
Eu não tenho mais os meus. Eles foram arrancados por estética ou por espaço, coisa assim.
  Dai eu que não sou boba nem nada, levei uns peludos pra casa então, pra compensar.
Esse ônibus que não chega 
  Cê não bobeia, que eu quero mais é ir pegar bolinha, fazer careta pra pedir coxinha, e  brincar até o dia ir dormir...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Chegou aí?

SEMPRE TEM mais de onde veio esses.
  Cada canto de mim tem uma frase, um bilhetinho, um bilhetão - no armário aquilo que eu não posso esquecer, aquele enorme na parede é pra eu nem tentar (esquecer), e aquele elogio massa no espelho... você deve imaginar.
  As frases se pipocam pelas minhas gavetas e arquivos de texto, rascunhos de email. BLOQUINHOS! Tem como não amá-los?
As palavras vão saindo do que sou eu e grudando por ai.
  Onde dá pra escrever, eu vou escrevendo - na mão, no celular, no caderninho cheiroso que carrego na bolsa. 
  Às vezes é preciso esperar nascer uma nova idéia
  Esperar o acontecer passar pela janela do ônibus. 
Às vezes só faltava eu me dar conta. 
  Cavocar/catucar/futucar/ textos antigos, que já nem lembrava de ter escrito. 
  Ser paciente com os que precisam de tempo pra madurar (assim como eu). 
  Ser generoso com aqueles que só precisam de uma roupa nova.
E quando você ai pára pra ler esse pedaço de mim, esse pedaço se torna um pouco seu também. 
  Se virou sorriso, se virou beiço, pouco importa... chegou aí. 
  E assim eu me espalho...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Assim - 1

CHEGARA e revirara tudo de cima pra baixo
  minhas coisas, minhas palavras e minha convicção
  descobriu em mim um reflexo que juraria lorota


Me fez acreditar na sua lábia
  e naquela história que teríamos dali pra frente
Era tudo diferente do que eu já tinha visto
  mas no fim de tudo, ainda era eu
  nua e crua, sem artificios, sem jogos, sem truques


Era eu do jeito que sempre quis ser
  sem fingimento
Eu testava, falava e repetia
  ainda era eu, ainda estava certo


Ainda assim eu era igual a ele.

E de noite - 2

FOI ANDANDO pela rua
  mãos no bolso, na garoa
  começando o caminho para casa. 


Ele se fora com todos os mimos e cheiros 
  que levara de mim
  sem nem pedir licença


Das grades da janela pra rua eu via
  mais um daqueles moços perfeitos pra história de outros
  roteiro de filme
Voltar pro mundinho que lhe pertencia
 de onde era melhor nem ter saído. 

O silêncio - 3

CALARA então a presença dele da sua voz
  buscou outros assuntos para passar o dia
(pra deixar o dia passar)


Mas a falta que ele fazia
  fazia também quando era só o silêncio
(e era silêncio em quase todo lugar)


Então da quietude que pairava
 ela guardava o que já não podia ouvir
 pra mais tarde, pode ser.

Uma página velha - 4

QUANDO resolvera então limpar tudo o que lembrava ele
  jogou as gavetas, sentou no chão, releu as cartas


E reviveu aquelas palavras que um dia dedicara a ele.
Rasgou em pedaços e jogou tudo fora (como outrora ele fizera com ela)


Esperava um dia não se sentir tão cuidadosa
  e poder sentir de novo essa inocência.
Essa leveza de estar completamente,
   cheio

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

só de sacanagem

HOJE eu dou a volta por cima
  porque cada lagrimazinha que derramei no chão teve valor.
Porque a junção de cada uma
  cada desespero que me rasgou, de novo e de novo
  também me remontou, de novo e de novo
Até que eu ficasse assim, como eu sou hoje.


Quando eu choro, eu deixo chorar
  porque talvez ainda seja preciso rasgar e remontar
  pra eu ser aquilo que vou ser amanhã.


Eu hoje dou a volta por cima
Até porque se eu desistisse
  as lutas que tive não teriam mais valor
Seriam tolas, pra chegar a lugar nenhum


Mas eu cheguei aqui, e isso vale alguma coisa.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Como pode um peixe vivo...

NO ESCURO é difícil ler.
Mas eu tava tentando, enquanto esperava meus amigos chegarem no bar onde insistentemente fui convocada a estar.

Eu obviamente estava um pouco deslocada - eu vim com um objetivo  - eu repetia e repetia pra que eu mantesse a calma e a postura sentada naquela cadeira, sem ceder ao ímpeto de voltar um pouco desesperadamente para minha casa.

Toda aquela conversa toda aquela risada e declarações públicas de amor estavam desconcentrando um pouco o que já estava difícil - ler.
Então fechei meu livro e puxei um caderno da minha bolsa pra anotar tudo aquilo que eu estava pensando sobre aquele lugar - e acabei pensando muito. Tantas pessoas diferentes em idade, profissão, hábitos, motivações, diferentes em maneiras de se fazer divertir, todas ali, reunidas como se fossem iguais (pois estavam todas fazendo a mesma coisa)

Então eu anotava e ria e anotava, encostava olhava e anotava, e foi como se uma luz pairasse sobre mim, fazendo descobrir minha verdadeira identidade - como a Xuxa ou um alienígena laranjado - porque todas as cabeças mais atentas do lugar viraram em minha direção.


Eu obviamente estava um pouco deslocada, como eu disse.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

improviso

Pensamentos vizinhos conversando ao olhar o movimento em volta da praça:
- Uma provável conversa entre aqueles três lixeiros parados ali, tá vendo? O que eles podem estar conversando?
- Eles podem estar conversando sobre qualquer coisa.

- É... provavelmente estão.

marionete

Eu não sinto sono.
Ele é quem me sente. Eu sou dele agora.
Desde que passei por aquela calçada meio clara demais hoje de manhã. Eu quase pude perceber o momento em que ele ia me tomando conta, pelos pés e subindo.
E então senti meu corpo se rendendo àquele controle, as pernas, braços amolecendo no ritmo das minhas passadas. E então ele tomou conta dos meus olhos (que ficaram vermelhos), do meu humor, que nem era grande coisa já) e finalmente, da minha cabeça (que quase caiu).
Eu sou dele agora. E eu continuo andando pela calçada branca.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

e quando a gente não vê

Gratidão é quando nasce um dia bem lindo pra você, você repara, e ainda dá o seu melhor pra que ele continue lindo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Segure firme

A inspiração é um balão de gás hélio muito maior do que seu corpo.
Ou você o solta e o deixa ir embora (voando)
Ou você voa com ele.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

uma cordinha



Era um barquinho miúdo amarrado ali naquele lugar
Amarrado ali, como se sempre dali tivesse sido parte.


Batia o vento, chegava e ia embora toda aquela gente
Que ficava de um lado pra outro o dia inteiro
Ele se esticava como podia pra dar uma espiada (também queria ir pro outro lado)
E o barquinho ia ia até sua corda puxar (e dizer chega)
(e ter que voltar)


Então ele sonhava com o aguaréu do mar
Sonhava em se perder de tanto olhar praquele azul (o sol a liberdade e uma boa música de fundo)


Quando abria os olhos parecia tão real o que ele tinha sentido (estava tão ali aquele mar)
Podia sentir como era. Podia ir até lá, não podia? (e porque não?)


Nunca lhe disseram o porque não. Talvez fosse por ele ser assim, miudo. 
Então só restava pra ele voltar pro seu cantinho, miudo.
Era assim.


Ilustração do Ceó - http://frasesilustradas.files.wordpress.com