segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Hulk is coming

 Acordei sentindo um negócio diferente hoje - raiva. Eu sempre tive uma visão bem negativa sobre a raiva, especialmente quando na minha cabeça eu arremessava vários copos na parede e quase conseguia sentir o alívio que isto trazia. Nunca joguei nenhum copo, mas já tive vontade muitas vezes. Sempre achei essa força destrutiva, malvada mesmo. Como se isso fosse me tomar um dia e me fazer cometer os homicídios que eu tô devendo pro mundo. Não fez, apesar de saber que com a motivação certa, eu certamente faria - mas esse é outro assunto.

Com o passar dos anos eu fui fazendo as pazes com essa raiva. Fui vendo que a força que a raiva me trazia não necessariamente era maligna. A raiva me fazia sacodir e executar, andar pelas minhas próprias pernas, nem que fosse pra esfregar na cara de alguém. Vários problemas nessa parte aí, eu sei. 

Eu ando num estado de indignação constante. Não consigo mais consumir redes sociais e fazer de conta que alguma coisa daquilo é de verdade. Seja a facilidade de "mudar sua vida", seja a alegria forçada, seja a violência descarada. Eu não tenho interesse de viver em um mundo que não entenda o leve. E mano, as pessoas estão descontroladas. 

Talvez esta nem seja a melhor escolha de palavras, porque ser "controlado" também não é algo que eu considere desejável. Mas ver as pessoas surtando, gritando, ofendendo por motivo nenhum é um troço que me consome, que me fere. Acabei de sair da mesa do café e já ouvi dois surtos diferentes. Não sou nenhum modelo no que se refere a controlar a língua, mas temos um limite aí. Tem que ter um limite, pelamordedeus. 

Tirando a utopia do mundo leve de lado, será que as pessoas simplesmente acham que isso é bom, que isso vai levar elas a algum lugar ou simplesmente adotaram esse modus operandi porque vivem no automático? Será que não tem nenhuma célula dentro delas - um watt resistente - que tenta buscar leveza dentro delas? Ou será que tá todo mundo tão doente e descontrolado que é isso que elas tem a oferecer? Mas de novo, não tem uma merda de um watt resistente ali?

Minha resposta automática pra isso é a raiva. A raiva que me faz querer me isolar, isolar minha casa e botar em prática as minhas regras. 

"Aqui dentro a gente ouve música e dança de meias" - ou a atualização disso, descalça porque agora eu moro na praia e nem preciso tanto assim de meias. 

"Aqui dentro a gente faz as coisas devagar e com carinho" - e faz o que dá, porque tem dias que não dá e não vale a pena sabotar o pingo de saúde mental restante pra dar mais um "check" na lista de tarefas. 

Essa coisa do devagar e com carinho talvez até seja alguma chave, porque eu percebi que quanto mais a gente fica olhando pro relógio, quanto mais a gente se preocupa que não vai dar tempo, menos tempo a gente tem. Mais atropeladas as coisas ficam. 

Mas toda vez que eu consigo botar em prática minhas regras de convivência me sinto o meme da Namariabraga dançando na frente do incêndio. Enquanto eu tô aqui dentro miando alguma música e botando ordem na vida eu vejo o caos e gritaria pela minha janela (as vezes literalmente).

Só que eu simplesmente tô contaminada demais pra seguir minhas próprias regras. Acho que é aí que o meu Hulk interior fica puto e quer sair. Porque isso é uma violência comigo, com os meus valores e meu jeito de viver, de me cuidar. Então eu sinto raiva e também sinto vontade de chorar, mesmo que as lágrimas nunca caiam. Porque eu quero desesperadamente - e no sentido literal mesmo de desespero - quero viver de um jeito leve, porque é absolutamente possível resolver a lista de babados diários na leveza, com tempo e bem feito. Com carinho. 

E é com muito carinho e consciência desse momento que eu quero mandar todo mundo tomar no cu. Quer matar um leão por dia? Vai. Quer fazer dancinha na internet pra ganhar uns likes e se sentir especial? Vai. Acabei de pensar em outros exemplos aqui que eu simplesmente não consigo escrever "'vai", mas eu também sou militante do seu direito de fazer absolutamente o que você quiser, o que talvez invalide tudo aquilo que eu já escrevi. Mas sim, faz o que você quiser, mas eu também tenho direito de achar triste tudo isso. O direito de não querer viver igual, o direito de querer distância de tudo isso. Eu só rezo que num mundo tão cheio de confusão, eu tenha inteligência emocional pra deixar as pessoas fazerem o que elas querem, mas sem me deixar contaminar por isso. Talvez isso faça de mim uma pessoa horrível, talvez seja só porque estou totalmente sem energia pra lidar com isso de um jeito melhor, não sei. Mas isso com certeza me faz querer ir morar ainda mais longe e desfazer minhas redes sociais. Manter contato só com quem interessa. E definitivamente sem noticiário. Será que é tarde demais pra comprar uma ilha?

Minha vontade de mudar o mundo morre na casca nesses momentos em que não consigo nem mudar meu próprio mundo interior. E se a gente não consegue nem isso, a gente tá realmente preparado pra fazer algo por alguém?

Conheço gente que assiste missa na televisão todos os dias, vive com o terço na mão e é absolutamente surtada. Reza todos os dias "pra aumentar a vibração do mundo", "pra ajudar na transição planetária", mas não consegue ir ao mercado sem reclamar ou julgar alguém. Mano, isso me deixa puta. Isso me deixa triste e isso me deixa revoltada. 

Não sei exatamente como terminar esse pensamento, nem como começar a desenrolar essa maçaroca. O que eu sei é que eu vou colocar meus fones e ouvir uma música e usar a força dessa raiva toda pra fazer algo de útil por mim antes que ela vença de novo e me coloque exausta, dolorida e rendida na cama, como tem sido. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe. 



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