quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Festividades ligeiramente apocalípticas

 Realmente, ontem fiz muito mais do que achei que daria conta. Tive que dormir no meio do caminho, mas depois foi que foi. Hoje eu só quero ficar paradinha e assim permanecer. 

Um pouco porque tive um sonoro despertar com Quito e Severino se embrenhando nas cortinas, rosnando e se unhando, 5:45. Levantei e coloquei o Quito pra fora. Separei a Bigi pra dar a comida dela que é diferente dos outros gatos, coloquei o Severino no gatil. A Pérola fugiu duas vezes do quarto porque queria a comida da Bigi, que por sua vez não queria a própria comida e quando voltei do gatil, ela já tava acabando com a comida da amiguinha. Ela come porção controlada porque está com cistite e eternamente de dieta. Coloquei água para esquentar e fui abrir um café cremoso que eu ganhei, que imediatamente explodiu na minha blusa, mãos e pia. Aí fui provar o café e provavelmente o ranço entrou em ação nesse momento, porque achei bem ok. Liguei o computador enquanto novamente a Bigi tentava comer a comida que não era dela, ao mesmo tempo que eu tentava convencer a Muga de parar de comer sacola e vir comer o caralho da comida que eu coloquei pra ela. O dia começou festivo. 

Mas já passa. Já vai passar e logo desce a disposição pra eu continuar o que comecei ontem. Tenho fé. Se nada der certo, vou ler meu livro. Quero encerrar o ano com 130 livros e ainda tô no 128. Não quero terminar o ano num número feio, até porque provavelmente não vou ler tanto assim nunca mais na vida. Acho que não mesmo, aliás, eu espero que não, considerando que eu só li esse tanto porque passei muito, mas muito tempo deitada na cama ignorando a vida. Então eu espero humildemente que não. 

Hoje já não acordei tão corajosa quanto ao meu trabalho. Enquanto estava na cama tomando coragem pra levantar, achei um perfil que fala de gatos com uma proposta massa, mas vendo os comentários já me bateu aquele ranço. O perfil tem menos de um mês e muitos seguidores mesmo. Mas é aquela coisa, vídeo informativo, cheio de edições e coisa assim. Eu gosto de me expressar por foto, por texto. Mas nem vou me alongar muito aqui pra não dar trela pras minhas amebas. O foco no momento é o pet sitter e é isso, até que eu trabalhe isso melhor em mim pelo menos. 

Preciso melhorar a vibe desse dia. Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Feito foguete

Hoje acordei me sentindo como se eu pudesse dar um jeito na minha vida, mesmo sabendo que não é assim que as coisas funcionam. A vida não é uma coisa que você vai lá e resolve, eu sei.

Mas acordei com aquela disposição de mudar alguma coisa e provavelmente vai ser algo bem besta como faxinar e mudar alguma coisa de lugar. Nada melhor para clarear a mente como deixar as coisas organizadas, eu preciso começar por algum lugar, afinal. 

Eu vou fazer isso, organizar aqui me dá uma mínima sensação de controle sobre minha vida, mesmo sabendo que tem 29 gatos que pensam que organização é algo a se subestimar. Vou começar por aí e ir desenrolando. 

É isso, me deseje sorte

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Querência das braba

 Meu Deus que parece que quanto mais eu durmo, mais cansada eu fico. 

Acordei super disposta hoje a voltar a dormir. Se eu conseguisse, até tentaria. Mas tõ aqui bravamente tentando um ritual de invocação de disposição, porque senhor amado, dói tudo e a fadiga tá de matar. Hoje três dos quatro grupos de hóspedes vão embora e tem o último pet sitter, então basicamente já posso me considerar de férias. Férias, haha. Como se eu trabalhasse tanto assim e como se mesmo sem um trabalho que me pague, eu não trabalhasse tanto todos os dias. Mas vocês entenderam. 

Para o Ano Novo tenho exatamente nada de clientes, o que por um lado é bom, porque eu nunca curti ficar esperando o reloginho virar, me massacrando para ficar acordada até a noite. E também é bom porque a grande esmagadora maioria dos hóspedes tem medo de fogos, e aí eu TENHO que ficar acordada até bem mais que meia noite pra ficar vendo como eles estão e acudindo os desesperados. Aqui no interior não tem muito, mas tem... poucos dos meus filhos aqui tem medo, então é bem mais tranquilo e dá pra ficar de boa. Eu lembro que teve um ano que a gente tava tão cheio de hóspede, que nós três ficávamos fazendo ronda a toda hora, com os vidros fechados, ventiladores no talo pra abafar o barulho e também pelo calor, musiquinha relax, algodões no ouvido e foi um caos. Era sempre um dia muito longo, porque a gente já tava na lida desde muito cedo e não tinha hora pra dormir. Dessa parte eu não tenho saudades. 

Mas né, sabendo que o povo gosta de festar no Ano Novo, é meio triste saber que ninguém dessas pessoas lembrou da gente. Mas tudo bem, me aguarde. Eu vou levantar essa baiuca de novo e se Deus quiser daqui um ano vou ter que chamar até gente pra ajudar. Ou quem sabe aconteça algo completamente diferente e eu esteja feliz da vida vendendo limonada. A vida tem dessas surpresas. 

Vamos ver se hoje eu volto a estudar minhas coisas, transcrever meu curso e ver mais um pouco daquele do Neilzin. Eu tomo cuidado com esse porque é eu ver aquele bagulho, me dá uma vontade louca de escrever - ou seje, não posso assistir aquilo em qualquer horário remotamente perto da hora que eu pretendo dormir ou é insônia na certa. E tem duas noites só que eu tenho dormido direito, não quero abusar da sorte. 

Eu me acho meio retardada porque quando eu começo a ficar bem, eu quero fazer tudo e quero fazer tudo ótimo. Isso é um perigo, porque querendo fazer tudo ótimo, eu provavelmente vou começar a procrastinar e ficar frustrada e acabar não fazendo nada porque me cobrei muito. Então o foco ainda está sendo transcrever meu curso, erguer meu negócio - ainda que tenha um monte de ações pra isso que eu nem parei pra pensar direito. Mas tudo isso enquanto mantenho os pratinhos girando por aqui. Então não quero inventar muita moda, tenho que dar uma segurada, porque quando eu tô assim eu acho tudo interessante. Quero aprender a tocar meu ukulele, quero melhorar meu canto, quero voltar a escrever meus contos, quero deixar a casa em ordem, quero tomar minha tintura direitinho, quero dar as tinturas específicas pros gatos que precisam (e aqui entenda que pra isso eu preciso isolar esses gatos em cada tomada), quero terminar minha cortina, quero fazer a fonte verde, quero fazer o curso que eu achei do Neil, quero ler mais sobre ocultismo, quero ter clientes a ponto de ter uma segurança financeira e quero ter tempo pra ler meus livros. Várias coisas dessas são pontuais e poucas são obrigações, e nem quero que seja. Quero respeitar meu tempo, meu processo, meus dias ruins e tudo isso. Um dia eu consigo, no outro não e tá tudo bem, tem que estar tudo bem. É uma cobrança ridícula que já deu mais do que hora de eu me livrar. 

Mas é isso aí, me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Cura milagrosa de 200 fios 100% algodão

 Se existe milagre neste mundo, é o milagre de uma boa noite de sono. 

Os passarinhos cantam, o sol brilha, as folhas estão verdes lá fora e até meus gatos estão sossegados. Aleluia meu pai. Ontem foi o última dia dos dias mais corridos e hoje a correria é pra desfazer os arranjos. Tutores vindo buscar seus pimpolhos, eu e Possante se embrenhando nas quebradas pra levar os outros pimpolhos pra casa. Tô visivelmente menos agitada. 

Ontem comecei a ler um livro novo, depois de finalmente ter terminado aquele que fiquei lendo a semana toda. Eu já tava de saco cheio, parecia que a história estava se enrolando, mas não sei se é porque estava mesmo, ou porque eu só tava conseguindo ler pouca coisa por dia. Além do pouco tempo, eu estava muito cansada a noite e quando ia ler, já estava caindo de sono e não conseguia prestar atenção e tinha que ler duas vezes cada coisa pra conseguir captar a informação. Com a cabeça agitada eu não conseguia parar pra ler de verdade aquilo e ficava me interrompendo pra levantar fazer sei lá o que. 

Eu não sei se hoje vou conseguir voltar a estudar, talvez hoje ainda seja corridinho. Esses dias eu não estudei porque apesar do tempinho que fiquei em casa, não queria me cansar além do que precisava, mas não quero perder o pique da minha tarefa. Eu tô animada pra voltar e também começar as outras tarefas que me propus. Quero mesmo, de verdade, tentar levantar meu negócio de novo e fazer movimentar. 

Também decidi que vou tirar uma parte do meu ganho desse final de ano pra fazer umas prateleiras pros gatos. Das coisas que listei pra eles pra um futuro tão próximo quanto possível, essa com certeza é a mais importante, ainda mais com todos os quartinhos/isolamentos fechados com hóspedes. Eles ficaram sem lugar algum pra se esconder e alguns são muito medrosos. 

Ontem falando isso pra minha mãe, obviamente ela começou a questionar dizendo "mas você tem tantos nichos" e eu achei isso incrível, porque... a leitura dela é igual a de muitas pessoas que me ouvem reclamar do meu gatil. Eu tenho exatos 4 nichos e dois deles estão na parte onde tem os hóspedes. Ou seja, o "tanto" de nicho é apenas dois. E nem todos os gatos gostam, porque não tem rota de fuga fácil. Então minha idéia é fazer um circuito tão grande quanto eu puder pagar, pra além de aumentar o espaço vertical deles, dar rota de fuga (de mim, inclusive) e esconderijo pra esses belezinha. 

Queria muito ser muito cheia da grana, comprar um terreno do tamanho de um estádio de futebol e telar tudo. Plantar um monte de árvores de verdade pra eles subirem, fazer casinhas pelo terreno, plantar um monte de coisas legais pra eles comerem, cheirarem e se esfregarem... fazer um laguinho com aquelas carpas sem vergonhas, com uma cachoeirinha pra ver a gataiada fazendo zona. Grama... gente, como eles amam grama. Essa casa que eu moro me mostrou que eu mesma não preciso de muito mais do que isso aqui, pra mim. Se eu fosse adicionar alguma coisa aqui em casa, provavelmente faria um quarto ligeiramente maior e melhor disposto, mas de resto tá perfeito. Mas eles sim, eles precisam de mais espaço pra se esconder e ficar de boas curtindo um sossego enquanto os outros ficam chacoalhando seus coqueirinhos correndo e metendo o louco pela casa. 

Eu sei que eu vou morar aqui por um tempo, mas sei também que eu vou sair quando eu puder. Dai eu fico de novo naquela coisa de "será que eu invisto aqui", mas como no momento não tenho perspectiva alguma de sair, vou sim investir aqui, porque também tem o fato de quanto mais tempo eu ficar, menos provável vai ser minha saída. Não por apego, mas por causa da minha mãe. Cada vez ela tem mais dificuldade, tem essa depressão que ela se recusa a ver e por consequência fazer algo por isso, tem a relação péssima dela com a minha irmã. Nada disso é minha responsabilidade, mas eu não conseguiria sair daqui e deixar minha mãe com uma casa inteira nas costas pra lidar. Só preciso achar um jeito de ajudar sem que eu carregue ninguém, nem deixe minha saúde ou prazer de viver no balcão pra pagar essa conta. Não faço ideia de como fazer isso, mas eu confio que as respostas vem quando a gente precisa delas. Por enquanto vou viver o dia de hoje e agradecer pela noite de sono e pelo humor reconfigurado. E ler o livro novo que tá massa. E trabalhar um pouquinho. 

É, tá bom já. 

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Acordei um Grinch

 Olha lá, chegou o Natal. 

Eu não sei o que eu esperava que acontecesse no Natal. Talvez eu tivesse naquela esperança de ter um dia com aquela magiquinha infantil, a casa decorada, luzes piscando e uma vontade gostosa de comemorar. 

Eu acordei mau humorada hoje. Faz três noites que não durmo direito. Ou demoro pra pegar no sono ou acordo cedo demais ou fico acordando de madrugada... ou tudo isso junto. E juntando com a rotina desses dias que tem sido de dias completos, eu tô esculhambada. Enquanto eu escrevo pra tentar diluir esse veneno correndo aqui dentro, uma das minhas gatas quer comer e tá fazendo frescura porque os outros estão perto, querendo comer também. Todo mundo já comeu, mas estão cercando ela como se não comessem desde o Natal passado. Uma está de dieta e não pode comer mais do que a quantidade designada, aí o outro veio e começa a brigar com ela pra disputar. E a gata que ainda não comeu porque tá de frescura, fica subindo e descendo dessa mesa, lambendo minha mão, meu ombro, o teclado e nem olha pra comida. Mal escrevi um parágrafo e já interrompi mais de cinco vezes. Não ajuda muito eu estar irritada. Também já sentaram no mouse e quase fecharam esta janela. 

Tirando minha óbvia ressaca de sono, tô cumprindo meus objetivos. Tô trabalhando com leveza, tô fazendo meu quase melhor e fazendo tudo o que precisa. Mas o Natal em si... tá difícil de engolir.

Não decorei minha casa nem minimamente, nada. Comprei um presente que eu nem podia porque eu de alguma forma consegui convencer minha mãe de trocarmos presentes e comprei um pra ela porque eu tenho certeza de que ela comprou algo pra todo mundo menos pra ela. Não foi porque eu podia ou queria, porque o clima tava péssimo, mas numa tentativa de evitar uma cara de cu e um clima de manipulação emocional. Super massa.

Mas tá tudo meio virado mesmo, eu acho. Tenho vivido esses dias no meu mundinho sem acessar os mundos paralelos, mas de vez em quando o pára raio fica desavisado e acaba pegando alguma coisa. Eu preciso dormir, pelamordedeus. 

O lado positivo é que hoje é o último dos piores dias, a partir de amanhã as coisas começam a ficar menos corridas, aí quem sabe minha cabeça desliga e eu consigo dormir. Mas por via das dúvidas, além da tintura da noite vou fazer um chá de sossega leão e tentar a sorte. Eu só preciso dormir, daí aguento o babado. 

Me deseje sorte, e sono.

Até amanhã, quem sabe

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Pessoal demais pra ser publicado mas que eu publiquei mesmo assim

 Caraca, é chegar essa época em que a gente fica na correria verdadeira que me bate umas coisas. 

Ao mesmo tempo que eu fico grata por ter alguns clientes, ainda que muito menos do que nos anos anteriores, me dá três tipos de negócio ao ver como isso pega na dinâmica aqui de casa. Minha mãe fica mega nervosa, fala alto, dá uns surtos, fica mau humorada, dramática e reclamona. A ponto de não existir mais respostas de "sim" ou "não", é sempre um discurso que se segue após uma pergunta simples e repleta de suspiros. 

Minha irmã, por outro lado, acha que tudo vai dar errado. Ela aponta para todas as possíveis falhas que podem acontecer, e bate o pé como se aquilo estivesse prestes a acontecer. Coloca vários impedimentos de horários, de rotinas, de gerenciamento de espaço, além de não contribuir com nada. Ela nunca cuida de nenhum hóspede que vem - ela mal cuida dos bichos dela o ano todo, é verdade. Não ajuda, só reclama, põe defeito e reclama que a gente não tá fazendo as coisas que ela queria que a gente fizesse por ela. 

Eu já levei pra terapia várias vezes como isso me desce mal. Meu trabalho já esteve melhor, já consegui em algumas épocas pagar por várias contas da casa além das minhas. Mas nunca senti delas o sentimento de "pô, que legal, o negócio tá fluindo" ou "massa, o que a gente pode fazer pra melhorar". Foi sempre um fardo, um troço pesado, um favor que elas estavam fazendo pra mim, mesmo na época em que todo mundo recebia dinheiro pra isso. Hoje em dia nem eu ganho dinheiro, tudo o que eu ganho vai basicamente para pagar as contas. Eu sei que eu mesma já dancei essa música várias vezes, me sentindo completamente igual, mas eu consegui ficar consciente disso e tentar reverter. Afinal é o trabalho que eu já tenho, já existe, já sou conhecida e procurada por isso. Então quem sabe vale a pena investir um pouco mais nisso aí pra ver se ainda sai alguma coisa boa. 

Não sou contra ninguém ir buscar seus caminhos, mas me dói o fato de ninguém nunca ter cogitado esse trabalho como opção, sempre soou como um favor feito a mim, mesmo. E em outros momentos ouvi minha mãe falando pra gente pensar em algo para trabalhar juntas, e dai eu penso... mas que raios? Porque não isso? Porque não tentar fazer isso dar certo, assim de coração? Metade da porcaria do trabalho é brincar e ser feliz, caceta. Ninguém precisa relar numa planilha se não quiser. Eu mesma não faço uma planilha há anos. Nenhuma delas tem que dar aquela rebolada para conversar com tutores exigentes, chatos, as frescurinhas que sempre aparecem e que a gente tem que sorrir e acenar como em qualquer trabalho. E dentre as opções acredito mesmo que a nossa não é tão ruim assim, podia ser muito pior. Se eu fosse obrigada a passar meus dias num escritório com certeza eu viveria muito mais irritada com tudo. Tirando essa semana de Natal e Ano Novo, a gente faz nossos horários, temos tempo pra nós, não tem chefe, não tem várias coisas que o mercado de trabalho normal tem. 

E certo, eu passei um ano e meio sem divulgar esse trabalho, então o volume diminuiu drasticamente. Mas é algo que bem feito, pode sim dar dinheiro e ainda ser algo divertido e leve. Essa constante rejeição bate em mim as vezes e eu fico me sentindo uma bosta. Como se eu tivesse atrapalhando todo mundo, porque todo mundo quer só que o dinheiro venha enquanto segue jogando gardenscapes ou lendo mangá. Isso me irrita num tanto que não tá escrito. A sensação que eu não sou suficiente, competente ou agradável, independente do que eu faça. Isso me dá uma vontade do caralho de sair e me virar sozinha, mesmo sabendo que nesse momento isso não é uma opção e nesse momento eu dependo ainda delas, inclusive para trabalhar. 

Porque enquanto eu tô lá na rua, nas casas atendendo, alguém tem que ficar aqui recebendo os hóspedes que vão chegar, alguém tem que estar em casa no horário do remédio das crianças que estão aqui. Aí eu acabo fazendo das duas uma: ou eu assumo todas as tarefas possíveis porque tô puta mas tentando manter a pose, ou eu largo de propósito algumas tarefas e deixo elas bufando - enquanto eu tento também manter a pose. Nos dois cenários eu acabo drenada em algum ponto, durante esses dias ou quando eles passam. É por isso que eu queria acabar com o hotel e mudar de trabalho para algo que eu fizesse sem elas. 

Pra fazer o hotel oficialmente eu precisaria construir e até nisso a gente não concorda. Porque se for pra construir algo que os hóspedes não fiquem bem de verdade, eu não quero. Eu sei que sou meio megalomaníaca e queria um baita hotel com quartos amplos cheio de bagulhada e áreas de recreação perfeitas em que a manobra dos animais fosse mais fácil. Eu sei das minhas condições financeiras, mas eu também tô ligada na maldição do provisório. O provisório fica pra sempre, e aquele espaço sem atrativo nenhum acaba fazendo exatamente isso, não atraindo ninguém. 

Então aí fico nessa sinuca de bico, porque vale mesmo a pena pensar em economizar para construir algo massa se provavelmente a realidade desse hotel maravilhosos funcionando vai ser a mesma desse caos mal humorado que a gente já vive? Pra eu construir e ao mesmo tempo, conseguir pagar alguém... eu nunca consegui isso antes. Nunca consegui ganhar o suficiente para oferecer pra alguém um salário oficial que seja. Os salários distribuídos antes eram apenas as divisões dos ganhos. E aí eu mesma caio sozinha na armadilha do "eu não vou dar certo", de não ser suficiente, de não ser competente, etc etc. 

Mas o que eu tenho por enquanto é a opção de tentar manter a pose, sem fingir coisa nenhuma. Tentar de verdade levar esses dias mais leves e fazer o melhor que eu puder - talvez como uma última tentativa de pegar um ar antes de afundar esse trabalho para sempre, não sei. Mas o que eu tenho em mãos hoje é isso e eu vou agarrar com todas as minhas forças. Que Deus me ajude. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Bolas de neve no segundo dia do verão

 Olha, pra ser sincera tá dando tudo certo. Tá um caos aqui na cidade e de verdade já estaria mesmo se não fossem essas chuvas e o estrago que elas fizeram. Temporada, né? Enche de gente, as estradas ficam lotadas de gente apressada demais pra começar o sossego e que acabam desenrolando uma bola de neve de acidentes, carros parados e gente apressada inventando novos palavrões. 

Descobri um novo caminho para chegar no centro, então eu e Possante estamos indo até bem perto de onde Judas perdeu suas incansáveis botas já furadas, que é uma estrada muito bonita além de ser bem emocionante. Toda de barro com lugares bem estreitos e invariavelmente cheia de buracos. Ela passa por volta do morro, então é toda verde e tranquila, e eu fui curtindo aquela paz até que começaram a chegar uns apressadinhos querendo me podar - na estrada de terra, molhada e lisa e também esburacada. Pode ir, irmão. Eu não sou a pessoa mais lerda no volante, mas em uma estrada que eu não conheço e nessas condições, sem sinal de telefone pra pedir ajuda caso eu precise, não obrigada, eu vou devagar devagarinho. Possante já passou muitas aventuras nos últimos dias e o coitado ainda tá com a buzina fanha do mergulho do outro dia. Talvez eu devesse levar ele ao pediatra, mas Possante é um cabra forte, tem resistência e imunidade. Só Deus e eu sabemos o que ele já superou. Nem o mecânico ficou sabendo. 

Mas tá dando tudo certo, ontem foi bem corrido e quando chegou a noite, queria morrer dormindo, mas meu sono tinha outros planos e me deu uma insônia de presente. Acabei dormindo mesmo assim, umas duas horas depois, mas ainda sinto que eu venci essa. 

Daqui até o começo do ano vai ser assim, não sei o que eu vou conseguir fazer dos meus projetos pessoais, mas tá tudo bem. Meus últimos meses foram de especialização no Básico bem feito e é isso. As vezes nem tão bem feito e é isso também. Mas tô fazendo questão de tomar meu tempo pra cada coisa, me sentir ali ou aqui nesse momento, fazendo o que eu tô fazendo com quase tudo o que eu posso. Quase tudo, porque eu tenho que deixar uma sobra pro fim do dia. Acho que meus livros nunca duraram tanto. Faz dias que eu tô na mesma história e eu tô lendo uma sequência, então parece que eu tô num livro enorme. Nunca me intimidei com isso, mas é estranho estar num mesmo universo tanto tempo seguido. Isso não é bom nem é ruim, é só diferente. Meus dias estão mais longos e também mais curtos ao mesmo tempo, estar presente num dia totalmente preenchido, mais ou menos se ligando no horário mas também nem tanto, deve ser essa a razão. 

Por enquanto seguimos viva e confiante. E também estamos cansadas, mas vivas e confiantes. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

São Pedro no hospital psiquiátrico

 Ontem foi um dia bizarro aqui na minha cidade. Rolando o feed de notícias só se via água. Enxurrada correndo por dentro das casas, carros submersos, estradas alagadas e bloqueadas, teve até um incêndio gigantesco que fez os bombeiros tirarem todo mundo das casas da região por causa da fumaça tóxica. Abrigos improvisados, tratores resgatando pessoas ilhadas, um cenário de apocalipse de um filme meio tosco. 

Mas aqui pra mim, tenho certeza de que nos bastidores de tudo isso, tinha um São Pedro muito irritadinho quebrando copos pelas paredes do Céu, jogando tudo pelo chão como um astro de rock das antigas num quarto de hotel. Porque ali pelas tantas, a chuva parou do mesmo jeito que veio e o Sol apareceu como se só tivesse perdido o horário do ônibus para chegar no trabalho. Meu celular não despertou, ele disse. A gente sabe bem como a tecnologia nos deixa na mão na hora que a gente mais precisa. 

Hoje o dia está brilhando, as folhas estão verdes e felizes depois de tanta chuva. O pato foi embora junto com as garças, a procura de um novo toró para se esbaldar. Não julgo, o céu de uns é o inferno de outros. 

Então oficialmente começamos a temporada dos atendimentos de final de ano. Vai ser mais corrido que a minha rotina normal, mas também não vai ser nenhum descalabro. Talvez até dê pra eu continuar minha rotina de escrever e estudar diariamente, mas já deixei a disposição todas as colheres de chá para a ocasião. Vou usar disso como ensaio para ver se consigo trazer a leveza para esses dias mais pesados, ver se consigo manter o equilíbrio e a alegria quando sim, a população aqui de casa já está flertando com o modo surto. Bom, talvez nunca nem tenham saído desse modo. Tudo bem. 

Pequenos passos, pequenas metas, andar devagar e fazer uma tarefa por vez. De preferência seguir assim até que se faça tudo, mas se não fizer também, faço outro dia. Minha última meta desse ano é terminar o ano sem surtos e provavelmente essa é uma meta que vai se estender para todos os recomeços que eu passar, coincidindo com viradas de calendário ou não. É uma boa meta. 

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Sigam-me os bons

Jorge Ben Jor disse uma vez e disse muito bem - moro num país tropical. Além de ser abençoado por Deus e morar num lugar bonito por natureza, uma beleza, isso quer dizer que a chuva desce com uma vontade muito autêntica - e também dizem que pra descer todo santo ajuda. 

Esses dias de ausência foram também de muita emoção, mas emocionada mesmo eu fiquei quando por muito pouco fiquei com o carro parado no meio de uma inundação. Possante e passageiros passam bem, mas fiquei tremendo por quarenta e cinco minutos direto depois que chegamos em casa. Em um ponto entre a BR e a minha casa, tem um lugar que sempre inunda, um espaço de 10 ou 20 metros de adrenalina que só os fortes sobrevivem. 

Já na chegada da minha viagem a Curitiba, fui atender uns gatinhos e passando por esse lugar, suamos um pouco, mas passamos. Chegamos numa BR totalmente parada, mas com paciência e um metro de cada vez, chegamos ao nosso destino. Mas era na volta meus amigos, que a verdadeira emoção nos aguardava. Chegando no trecho fatídico, não 20 metros, mas pelo menos o dobro de trecho de inundação. Uma fila de três carros estava parada ali, o primeiro da fila dando a ré e desistindo covardemente do destino. Os outros dois carros cedendo ao clima de derrota e se alinhando ao canto da estrada. Mas o Possante nada teme, então encaramos a água e agradecemos mentalmente as nossas mães pelas aulas de natação durante a infância. Antes de enfrentar nosso inevitável caminho, proferimos palavras para os desistentes que podiam ser ouvidas tanto quanto incentivo quanto troça. 

SIGAM-ME OS BONS

E partimos. Seguíamos confiantes, o Possante dando braçadas vigorosas, os passageiros tremendo e orando para todos os santos que não estivessem com seus baldes na mão mandando água pra cima de nós e fomos. Quando estávamos pela metade, Possante quase se foi. Do seu pulmão mecânico cheio de água saíam ruídos de desespero, mas ali dentro os passageiros continuavam emanando suas palavras de encorajamento e confiança - vamo rapaz, vamo vamo vamo, o que injetou uma súbita descarga de adrenalina no Possante e finalmente ele conseguiu. Os passageiros respiravam aliviados, com tudo o que era tremível em seus corpos devidamente tremendo, aos berros comemorando a vitória com seu Celta incrivelmente 4x4 e ainda mais surpreendentemente anfíbio. 

Mas o encorajamento é uma força poderosa e transmissível e ao olhar pelo retrovisor, os carros que tinham desistido, faziam seus caminhos atrás de nós, dando buzinadas de comemoração e vitória. 

Não saio mais de casa tão cedo. Eu deveria estar indo até o centro neste momento, atender os gatos de ontem, mas graças a Deus a cliente tem uma vizinha prestativa que vai atender eles por mim hoje, então posso ficar ilhada aqui dentro de casa. E é assim mesmo que estamos. Piscinas naturais e cachoeiras se formaram no meu quintal durante a noite. Os gatis cheios d´água. Surgiu um pato do nada e ele tá bem feliz, como um pato na goteira. Juntou uma família inteira de garças, que já estão em clima de Natal e brigando umas com as outras por qualquer motivo. Meu quintal inteiro está embaixo d´água e nem que eu quisesse tinha como chegar até o carro. Bem, até tinha, só que nadando. 

Mas lembrando da última vez que isso aconteceu - nem faz tanto tempo, porque eu já escrevia aqui - eu tenho uma coisinha para agradecer. Apesar da bagunça, do caos que me espera se essa chuva persistir - por causas dos pet sitters de fim de ano, a semana de trabalho mais importante do ano pra mim - eu estou bem. Quis vir aqui antes para não quebrar meu ritmo, mas aquele sentimento que sempre vem me visitar em dias de chuva e goteira não vieram hoje. Não estou empolgadíssima para meter a mão na água suja e limpar tudo, mas também não tô sentindo nada que me impeça. Mais uma vez vou apelar para os meus fones para me ajudar na função. 

É nessas horas que eu consigo acreditar que eu realmente estou melhorando. Se é por causa da tintura que minha mãe fez, ou por escrever, ou sei lá porque, não sei. Mas tá funcionando e eu quero manter assim, acreditando e seguindo - até embaixo d´água. 

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Um bagulho meio esquisito

 Ontem a noite me bateu um negócio que até estranhei. Passei o dia tão agitada, fazendo as coisas, mas meio que fazendo cosplay de barata tonta, começando uma coisa pra largar ela no meio do caminho depois de ter começado outra e repetido este mesmo ciclo. Consegui concluir quase tudo o que eu queria, no entanto. Mas quando chegou a noite e eu fui sentar com meu livrinho, eu não conseguia ler, porque minha cabeça ficava indo longe a cada duas frases, e eu tinha que voltar uma página toda pra entender o que eu tava lendo. 

Comecei a ver um filme, pra ver se me ajudava a focar mais, mas é um saco ter que ficar interrompendo o filme toda vez que eu preciso levantar. Acho que tô mais conformada em interromper a leitura, me incomoda menos. Enfim. 

No final das contas, perdi um bom tempo no instagram vendo bobagens e foi aí que o bagulho bateu e foi inesperado. Senti uma agitação, mas toda diferente do que eu tava sentindo durante o dia. Senti um bagulho muito parecido com esperança e confiança. Minha mente foi reunindo a Assembléia e eles que já estavam em polvorosa, pior ficaram. A diferença é que dessa vez eram boas ideias, bons pensamentos. Pensamentos me dizendo que eu sou capaz, que eu consigo sim fazer um plano a médio ou longo prazo. Um plano que me dá esperança de viver uma vida mais estável e de talvez trazer pra mim aquilo que ando querendo faz tempo demais. 

Faz alguns dias que eu voltei a estudar. Pra falar a verdade eu decidi pela tarefa Hercúlea (ou seria Alcídica?) de transcrever o curso sobre gatos. São mais de 60h de vídeo, é trabalho pra cacete. Não ousei contar pra ninguém porque eu sei que a partir do momento em que eu "me gabar" sobre isso eu vou perder a disposição. E eu tô determinada a reter cada pedaço daquelas informações, porque eu tenho um caderno todo que eu escrevi enquanto assistia o curso pela primeira vez, mas muito se perde, né? Muito se distorce pelo nosso entendimento. E minha memória nunca foi lá muito memorável. Não pelo motivo certo, pelo menos. Então decidi por essa tarefa e continuo firme, fazendo todos os dias, igual aqui. 

É engraçado a súbita disposição que a gente sente sobre um assunto imediatamente após desistir dele. Foi assim quando eu fazia tricô também. Eu tava tão cansada e cheia de tricotar por meses a fio, fazendo peças que eu não queria estar fazendo, só porque tinha me comprometido com os clientes. Quando eu fechei a loja, passaram poucos dias e eu já estava lá tricotando recreativamente, animada e faceira. 

Eu não estou animada e faceira transcrevendo o curso, mas o sentimento mudou. Considerando que eu passei o mês de novembro inteirinho com o corpo completamente travado, emoções no fundo do poço e um ânimo já muito esquecido no canto do porão, decidir por uma tarefa tão grande como essa, que vai me levar meses, é uma puta vitória. Não tô animadissima em relação a isso mas também não tô com ranço, tô assistindo como se fosse a primeira vez, mas sem o chicotinho a espreita como foi antes. O chicotinho ficava ali do lado, esperando a informação vir e bater no meu peito me dizendo "você faz tudo errado, caralho". Sem chicotinho dessa vez. 

Eu ainda tenho aquela parte de mim que quer depois de tudo isso, fazer uma lista com todos os pontos em que eu ainda erro, e ir corrigindo um por um, ostentando cada check. Mas tem outra parte de mim, mais inteligente eu acho, que sabe que no meu contexto, é bem próximo do impossível fazer todas os requisitos serem cumpridos com sucesso. Não quero me cobrar demais. Quero sim dar o melhor que eu posso dar para os meus gatos, assim como já venho fazendo, e vamos considerar aqui que esse melhor nem sempre é a mesma coisa sempre. Saúde mental é um bagulho muito louco que caga com tudo. Mas eu tenho essa honesta vontade de fazer eles realmente felizes com uma vida rica e feliz, sem esquecer de me fazer feliz também. Talvez essa seja a tarefa realmente Hercúlea. 

Pois bem, ontem olhando o instagram, encontrei um perfil de catsitter muito honesto, simples e engraçado e me fez flertar um pouco com essa possibilidade. Encontrar a graça de novo dentro do que eu faço, encontrar a alma, a alegria, o humor.. e também a parte profissional e estratégica. Me deu vontade de estudar certos perfis que conheço, recolher informações e ver o que funciona. Acho que sou capaz, mesmo que o timing não seja propício por ser fim de ano. Fim de ano eu tinha que aproveitar pra fazer mais dinheiro quanto for possível, mesmo se eu me lascar um pouquinho. Mas talvez seja justamente o contrário, talvez o fato de eu só poder fazer esse estudo depois que o fuzuê do fim de ano passar, me dê o tempo e a calmaria necessária pra realmente planejar com tempo tudo direitinho. Eu tinha me dado 7 meses pra fazer a coisa acontecer, mas de verdade, eu posso me dar o tempo que eu quiser. Eu posso desistir ou posso tentar fazer dar certo, independente se leve 10 meses ou um ano e alguma coisa. Não precisa exatamente cumprir meu prazo. O prazo é bom pra botar as coisas em perspectiva, chamar pra ação, mas não precisa ser mais uma cobrança inútil dentro da minha cabeça já muito perturbada. 

Então vamos ver o que vai ser, vamos ver como eu consigo me manter mentalmente, vamos ver como as coisas vão andar. Mas por hoje eu tô sentindo essa esperança, essa vontade de agir. Tenho sentido há alguns meses a imensa vontade de viver, de sair desse buraco que eu vivo - no sentido emocional - mas quase nunca encontrava em mim a vontade em forma de ação, vontade suficiente pra fazer acontecer alguma coisa, porque sempre tava alguma coisa doendo, incomodando, agoniando. Ainda tem, claro, mas como eu disse, alguma coisa mudou. Espero que dure tempo suficiente. Espero que eu aprenda dessa vez. 

Mais do que nunca, me deseje sorte. 

Vou ficar ausente por uns dias porque estou indo viajar, mas provavelmente vou escrever algo no celular pra postar depois que eu voltar. 


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Diabética da dialética

 Se tem uma coisa que me irrita e muito é cu doce. Uma pessoa que se faz de mole e ofendida diante de uma situação que não poderia ser mais cotidiana. Talvez me irrite não só pela falsa fragilidade que a pessoa tá interpretando ali, mas pela falta de leitura da situação ser absolutamente real. 

A pessoa pega uma bala perdida no meio de uma conversa e reage na defensiva quando não tinha nada pra se defender. 

E eu não tenho dificuldade nenhuma em ignorar isso e continuar meu baile. Na verdade, é justamente o que eu faço. A irritação não passa desapercebida, no entanto, então talvez eu precise dar uma melhoradinha nessa minha ignorância. 

Hoje o texto é curtinho porque quero fazer um monte de coisas hoje. Não vai ficar ofendido você também por causa disso...

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Ouvi NOFX e fiquei rebelde

Textinho de emergência aqui.

Conversando agora aleatoriamente sobre panetones, a seguinte frase foi proferida:

A gente tem que seguir a tradição, é por isso que esse mundo tá assim, ninguém mais segue a tradição. 

Eu não me aguentei e na lata respondi "mas que pensamento burro hein?"

Obviamente eu recebi uma cara de olhos vidrados, chocada com minha resposta e emanando "você é uma decepção pra mim" por todos os poros. Eu fiquei olhando a cena, e minha cabeça foi rapidamente listando os argumentos. 

É claro pra mim que as coisas tem que mudar, e elas vão continuar mudando, porque elas sempre estiveram assim. Eu não sei que mundo ela projetou quando ela disse isso, mas é importante dizer que ela é bolsonarista então tradição pra ela tem um peso político muito forte, porque é onde eles tiram a desculpa pra todas as atrocidades que eles fazem acontecer.

The christian love their guns

Se as ideias nunca mudassem, ela mesma jamais poderia ter cursado a faculdade que ela tanto se orgulha. Provavelmente estaria até hoje trancada num relacionamento abusivo onde eventualmente ela iria apanhar ou se for puxar pela lembrança as ameaças, coisa bem pior. Ela também não poderia ter casado de novo com o amor da vida dela, diga-se de passagem. Esse estilo de vida que ela tem também não seria possível, porque largar o núcleo familiar e ir morar na praia com um monte de gatos é um guarda chuva de absurdos. Divorciada? Heresia. Um monte de gatos? Deve ser bruxa, manda pro forninho, aproveitamos e assamos uma pizza. Andar por aí com as pernocas de fora também não ia dar, porque deixar de usar saias eletivamente foi uma conquista do pensamento rebelde. Ela não poderia nem ir pra urna votar na merda do herói que ela clama e escolheu, porque né, mulher não pensa, tem que ficar em casa se arrumando pra aguentar o marido grosseirão (que é só grosseirão, abusivo é coisa moderna, então não pode. 

Mano, nem Jesus que é Jesus seguiu as regras. Não sei se você já ouviu falar dele, mas ele é até que famosinho nas redes sociais e tem uma credibilidade mais ou menos. Mano, nem ele. Jesus andava com as putas. Andava com os ladrões, abraçava os leprosos, tava cagando e andando pro povo que tava achando ruim. Ele tava preocupado se Maria ia aprovar a Maria Madalena como legítima norinha? Não, porque também Maria tava ligada que todas as nossas decisões tem seu lugar, todas elas levam para o nosso aprendizado. Alguns doem mais, alguns doem quase nada e deixam a gente felizão. Então que que eu vou ficar me preocupando com tradição? Se muitas delas são só coisas que a gente continua fazendo ou porque não sabe porque começaram a fazer isso e continuam fazendo só porque é assim, ou continuam fazendo porque são obrigados. 

Levar flores no cemitério no dia dos mortos é uma tradição. Uma tradição que não faz sentido nenhum pra mim, então eu não faço, mas eu cresci indo todo novembro ver umas lápides de concreto cheia de umas flor horrorosa de plástico. Mas dai tá tudo bem abandonar uma tradição se ela me convém, né?

Eu também odiava ser obrigada a passar a noite de Natal com minha família, mesmo que fosse um festival de cara de cu. Ninguém queria estar lá. Eu queria poder ter aceitado os convites que eu recebia, ir comemorar de verdade e ficar feliz de verdade numa data que é pra celebrar a alegria, a vida. 

Obviamente que eu sigo algumas tradições que eu nem tô lembrando agora que tô acalorada. Mas eu não sou contra que as tradições evoluam, que as ideias mudem. Se o mundo tá uma bosta agora, olha pra trás pra ver que ele nunca esteve muito melhor. Inclusive eu sou grata pela ausência de fogueiras para mulheres solteiras que compactuam com gatos, essa ideia eu particularmente sou bastante agradecida por ter sido alterada. Mas pensa nas ferramentas de tortura cabulosas que existiam, nos porões que eram o home sweet home dos sentenciados, pensa nas mortes estúpidas que houveram porque simplesmente não havia conhecimento sobre saúde e higiene e muitas práticas e matérias primas eram vistas como "do mal". Eu posso continuar falando um bocado sobre a importância que as coisas mudem. E tem uma frase que não lembro de quem é, mas que cabe muito bem aqui é "eu não tenho medo que as coisas mudem, eu tenho medo é que elas permaneçam iguais."

Intellectually sprayed

Se você olha pra trás e vê um mundo melhor é porque o seu contexto também era diferente. Provavelmente você tinha seus pais te protegendo do mundo e você não tinha lá muita coisa pra se preocupar com o mundo acontecendo lá fora. Viver sempre foi díficil, especialmente quando se tinha que ir pro meio do mato procurar comida e não tinha fogo pra fazer aquela lasanha. A vida devia ser especialmente difícil sem lasanha. Então o problema não é o jovem de hoje, não é o excesso de telas, não é o pensamento rebelde transgressor. O problema sempre teve aí, fazendo suas aparições em diferentes formas e nomes e épocas. O negócio sempre foi tentar viver o melhor apesar de tudo isso. Se adaptar, porque até Darwin já dizia que isso era legalzinho e talvez fosse interessante tentar essa parada aí. 

Be the victim of our own design

Os rebeldes tem razão. 

E o que isso tudo tem a ver com panettones? É porque eu queria comer o panettone de caixa azul no Natal e o verde no Ano Novo, mas não pode, porque é tradição. Verde é Natal. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe

Burnouts múltiplos e um céu cheio de estrelas mortas

 Todas as vezes que me deparei com a frase "cada pessoa é um universo" - e eu dei de cara com essa frase um bom tanto de vezes - minha cabeça logo viajava para o significado mágico da coisa. A palavra universo pra mim é quase sinônimo de mágica, magia. Como se as milhares de estrelas fossem pó de pirlimpimpim que vagam pelo céu, só brilhando e existindo e deixando tudo bonito, enquanto planetas de várias cores ocupam seu lugar decorando o Espaço. Mas a gente já sabe mais que isso, nessas alturas. A gente já leu, já estudou, já assistiu seriados suficientes pra saber que não é exatamente assim que a banda toca. 

Muitos daqueles pós de pirlimpimpins já morreram faz tempo, mas por alguma razão a gente continua enxergando a suas luzes. Mas se o meu Possante além de 4x4 e hibrido também fosse espacial, eu com certeza veria um verdadeiro caos ali em cima. Estrelas que explodem sem razão aparente, sóis com uma temperatura capaz de deixar o inferno se roendo e também um frio que curitibano nenhum jamais viu. Buracos negros que engolem tudo ao seu redor, silêncio, caos e vácuo. A biologia/magia da vida, aparentemente sem vida e ao mesmo tempo, vivendo desesperadamente. 

"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima." Existe uma correspondência entre as leis e fenômenos de todos os planos de existência e de vida. O microcosmo humano é governado pelas mesmas regras que o macrocosmo universal e vice-versa."

O caos, o silêncio, a beleza e a natureza na sua forma mais primordial, crua, explosiva. As mãos que seguram a marionete que chamamos de casa. Assim como é em cima, é embaixo, e agora entendo melhor o que "cada pessoa é um universo" quer dizer. 

O que eu sou, com minhas bonitezas e feiuras, minha leveza e o caos, a magia e a melancolia que habitam meu olhar. Tudo aquilo que é meu, mais aquilo que tomei emprestado daqueles que eu escolhi ter por perto. Meu gosto musical, meus rolês favoritos, meu jeito de conversar, meus livros favoritos que muito antes já eram favoritos de alguém, tudo isso eu peguei emprestado, eu aprendi tudo isso um dia, provei, gostei e coloquei no meu bolso pra usar mais tarde - e sigo usando. 

Eu sou e carrego um universo de coisas comigo - no sentido infinito - e todas essas coisas vão e vem em estações, algumas mais longas que outras. Não sei dizer pra que lado fica meu suposto Sol, o que rege minhas estações e me faz murchar ou florescer. Não sei quem o que ele é ou se existe e muito menos o que eu supostamente deveria fazer se um dia eu chegar a entender se isso existe mesmo. 

Mas se até as estrelas já aceitaram que não podem só ficar lá brilhando pra sempre, eu posso me acalmar e aceitar também que as coisas vem e vão e tá tudo na mais absoluta ordem mesmo dentro do caos. Se minhas explosões fazem acertar meus pedaços no meio da cara do outro, também meu brilho quando ele der as caras, vai fazer sua mágica. E talvez seja esse brilho resistente, que fica viajando anos-luz mesmo depois do bum! derradeiro, seja justamente o que vai me lembrar do caminho de volta pra mim. 

Eu não quero chegar a lugar nenhum com essa viagem, não tem conclusão nenhuma e a diretoria ainda tá lá deliberando se vão aprovar uma nova temporada. Só sei que podemos esperar caos, explosões, silêncios, calmarias e pó de pirlimpimpim. A embasbacadora beleza e a fúria do viver. 

Nos desejo sorte. 

Até amanhã, quem sabe. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Renas, bonecos de neve e luzinhas piscando bem brega

 Eu juro que tô tentando. 

Acordei as 5 da manhã, não levantei. Fiquei até as 6h lendo e quando levantei percebi que fui atropelada durante a noite. Terreiro né, amores. A dor sempre vem na segunda feira. Ok, tomei meu café, botei café pros pretos velhos, tomei meu adivino e esperei a coisa funcionar. 

Aí tive uma vontade louca de levantar pra colocar as coisas em movimento. Quero fazer algo pro Natal. Assar biscoitos, pensar em uma comidinha diferente pro nosso almoço. Quem sabe até posso presentear umas pessoas com os biscoitos. Eu gosto de dar presentes, mas é frustrante fazer isso quando se tem zero reais. Esse ano usei uma boa cota para dar presentes criativos sem gastar quase nada, então ainda tenho guardado uma forcinha e um carinho pra fazer umas bolachinhas. 

Mas olha, assim que eu fui espalhar a ideia pela casa, já vi a cara de "nossa mas vai fazer uma bagunça/ vai dar um puta trabalhão/olha a quantidade de louça que a gente já sujou ontem" que minha pica natalina broxou na mesma hora. 

Eu tô cansada, tô com dor no corpo, tô de tpm e continuo deprimida, mas eu queria fazer. Eu quero ser mais forte que isso. Vim aqui, limpei minha casa, acendi umas velas, fiz uma oferendinha pra ver se a coisa aqui em casa se anima. Faz três anos que não comemoro Natal, é sempre nós três cada uma com uma cara de cu pior que a outra, a gente come e volta pro quarto. Como se não tivesse nada pra comemorar. 

Tem, óbvio que tem. Se você pode olhar pra trás e ver que passou anos em sequência vivendo dias difíceis, é porque você continua na ativa, nem que seja pra reclamar deles. A gente tá vivo, tá todo mundo vivo, tá todo mundo com os pratinhos cheios. Nossa casa é uma zona, bagunça, pelo, ração e alguns fluidos pra todos os lados, mas é nossa casa. Nossa. Finalmente a gente não tá mais morando de favor esperando a hora que o dono vai ter um surto e tirar a gente daqui. Nossa. Ainda falta pagar um bocado, mas o papelzinho que diz "pode sentar sua bunda aqui que daqui ninguém te tira" já está devidamente em nossas mãos. 

Eu sei, não é assim que funciona, já falei aqui o quanto me sinto ingrata. Uma pessoa pode ser privilegiada o quanto for e ainda se sentir uma merda, e as vezes justamente por este motivo. O que me assusta é saber que mesmo eu tendo consciência, que eu tenho um transtorno diagnosticado, que eu faço terapia, que eu tomo remédio, que eu procuro manter minha rotina o mais mental friendly possível... mesmo com tudo isso eu tenho dias bem bizarros. O que me deixa de cabelo em pé com quem não tem essa consciência e vive achando que foi só um dia ruim e que a vida é assim mesmo. Tá, nesta altura do campeonato eu já sei que a vida não é só campo de girassóis e céu azul, eu sei, já entendi. Mas quando acontece em sequência, quando teu corpo tá tentando de mostrar de todo jeito que tem algo de errado... porque que a gente enfia isso num canto e deixa pra lá?

A galera aqui se ofende quando eu sugiro certas coisas. E aí se a pessoa não se ajuda, não tem o que a gente possa fazer. Só resta tentar achar um jeito de tentar viver bem apesar de tudo isso. Tem dias que eu consigo, tem dias que é fácil e tem dias que eu tenho que passar cada momento ligadíssima. Hoje é um dia desses. Mas eu ainda quero Natal. 

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe. 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Três quilos de molho de tomate

Os antigos diziam que a gente colhe o que planta. E é por causa da sabedoria antiga que hoje ninguém vai receber minha atenção total. 
Alguns meses atrás minha irmã começou uma horta. Plantou de tudo. Algumas coisas deram certo, outras nem tanto, mas algumas coisas deram certo demais. Eu digo certo demais quando de repente você se vê obrigado a colher três quilos de tomate cereja e dai você dorme, acorda e a horta continua parecendo enfeitada pro Natal com tanta bolinha vermelha. 
Peraí que vou lá mexer o trem.
Hoje já saiu uma panelada de caponata de berinjela, também da horta, junto com os pimentões e temperos verdes que colhemos. Como mesmo depois da caponata, ainda tem tomate pra caralho e estou cozinhando tudo pra fazer um molho pronto. Tem manjericão e alfavaca também. O cheiro tá uma delícia. 
Também estou colhendo com tudo isso um par de pernas inchadas de ficar a manhã inteira tirando talos, lavando, descascando e cortando um mundaréu de legumes e folhas, depois de ter limpado a casa, meu gatil e o gatil da mana que tá viajando. 
Do molho de tomate pretendo colher bons momentos no futuro, mas antes vou, amém Jesus, atender um cliente em Barra Velha. Geralmente não vou até lá, mas quem precisa faz o que precisa. 
Eu gosto cada vez mais dessa vida no mato. É domingo, hora do almoço e tudo o que eu consigo ouvir é meu peru Glumercindo dando show e uma passarinhada muito louca. 
Já volto de novo. 
Passarinhada muito louca, de verdade. Minha casa não tem forro, pelo menos nas áreas fora dos "containers", então a passarinhada tomou conta. Tem passarinho voando por cima da gente o tempo todo. Ontem um filhote caiu do ninho e meus gatos ficaram literalmente o dia todo ali na função de tentar pegar o filhote. Não tem como, porque é tudo telado com tela fina, mas ninguém diz pra um gato o que ele consegue ou não fazer. Então eles ficaram ali das 7 da manhã até a noite vigiando o pobre coitado.
Hoje enquanto eu cozinhava, eu vi de relance o Quito dando um mega pulo e uma passarinha voando baixo e dando na cara dele. Só segundos depois fui perceber que o Quito estava com um filhote na boca. Tirei o coitado dali assim que eu vi, mas tenho quase certeza que ele não vai sobreviver. Ele não voa ainda, então se não morrer pela abocanhada, vai morrer de fome. Mas eu achei um sarro a passarinha dando na cara do meu filho e dou razão pra ela, porque ele foi um sem vergonha de pegar o bebê dela desse jeito. O passarinho caiu de lá de cima e ele pegou, mas mesmo assim.
Quase que me esqueço da panela.
Não tentem fazer molho de tomate com camisetas brancas, ok? Espirra pra caralho e vai ficar parecendo que você acabou de matar um boi. Só tô dizendo.
Esqueceram de mandar o email para o Quito avisando que gato persa deveria ser pamonha. Ele provavelmente é o gato menos pamonha de todos os 68 gatos que moram aqui. Ele é o campeão invicto, serial killer licenciado que já matou ratos, aranhas, passarinhos e rãs em larga escala. Outro dia vi minha gata Bigi, que é de longe a mais gorda que eu tenho, dar um pulo muito alto pro peso dela na tentativa de pegar um beija flor ingênuo. Eles dois passeiam na horta todos os dias, pra emagrecer e chacoalhar as pelancas, então eles ficam sempre espertos porque sempre tem algo pra caçar. Acho divertido. 
Finalmente desliguei a molho. 
Um desavisado que ler isso aqui, pode até achar que cozinho muito, mas a verdade é que eu gostaria de cozinhar mais. Mas minha audiência aqui é muito seleta e eu sou aventureira demais pro gosto dessas freguesas. Quase fui expulsa de casa uma vez por fazer um refogado de casca de banana - que ficou divino, por exótico que pareça. 
Mas claro, aí eu fui perdendo a prática e hoje é bem mais trabalhoso conseguir acertar o ponto certo do tempero. As vezes paro pra pensar como eu me alimentaria diferente se eu morasse sozinha de verdade. Não tem muito o que me impeça cozinhar pra mim, eu tenho cozinha aqui dentro da minha casa, mas invariavelmente eu teria que compartilhar, o que faria minha mãe esperar que eu fizesse algo que todo mundo ia gostar. Então juntando a preguiça e tudo isso, não faço. 
Pelo menos por enquanto. Tem várias coisas que eu quero ainda botar em dia pra me sentir dona da minha vida. Meus dias tem sido de reflexão e planejamento, mas é bem esquisito planejar algo e saber que isso depende de alguns fatores que talvez não mudem nunca. Enfim, vamos seguindo esse baile. 
Me deseje sorte
Até amanhã, quem sabe.

sábado, 10 de dezembro de 2022

Malvada porém fofinha

 São 6 horas da manhã, eu acordei as 4:23. Fui dormir cedo ontem o que significa que eu não li muito a noite. São 6 horas da manhã e já tem um trator buzinando pras vacas saírem da frente para ele passar. Não sei que raios essa máquina foi fazer ali essas horas, mas se eu fosse a vaca chamaria meu rebanho pra dar uma assuntada no trator só por ter me acordado com uma buzinada na cara. 

Estão fazendo piada porque o Brasil perdeu a copa, dizem ser por causa do cara que jogou o gato da mesa. A piada é engraçada, o gato rindo no velório do Brasil e vários memes. Mas não sei se algum estúpido vai reacender a antiga ladainha de que gatos dão azar, são do diabo, gatos são traiçoeiros e essa merda toda. Nem dá pra dizer que essa lenda acabou um dia. Justo o gato que sempre foi sinônimo de fartura, prosperidade e fertilidade. A origem dessa história é muito mais legal do que a que conta como os gatos começaram a ser demonizados. E eu tenho que admitir que quando isso aconteceu, a humanidade se lascou com a peste negra. 

Mano, não mexe com a porra dos gatos. Não importa quão místico você seja e a visão espiritual que você possa ter dos gatos, deixa essa merda de lado. Ninguém sabe se eles podem realmente ter poderes místicos e vagar entre os planos e coisarada. E nem importa. Gatos são seres racionais. Assim como cachorros, cavalos, coelhos e... ratos. Todo e qualquer animal que tenha cérebro - incrivelmente o menos racional desses animais somos nós, porque sinceramente olha quanta merda que a gente faz. E também já foi provado que nem precisa ter cérebro pra ser considerado racional. Polvos e caranguejos também raciocinam. Obviamente, você não pode esperar que um gato escreva um soneto e use aquelas fórmulas matemáticas na sua rotina, mas vamos confessar - você também não usa. Eu nem lembro pra elas servem. 

Nossos cérebros são tão, mas tão parecidos, que até hoje os ratos são utilizados em pesquisas da medicina, pelo funcionamento, pela ação de medicamentos. Aquelas experiências de laboratório onde o rato precisa resolver enigmas só mostram o quanto a gente subestima a inteligência dos animais. Hoje e desde muito tempo já existem guidelines internacionais dizendo o que você deve fazer ou não com um bichinho, um guia do bem estar animal. Mas é lógico que jamais vão incluir os ratos nessa, porque se fizessem, olha a merda que ia dar. Então a gente continua achando que rato é praga, que rato traz doença, que rato é sujo e tá tudo bem matar eles. É mais confortável pensar disso do que acreditar que eles sentem, pensam e sofrem. Porque olhar pra eles como seres, como seres que tem raciocínio e emoções vai pegar pesado demais. Até você já levou doença pra algum lugar e ninguém deu uma vassourada na sua cara. Meu ápice foi ser fechada no meu quarto durante meu período radioativo, mas foi só. Já me ameaçaram de morte, mas acho que sou muito fofa pra ser realmente assassinada. 

Talvez não exista nada a se fazer por enquanto. Como esperar que o humano respeite (só respeite) seu em torno natural se a gente não respeita nem o coleguinha? Ou pior, não respeitamos nem a gente mesmo. Tem os mais evoluídos né. Aqueles que batem no peito juram de pé junto que já foram pra 5ª dimensão e logo depois vão dar uma intimada no padeiro porque não tinha mais sonho de creme. Inclusive não sei nem o que esse povo tá fazendo por aqui ainda. Não sei porque não morrem de uma vez e vão lá encarnar em outro lugar, virar anjo sei lá, porque pra cá eles não voltam mesmo. Aqui é bom demais pra eles. 

Entre os malvados assumidos e os malvados enrustidos, eu fico com os honestos. Pelo menos dali a gente sabe o que esperar. Um cara que calou todas as sombras na justificativa de ser melhor acabou criando a bomba nuclear emocional. E tem muitas esperando só a hora de explodir. Eu não sou flor que se cheire, aperta bem meus calos pra ver se eu não liberto o Hulk. Eu sou essa coisa fofinha, mas por dentro eu xingo igual marinheiro - pensando bem, não sei se eu engano alguém com essa, mas deixa pra lá. 

Ainda não sei como me deixar sentir, mas eu tô tentando não reprimir nada. Não vou sair xingando todo mundo que eu queria, o que é uma pena, mas eu comigo aqui dentro, tô tentando ser mais honesta. Não quero ser mais uma vítima dos meus abalos sísmicos emocionais. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

5 da manhã

 Deixa eu contar um negocinho aqui. São cinco da manhã agora, a gente vai ver o amanhecer juntos, olha que lindo. Bom, não exatamente o amanhecer, porque já tá claro, mas não o suficiente pra dispensar a luz acesa. Já faz um tempinho que estou acordada e tá tudo bem, porque eu fui dormir as fucking 8 da noite. Eu passei noites dormindo pouco e agora que consegui voltar a dormir, quero dormir até acordar. 

Meu corpinho é bem minha cara mesmo, quando dorme, dorme 8 horas bem certinho. Não tem essa de virar pro outro lado e continuar dormindo até meio dia. Se eu vou dormir mais tarde eu continuo acordando no horário de sempre, como se meu corpo já estivesse acostumado a minha própria doutrinação. Na hora de ir dormir eu sou vidaloka, mas pra acordar eu sou um reloginho. Exceto se eu tenho algum compromisso logo cedo e preciso contar com a minha astúcia matinal - aí não tem jeito, eu sempre "dormiria mais". O que é uma mentira descarada, porque, corpinho... eu te conheço. Você só tá fazendo drama. 

Ontem foi legal, plantei umas mudinhas que eu queria. Estou aos poucos fazendo um jardinzinho para os gatos (e pra mim também, oras), porque a gente adora e planta dá aquela cara de conforto, de lugar gostoso. Mesmo que aqui seja uma casa no meio do mato e tudo o que eu vejo pela janela é verde, ter dentro de casa é outro rolê. E os gatos adoram ter o que cheirar e eventualmente mastigar e destruir. Mas até que tá durando, eles estão cuidando bem. Mas pra isso eu preciso colocar lá quando as mudas já estão mais crescidas, então faço o berçário aqui dentro, que a turma de dentro é mais civilizada (as vezes). 

Eu vi uma guria que fez uma fonte pros gatos dela com plantas aquáticas e eu achei a ideia maravilhosa, porque deve incentivar muito mais eles a tomarem água. Todo esse processo tá sendo lento, porque eu vou tirando muda do meu quintal e esperando crescer, esperando um vaso vagar ou ter um dinheirinho pra comprar um vaso grande. Essa fonte verde aí na teoria precisa ser em um vaso de barro bem grande, porque as plantas aquáticas se alastram com facilidade e eu não sou assassina de plantas. Odeio ter que podar, então assassinar metade de uma planta porque ela se alastrou, não quero. Mas, o que eu tenho no momento é uma bacia de barro média, então vai essa mesmo. O objetivo é fazer alguma coisa, me dar ânimo fazendo alguma coisa. 

Mas logo a tarde eu senti o exato momento onde chegou uma voadeira mental da minha mãe. Na hora eu senti o alerta "corre daí" e fui pra casa. E sem surpresa nenhuma, a noite eu tava vendo uns pensamentos que queriam espaço na minha cabeça. 

Eu tentei escrever esses pensamentos aqui, mas eles são muito horríveis pra ficarem registrados, não consegui, apesar de serem uma possibilidade. Mas se a gente tem essa força criativa que nos move, a criatividade da vida é intangível e eu espero ser surpreendida por ela. 

Eu quero construir a minha vida. Eu tenho quase 40 anos e tenho a total sensação de que minha vida começou a pouco tempo, mas eu já comecei no meio do caminho - atrasada. Não tenho nada que me sustente além de um trabalho no momento falido, minha saúde mental/emocional é de chorar e o gasto mensal com meu estilo de vida "gateira extrema" é o mais enxuto possível - mas é de chorar também. 

Tem meses que eu não compro uma bala que seja. Não sou ávida consumidora de balas, mas dá pra entender o raciocínio. E pelo terceiro ano seguido, decidimos não ter Natal. Digo, comemorar do jeito que as pessoas comemoram. E acordei pensando em como poderemos fazer o Natal com um significado mais genuíno, porque é o que dá pra fazer e talvez seja uma oportunidade interessante. Mas eu tenho bastante certeza que vou precisar de força pra isso, porque eu provavelmente estarei sozinha nessa vibe. Eu não ligo de não ganhar presentes, claro, ganhar presente é algo super legal, especialmente quando é de alguém que te conhece e sabe do que você iria gostar. Mas tem aquela história do sapo na panela né, e enfim, você vai acostumando a não ganhar nada nunca. Físico, embalado num papel de presente, pelo menos. 

Mas eu quero viver esse Natal, resgatar o significado e o amor pela vida. Dentre a lista de objetivos desejáveis, vou começar enfeitando a minha casa, mesmo sabendo que vou passar mais tempo catando a decoração debaixo da cama por causa dos gatos. Ao mesmo tempo que isso me dá uma preguiça danada, catar aquelas caixas lá de cima, provavelmente cheias de aranhas, arrumar tudo pra depois ter que guardar. Eu preciso resgatar esses significados, essa magia, essa vontade de viver. 

Tenho passado esses dias melhores, mas o abismo tá logo ali pra me lembrar que não dá nunca pra não ter cuidado. Não dá nunca pra deixar de olhar pra trás e também olhar pra frente e pra todos os lados porque o próximo tombo pode vir de qualquer lugar. E se parece meio assustador viver assim, é porque é mesmo. Não tem drama nenhum, exagero nenhum. Quem já esteve lá sabe exatamente o cheirinho do fundo do poço. E esse cheiro eu senti ontem quando aqueles pensamentos me invadiram. Não dá pra relaxar. Me deixar sentir as coisas não significa mergulhar de cabeça no redemoinho de lamentações, até porque AGORA eu não tenho como mudar as coisas mais importantes aqui. 

O que eu posso mudar é o como e isso eu venho tentando, uns dias mais outros menos, mas sempre tentando. 

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Desisti

 Eu quero começar a escrevelança de hoje com um texto que encontrei por - vamos chamar de coincidência, mesmo sabendo que não existe isso - que me tocou de um jeito tão honesto que eu quero deixar ele guardado neste meu potinho de palavras particular. O texto foi escrito por ninguém menos que meu deus de adoração de preferência - Neil Gaiman - e eu vou fazer o melhor possível pra traduzir suas palavras, só que não garanto nada que eu não traduza isso com meu coração, o que neste caso serve bem também.

"Credo

Eu acredito que é difícil matar uma ideia porque ideias são invisíveis e contagiosas, e elas se movem bem rápido.

Eu acredito que você pode colocar suas próprias ideias contra ideias que você não gosta.  Que você deve ser livre pra argumentar, explicar, clarificar, debater, ofender, insultar, esbravejar, tirar sarro, cantar, dramatizar e negar. 

Eu não acredito que queimar, matar, explodir pessoas, esmagar suas cabeças contra pedras (pra deixar as más ideias saírem), afogá-las ou até mesmo rendê-las vão funcionar para conter ideias que você não gosta. Ideias se espalham por onde você não espera, tipo mato, e elas são difíceis de controlar. 

Eu acredito que reprimir ideias espalham ideias. 

Eu acredito que pessoas e livros e jornais são reservatórios de ideias, mas queimar pessoas que seguram as ideias vai ser tão falho quanto explodir uma bomba nos arquivos de um jornal. É porque já é muito tarde. É sempre tarde demais. As ideias já estão por aí, se escondendo nos olhos das pessoas, esperando nos seus pensamentos. Elas podem ser sussurradas. Elas podem ser escritas pelas paredes no meio da noite. Elas podem ser desenhadas. 

Eu acredito que as ideias não precisam ser corretas para existirem. 

Eu acredito que você tem todo o direito de ser perfeitamente crente que imagens de deus ou profetas ou humanos que você reverencia são sagradas, incorruptíveis, assim como eu tenho o direito de ser crente da sacralidade do discurso e da santidade do direito de tirar sarro, comentar, argumentar e afirmar. 

Eu acredito que eu tenho o direito de pensar e dizer coisas erradas. Eu acredito que o remédio para isso seria argumentar comigo ou me ignorar, e eu usaria o mesmo remédio para as coisas erradas que eu acredito que você pensa.

Eu acredito que você tem o absoluto direito de pensar coisas que eu acho ofensivo, estúpidas, absurdas ou perigosas, e que você tem o direito de falar, escrever, ou distribuir essas coisas, e eu não tenho o direito de matar você, te aleijar, te machucar, ou tirar de você a liberdade ou propriedade porque eu acho suas ideias ameaçadoras ou insultantes ou incrivelmente pavorosas. Você provavelmente acha que as minhas ideias são bem imundas também. 

Eu acredito que numa batalha entre armas e ideias, as ideias vão, eventualmente, vencer. Porque ideias são invisíveis, e elas permanecem e algumas vezes, elas podem até ser verdade. 

E ainda assim, elas se movem."

Eu viajo para um cenário extremamente mágico quando essas coisas acontecem. Sinto que o ar muda, começo a respirar estrelas quando percebo que o mundo exterior fala com meu interior. Num geral esses dois mundos andam tão paralelamente que quando o mundo de cá resolve estender a mão e o mundo de lá estende a mão em retorno, eu não consigo não sentir mágica. Conexão. 

Esse texto dele pode até ser meio besta, talvez ele pudesse ter resumido todas essas palavras com um simples " pensa o que você quiser e não enche o saco de ninguém, velho", mas acredito que sendo quem ele é, e segurando em cima do pescoço aquela cabecinha maravilhosa, ele simplesmente não consiga. 

Talvez ontem eu tenha encontrado uma interseção do fluxo, talvez tenha sido só sorte. Mas hoje comemorando a incrível meta de quatro dias razoavelmente ok, eu prefiro sentir que eu fui vista e ouvida de alguma forma. Que se por algum motivo o panteão sagrado do universo estava me ignorando até agora, por algum motivo alguma das minhas ações fez um deles erguer uma sobrancelha e olhar na minha direção. 

Não quero enganar ninguém, começando por mim mesma, tudo continua igual, mas não posso deixar de admitir que tá tudo diferente também. E quanto mais eu olho pra trás, mais evidente fica essa diferença. Talvez seja pelo simples fato de que eu consegui dormir quantidades humanamente desejáveis esta noite. Sono é algo que opera milagres, todo mundo sabe. Talvez seja porque finalmente amanheceu um dia com um Sol bem mais decidido. Mas o fato é que tem quatro dias que eu consigo fazer um pouco mais que o mínimo que eu tava me propondo todos os dias. Risquei da minha lista de objetivos desejáveis exatamente 1 item, mas pensando pelo lado de que esse singelo item estava ali escrito e esperando por meses, achei sucesso. 

Isso me deixa mais corajosa para enfrentar aquelas coisas todas que já escrevi aqui? Ainda não, mas estou me dando a colher de chá e usando essa névoa gliterosa para fazer coisas que me dão prazer. Hoje tenho uma agenda cheia me esperando, e vou ignorar o que der se isso for me trazer algum desconforto. Sigo militante de fazer as coisas no meu tempo e sem desespero, e ainda quero me propor a ousadia de não me controlar. Pelo jeito hoje eu acordei selvagem.

Não é novidade nem pra mim, nem pra você que teve a santa paciência de ler tudo até aqui, que eu seguro minhas emoções como se minha vida dependesse disso. Mas me foi sugerido o exercício de abrir o bueiro e deixar sair o que vier. Provavelmente vai dar ruim, provavelmente isso vai envolver calças borradas e mais uns dez livros para a minha lista de livros lidos. Provavelmente. Mas tem uma esperança minúscula me dizendo que talvez, bem talvez, eu não precise mais segurar essas coisas. Talvez o mundo veja um novo amanhecer depois que isso acontecer e com sorte, eu também. Talvez eu não me sinta tão sozinha, porque também talvez eu me sinta tão sozinha porque estou segurando algo que não tenho mais forças pra segurar. Desistir para vencer. 

É... me deseje sucesso.

Até amanhã, quem sabe. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Deixar seus ecos no vácuo

E aí, será que é a gente que movimenta os sonhos ou são eles que nos movem?

O que faz a gente sonhar, afinal? Aquilo que faz a gente sentir uma vontade louca de começar algo novo, ir pra algum lugar, aprender alguma coisa... de onde vem isso? Será que é uma voz que tá ali tentando não ser calada - um watt resistente - ou são nossos divertidamente que resolvem sentar no painel de controle uma terça feira de madrugada pra vasculhar uns catálogos de sonho que chegaram pelo correio dois meses atrás e ninguém se deu ao trabalho de tirar do envelope?

Será que as coisas "chamam"  a gente ou é a gente que acha a ideia daquilo tão boa e tão bonita que essa constatação faz a gente ir naquela direção?

Uma ideia é só uma coisa que a gente criou, não é? A ideia de como a gente é, de como a gente aparenta ser, a ideia de como a gente acha que é visto. Os medos que moram na nossa bagagem, antes de se tornarem esses serezinhos glutões e obesos que são, também um dia foram uma ideia. A forma como traduzimos o mundo, nas suas bonitezas e desafios com certeza também são ideias, porque já vi essas lentes mudarem de cor muitas vezes conforme meu mundo interior variava. 

Mas e os sonhos?

Muitas vezes já percebi que minha vida melhora muito quando eu dou voz a minha força criativa, talvez até por isso eu tenha tanta insônia, pois é ali que ela pode correr trecho sem que eu tente (com sucesso, pelo menos) frear. Quando eu me permito fazer ouvir minhas palavras, minhas expressões de beleza e estranheza, seja colocando uma cor diferente no meu espaço fisico, seja aprendendo um tipo novo de artesanato, seja deixando meu pensamento fluir num texto, seja colocando minha energia em uma música na tentativa de tentar fazer parte dela. Mas fui eu quem um dia encasquetei com isso - uma ideia - ou isso é tão meu que grita por um espaço?

De verdade que se é o ovo ou a galinha, não importa. É um caminho e é uma ideia bem mais saudável que muitas outras que estiveram rondando meu entendimento. 

As ideias são essas coisinhas atrevidas, né? Elas pingam sem convite na mente e se elas vão criar um corpo ou não fica totalmente a nossa vontade. Mas se o poder de alimentar uma ideia a ponto de isso massacrar nossas convicções, esperanças e planos é tão evidente - veja a que ponto podemos chegar algumas vezes - porque não fazer o raciocínio contrário? Se temos esse poder de nos destruir, e fazemos isso muito bem obrigada, também temos o poder de nos reconstruir. Ir além. Mas só de pensar nisso consigo ver aquela ideia perversinha me sondando por detrás da coluna me dizendo com o olhar que ainda está aqui e isso ainda não acabou. Mas se tudo é questão de como alimentamos essas ideias, o que as boas ideias comem? Onde vivem? Como se reproduzem? Isso o Globo Repórter não fala. 

Porque raios a gente tem uma ideia tão pobre de nós mesmos e porque isso é muito mais forte do que nossos sonhos? Porque raios é tão mais fácil acreditar que a gente é um merda quando se for botar na ponta do lápis, estamos bem na média? Porque parece tão ridícula a ideia de se auto incentivar e se achar foda, quando se fizermos o contrário tá tudo bem? Porque caralhos tá tudo bem se auto destruir e ficar se auto azucrinando o dia inteiro? Porque que estar ao nosso lado e nos defendermos é tão mal visto?

Talvez seja justamente isso né? Onde ninguém se defende, todo mundo é uma presa fácil. 

Não acho também que a solução seja sair rugindo por aí pra se fazer entender. Um leão não precisa fazer isso, todo mundo já sabe que se tem um leão ali você tem mais é que tirar seu rabo do caminho ligeirinho. Ele não tem que provar seu poder pra ninguém. E ele não sai ameaçando todo mundo a torto e a direita, ele simplesmente caça quando ele tem fome, não tem terrorismo e abuso de autoridade. Ele se dá o direito de ser ele mesmo, fazer o que precisa pra viver sem atormentar ninguém. 

Apesar de racional, um leão não precisa ficar escrevendo diários de injúria para tentar descobrir alguma coisa, porque ele já sabe. Ele é o que é. Mó paz naquela cabeça cheia de juba, juba qual ele nem precisa se preocupar em usar creminho, porque ele já sabe que todo mundo já vai achar ele maravilhoso. Isso me reforça mais o quanto a gente precisa voltar a ser a gente mesmo, no nosso estado natural. Essas ideias só ganharam espaço quando a gente começou a desalojar nossa natureza. 

Isso me lembra de um papo que tive muitas vezes. Como eu sei que preciso mudar se eu nem ao menos sei quem sou? Como eu posso saber que tá tudo errado se eu estou constantemente tentando ser alguma coisa? E se eu tô tentando é porque eu não tô me deixando ser, só ser. Porque se eu deixo, vem vergonha, vem orgulho, vem um monte de medo - um monte de ideias. 

A gente é doente, velho. Estamos presos nessa roda de exercícios e não vamos chegar a lugar nenhum assim. Talvez a questão seja admitir que somos velhos sedentários que preferem sentar no fim do dia na companhia do nosso livrinho e fazer merda de exercício nenhum. 

Não mate um leão por dia, eles entendem de viver melhor que você.

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Defunto de aranha

Hoje o sol finalmente saiu. O céu tá nublado, mas o dia tá claro e já achei vantagem. Não dormi quase nada de novo, dores estranhas, insônia, livro, gatos me acordando assim que amanhece. Vocês já conhecem o rolê. Mas por incrível que pareça, apesar de cansada estou esperançosa. 

Ontem era dia de fazer minhas firmezas de proteção. Eu tava me preparando pra dormir, fui apagar as luzes quando me dei conta que eu não tinha feito a firmeza ainda. Aquilo falou tão alto comigo que fui fazer na mesma hora. E foi engraçado porque assim que eu comecei a fazer minha oração eu vi a Georgia da semana passada ali repetindo aquele gesto. Uma Georgia ajoelhada no chão segurando na mão uma vela e em outra um coração muito perdido. E aí não vi mais sentido em continuar dizendo as palavras que comecei, porque com aquela visão só fazia sentido agradecer por estar um pouco diferente de uma semana atrás. 

Me acompanha demais o sentimento de estar abaixo. Não sei se dá pra dizer oficialmente que não me sinto mais inferior aos outros, não sei se já cheguei lá, mas o se sentir abaixo continua. 
Abaixo porque parece que tenho que ter mais atenção na hora de equilibrar meus pratos. Parece que preciso fazer mais esforço pra chegar naquela média onde todo mundo parece estar naturalmente. Que eu já chego no ponto de partida com meia maratona percorrida - e obviamente, exausta - e sem chance alguma de alcançar a chegada. 

Um esforço pra me manter calma, um esforço pra não me deixar contaminar e começar a ter um monte de sintomas que uma hora ou outra durante o dia vão me fazer largar os bets e ir pra cama. 

O ano tá quase acabando e se tivesse uma retrospectiva da vida igual a do Spotify, o meu diria "você passou tempo demais deitada aqui". Deitada esperando a dor passar, deitada imaginando o que eu poderia/deveria estar fazendo se eu não tivesse me sentindo uma merda. Acho que é por isso que eu deito e vivo intensamente no meu mundo mental. Tá certo, a gente vive no mundo mental normalmente mesmo. A gente não toma nenhuma decisão sem que aquilo seja filtrado pelas nossas emoções, mas com tudo o que já sei agora eu deveria aproveitar desse artifício de uma forma um pouquinho mais inteligente pra sair desse umbral particular. Apesar de ser um espaço especialmente criativo é como se esse mundo me chamasse com um grande algodão doce colorido pra na sequência ele se transformar em uma placa ululante que diz "VOCÊ VAI TER CÁRIES! MUAHAhahaha"

Mas hoje apesar de ter acordado com tudo errado - até encontrei um presunto de uma aranha gigantesca embaixo aqui da mesa - parece que hoje estou tendo uma colher de chá. Talvez ela não me mate a sede, mas se isso é tudo o que me é oferecido, beberei. 
Graças a Deus por meus gatos matarem as aranhas por mim. Aqui em muitas e todas elas são grandes, mas essa estava de parabéns, era enorme mesmo morta e dobrada. O tipo de crise que eu teria se eu encontrasse ela viva por aí certamente poderia ser avistado pelos satélites. Eu tenho pavor. Mas dessa vez o dia foi salvo. Eu fico passando a mão pelas pernas e sentindo alguma coisa caminhar por mim, mas eu sei que é só o medo me atormentando. Eu vou continuar escrevendo e eu vou tentar fazer desse dia um dia que eu possa aproveitar. 

Ontem eu li que um dos efeitos do patriarcado é a forma como temos levado a nossa vida interior. Ser prático, racional, produtivo, "matar um leão por dia". Esquecemos que, homens ou mulheres, sentimos o mundo, sentimos a vida. E o sentir é feminino e tudo o que é feminino precisa maternar. Talvez seja só uma maneira de falar sobre se acolher e dar tempo ao tempo, mas gostei da imagem de maternar a cura. De deixar aquele sentimento fazer o que ele precisa, trazer as reflexões e abrir o que precisa ser aberto, pra sangrar e se deixar curar, até que cure. 
Percebi o quanto meu feminino está doente quando percebi que a minha primeira resposta pras coisas é "como eu resolvo isso?". Como se fosse uma tarefa da minha listinha. Apesar desse distanciamento e praticidade terem salvo o meu couro muitas vezes, talvez essa ansiedade e depressão insistentes seja reflexo disso. De achar soluções demais e curas de menos. 

Eu já me acho sentimental demais por estar aqui escrevendo essas cartas. Já me acho um saco por estar carente de atenção e fragilizada. Não é como eu gosto de me ver, não é quem o meu Hulk interior me diz que sou. Mas talvez seja só uma das minhas muitas vozes. E talvez todas elas precisem de espaço para serem ouvidas. Eu não sei se eu consigo ou se vou conseguir me entregar a isso um dia. Tanto que a vida já me quebrou e tenta me quebrar constantemente e eu ainda não me permito chorar. Eu deito e leio, viajo no mundo que alguém criou. Me isolo, racionalizo tudo. Em alguma medida eu estou sempre tentando achar uma solução, as vezes com mais força, as vezes com nenhuma. Quando voltei a escrever aqui estava me sentindo totalmente derrotada, mas eu fiz esse movimento. A única coisa que mudou de semana passada pra cá foi que eu consegui organizar melhor meus pensamentos escrevendo esses posts. Porque sigo sem dormir, sigo com vontade de chorar, sigo me sentindo sozinha na vida. Então tenho medo sim de deixar a emoção tomar conta, se mesmo sem permitir eu fui derrotada tantas vezes, imagina se eu permitisse sentir tudo? 


É, tem coisas que a gente só vai saber caminhando mesmo. 

Até amanhã, quem sabe.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Hulk is coming

 Acordei sentindo um negócio diferente hoje - raiva. Eu sempre tive uma visão bem negativa sobre a raiva, especialmente quando na minha cabeça eu arremessava vários copos na parede e quase conseguia sentir o alívio que isto trazia. Nunca joguei nenhum copo, mas já tive vontade muitas vezes. Sempre achei essa força destrutiva, malvada mesmo. Como se isso fosse me tomar um dia e me fazer cometer os homicídios que eu tô devendo pro mundo. Não fez, apesar de saber que com a motivação certa, eu certamente faria - mas esse é outro assunto.

Com o passar dos anos eu fui fazendo as pazes com essa raiva. Fui vendo que a força que a raiva me trazia não necessariamente era maligna. A raiva me fazia sacodir e executar, andar pelas minhas próprias pernas, nem que fosse pra esfregar na cara de alguém. Vários problemas nessa parte aí, eu sei. 

Eu ando num estado de indignação constante. Não consigo mais consumir redes sociais e fazer de conta que alguma coisa daquilo é de verdade. Seja a facilidade de "mudar sua vida", seja a alegria forçada, seja a violência descarada. Eu não tenho interesse de viver em um mundo que não entenda o leve. E mano, as pessoas estão descontroladas. 

Talvez esta nem seja a melhor escolha de palavras, porque ser "controlado" também não é algo que eu considere desejável. Mas ver as pessoas surtando, gritando, ofendendo por motivo nenhum é um troço que me consome, que me fere. Acabei de sair da mesa do café e já ouvi dois surtos diferentes. Não sou nenhum modelo no que se refere a controlar a língua, mas temos um limite aí. Tem que ter um limite, pelamordedeus. 

Tirando a utopia do mundo leve de lado, será que as pessoas simplesmente acham que isso é bom, que isso vai levar elas a algum lugar ou simplesmente adotaram esse modus operandi porque vivem no automático? Será que não tem nenhuma célula dentro delas - um watt resistente - que tenta buscar leveza dentro delas? Ou será que tá todo mundo tão doente e descontrolado que é isso que elas tem a oferecer? Mas de novo, não tem uma merda de um watt resistente ali?

Minha resposta automática pra isso é a raiva. A raiva que me faz querer me isolar, isolar minha casa e botar em prática as minhas regras. 

"Aqui dentro a gente ouve música e dança de meias" - ou a atualização disso, descalça porque agora eu moro na praia e nem preciso tanto assim de meias. 

"Aqui dentro a gente faz as coisas devagar e com carinho" - e faz o que dá, porque tem dias que não dá e não vale a pena sabotar o pingo de saúde mental restante pra dar mais um "check" na lista de tarefas. 

Essa coisa do devagar e com carinho talvez até seja alguma chave, porque eu percebi que quanto mais a gente fica olhando pro relógio, quanto mais a gente se preocupa que não vai dar tempo, menos tempo a gente tem. Mais atropeladas as coisas ficam. 

Mas toda vez que eu consigo botar em prática minhas regras de convivência me sinto o meme da Namariabraga dançando na frente do incêndio. Enquanto eu tô aqui dentro miando alguma música e botando ordem na vida eu vejo o caos e gritaria pela minha janela (as vezes literalmente).

Só que eu simplesmente tô contaminada demais pra seguir minhas próprias regras. Acho que é aí que o meu Hulk interior fica puto e quer sair. Porque isso é uma violência comigo, com os meus valores e meu jeito de viver, de me cuidar. Então eu sinto raiva e também sinto vontade de chorar, mesmo que as lágrimas nunca caiam. Porque eu quero desesperadamente - e no sentido literal mesmo de desespero - quero viver de um jeito leve, porque é absolutamente possível resolver a lista de babados diários na leveza, com tempo e bem feito. Com carinho. 

E é com muito carinho e consciência desse momento que eu quero mandar todo mundo tomar no cu. Quer matar um leão por dia? Vai. Quer fazer dancinha na internet pra ganhar uns likes e se sentir especial? Vai. Acabei de pensar em outros exemplos aqui que eu simplesmente não consigo escrever "'vai", mas eu também sou militante do seu direito de fazer absolutamente o que você quiser, o que talvez invalide tudo aquilo que eu já escrevi. Mas sim, faz o que você quiser, mas eu também tenho direito de achar triste tudo isso. O direito de não querer viver igual, o direito de querer distância de tudo isso. Eu só rezo que num mundo tão cheio de confusão, eu tenha inteligência emocional pra deixar as pessoas fazerem o que elas querem, mas sem me deixar contaminar por isso. Talvez isso faça de mim uma pessoa horrível, talvez seja só porque estou totalmente sem energia pra lidar com isso de um jeito melhor, não sei. Mas isso com certeza me faz querer ir morar ainda mais longe e desfazer minhas redes sociais. Manter contato só com quem interessa. E definitivamente sem noticiário. Será que é tarde demais pra comprar uma ilha?

Minha vontade de mudar o mundo morre na casca nesses momentos em que não consigo nem mudar meu próprio mundo interior. E se a gente não consegue nem isso, a gente tá realmente preparado pra fazer algo por alguém?

Conheço gente que assiste missa na televisão todos os dias, vive com o terço na mão e é absolutamente surtada. Reza todos os dias "pra aumentar a vibração do mundo", "pra ajudar na transição planetária", mas não consegue ir ao mercado sem reclamar ou julgar alguém. Mano, isso me deixa puta. Isso me deixa triste e isso me deixa revoltada. 

Não sei exatamente como terminar esse pensamento, nem como começar a desenrolar essa maçaroca. O que eu sei é que eu vou colocar meus fones e ouvir uma música e usar a força dessa raiva toda pra fazer algo de útil por mim antes que ela vença de novo e me coloque exausta, dolorida e rendida na cama, como tem sido. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.