quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Deixar seus ecos no vácuo

E aí, será que é a gente que movimenta os sonhos ou são eles que nos movem?

O que faz a gente sonhar, afinal? Aquilo que faz a gente sentir uma vontade louca de começar algo novo, ir pra algum lugar, aprender alguma coisa... de onde vem isso? Será que é uma voz que tá ali tentando não ser calada - um watt resistente - ou são nossos divertidamente que resolvem sentar no painel de controle uma terça feira de madrugada pra vasculhar uns catálogos de sonho que chegaram pelo correio dois meses atrás e ninguém se deu ao trabalho de tirar do envelope?

Será que as coisas "chamam"  a gente ou é a gente que acha a ideia daquilo tão boa e tão bonita que essa constatação faz a gente ir naquela direção?

Uma ideia é só uma coisa que a gente criou, não é? A ideia de como a gente é, de como a gente aparenta ser, a ideia de como a gente acha que é visto. Os medos que moram na nossa bagagem, antes de se tornarem esses serezinhos glutões e obesos que são, também um dia foram uma ideia. A forma como traduzimos o mundo, nas suas bonitezas e desafios com certeza também são ideias, porque já vi essas lentes mudarem de cor muitas vezes conforme meu mundo interior variava. 

Mas e os sonhos?

Muitas vezes já percebi que minha vida melhora muito quando eu dou voz a minha força criativa, talvez até por isso eu tenha tanta insônia, pois é ali que ela pode correr trecho sem que eu tente (com sucesso, pelo menos) frear. Quando eu me permito fazer ouvir minhas palavras, minhas expressões de beleza e estranheza, seja colocando uma cor diferente no meu espaço fisico, seja aprendendo um tipo novo de artesanato, seja deixando meu pensamento fluir num texto, seja colocando minha energia em uma música na tentativa de tentar fazer parte dela. Mas fui eu quem um dia encasquetei com isso - uma ideia - ou isso é tão meu que grita por um espaço?

De verdade que se é o ovo ou a galinha, não importa. É um caminho e é uma ideia bem mais saudável que muitas outras que estiveram rondando meu entendimento. 

As ideias são essas coisinhas atrevidas, né? Elas pingam sem convite na mente e se elas vão criar um corpo ou não fica totalmente a nossa vontade. Mas se o poder de alimentar uma ideia a ponto de isso massacrar nossas convicções, esperanças e planos é tão evidente - veja a que ponto podemos chegar algumas vezes - porque não fazer o raciocínio contrário? Se temos esse poder de nos destruir, e fazemos isso muito bem obrigada, também temos o poder de nos reconstruir. Ir além. Mas só de pensar nisso consigo ver aquela ideia perversinha me sondando por detrás da coluna me dizendo com o olhar que ainda está aqui e isso ainda não acabou. Mas se tudo é questão de como alimentamos essas ideias, o que as boas ideias comem? Onde vivem? Como se reproduzem? Isso o Globo Repórter não fala. 

Porque raios a gente tem uma ideia tão pobre de nós mesmos e porque isso é muito mais forte do que nossos sonhos? Porque raios é tão mais fácil acreditar que a gente é um merda quando se for botar na ponta do lápis, estamos bem na média? Porque parece tão ridícula a ideia de se auto incentivar e se achar foda, quando se fizermos o contrário tá tudo bem? Porque caralhos tá tudo bem se auto destruir e ficar se auto azucrinando o dia inteiro? Porque que estar ao nosso lado e nos defendermos é tão mal visto?

Talvez seja justamente isso né? Onde ninguém se defende, todo mundo é uma presa fácil. 

Não acho também que a solução seja sair rugindo por aí pra se fazer entender. Um leão não precisa fazer isso, todo mundo já sabe que se tem um leão ali você tem mais é que tirar seu rabo do caminho ligeirinho. Ele não tem que provar seu poder pra ninguém. E ele não sai ameaçando todo mundo a torto e a direita, ele simplesmente caça quando ele tem fome, não tem terrorismo e abuso de autoridade. Ele se dá o direito de ser ele mesmo, fazer o que precisa pra viver sem atormentar ninguém. 

Apesar de racional, um leão não precisa ficar escrevendo diários de injúria para tentar descobrir alguma coisa, porque ele já sabe. Ele é o que é. Mó paz naquela cabeça cheia de juba, juba qual ele nem precisa se preocupar em usar creminho, porque ele já sabe que todo mundo já vai achar ele maravilhoso. Isso me reforça mais o quanto a gente precisa voltar a ser a gente mesmo, no nosso estado natural. Essas ideias só ganharam espaço quando a gente começou a desalojar nossa natureza. 

Isso me lembra de um papo que tive muitas vezes. Como eu sei que preciso mudar se eu nem ao menos sei quem sou? Como eu posso saber que tá tudo errado se eu estou constantemente tentando ser alguma coisa? E se eu tô tentando é porque eu não tô me deixando ser, só ser. Porque se eu deixo, vem vergonha, vem orgulho, vem um monte de medo - um monte de ideias. 

A gente é doente, velho. Estamos presos nessa roda de exercícios e não vamos chegar a lugar nenhum assim. Talvez a questão seja admitir que somos velhos sedentários que preferem sentar no fim do dia na companhia do nosso livrinho e fazer merda de exercício nenhum. 

Não mate um leão por dia, eles entendem de viver melhor que você.

Até amanhã, quem sabe.

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