quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Desisti

 Eu quero começar a escrevelança de hoje com um texto que encontrei por - vamos chamar de coincidência, mesmo sabendo que não existe isso - que me tocou de um jeito tão honesto que eu quero deixar ele guardado neste meu potinho de palavras particular. O texto foi escrito por ninguém menos que meu deus de adoração de preferência - Neil Gaiman - e eu vou fazer o melhor possível pra traduzir suas palavras, só que não garanto nada que eu não traduza isso com meu coração, o que neste caso serve bem também.

"Credo

Eu acredito que é difícil matar uma ideia porque ideias são invisíveis e contagiosas, e elas se movem bem rápido.

Eu acredito que você pode colocar suas próprias ideias contra ideias que você não gosta.  Que você deve ser livre pra argumentar, explicar, clarificar, debater, ofender, insultar, esbravejar, tirar sarro, cantar, dramatizar e negar. 

Eu não acredito que queimar, matar, explodir pessoas, esmagar suas cabeças contra pedras (pra deixar as más ideias saírem), afogá-las ou até mesmo rendê-las vão funcionar para conter ideias que você não gosta. Ideias se espalham por onde você não espera, tipo mato, e elas são difíceis de controlar. 

Eu acredito que reprimir ideias espalham ideias. 

Eu acredito que pessoas e livros e jornais são reservatórios de ideias, mas queimar pessoas que seguram as ideias vai ser tão falho quanto explodir uma bomba nos arquivos de um jornal. É porque já é muito tarde. É sempre tarde demais. As ideias já estão por aí, se escondendo nos olhos das pessoas, esperando nos seus pensamentos. Elas podem ser sussurradas. Elas podem ser escritas pelas paredes no meio da noite. Elas podem ser desenhadas. 

Eu acredito que as ideias não precisam ser corretas para existirem. 

Eu acredito que você tem todo o direito de ser perfeitamente crente que imagens de deus ou profetas ou humanos que você reverencia são sagradas, incorruptíveis, assim como eu tenho o direito de ser crente da sacralidade do discurso e da santidade do direito de tirar sarro, comentar, argumentar e afirmar. 

Eu acredito que eu tenho o direito de pensar e dizer coisas erradas. Eu acredito que o remédio para isso seria argumentar comigo ou me ignorar, e eu usaria o mesmo remédio para as coisas erradas que eu acredito que você pensa.

Eu acredito que você tem o absoluto direito de pensar coisas que eu acho ofensivo, estúpidas, absurdas ou perigosas, e que você tem o direito de falar, escrever, ou distribuir essas coisas, e eu não tenho o direito de matar você, te aleijar, te machucar, ou tirar de você a liberdade ou propriedade porque eu acho suas ideias ameaçadoras ou insultantes ou incrivelmente pavorosas. Você provavelmente acha que as minhas ideias são bem imundas também. 

Eu acredito que numa batalha entre armas e ideias, as ideias vão, eventualmente, vencer. Porque ideias são invisíveis, e elas permanecem e algumas vezes, elas podem até ser verdade. 

E ainda assim, elas se movem."

Eu viajo para um cenário extremamente mágico quando essas coisas acontecem. Sinto que o ar muda, começo a respirar estrelas quando percebo que o mundo exterior fala com meu interior. Num geral esses dois mundos andam tão paralelamente que quando o mundo de cá resolve estender a mão e o mundo de lá estende a mão em retorno, eu não consigo não sentir mágica. Conexão. 

Esse texto dele pode até ser meio besta, talvez ele pudesse ter resumido todas essas palavras com um simples " pensa o que você quiser e não enche o saco de ninguém, velho", mas acredito que sendo quem ele é, e segurando em cima do pescoço aquela cabecinha maravilhosa, ele simplesmente não consiga. 

Talvez ontem eu tenha encontrado uma interseção do fluxo, talvez tenha sido só sorte. Mas hoje comemorando a incrível meta de quatro dias razoavelmente ok, eu prefiro sentir que eu fui vista e ouvida de alguma forma. Que se por algum motivo o panteão sagrado do universo estava me ignorando até agora, por algum motivo alguma das minhas ações fez um deles erguer uma sobrancelha e olhar na minha direção. 

Não quero enganar ninguém, começando por mim mesma, tudo continua igual, mas não posso deixar de admitir que tá tudo diferente também. E quanto mais eu olho pra trás, mais evidente fica essa diferença. Talvez seja pelo simples fato de que eu consegui dormir quantidades humanamente desejáveis esta noite. Sono é algo que opera milagres, todo mundo sabe. Talvez seja porque finalmente amanheceu um dia com um Sol bem mais decidido. Mas o fato é que tem quatro dias que eu consigo fazer um pouco mais que o mínimo que eu tava me propondo todos os dias. Risquei da minha lista de objetivos desejáveis exatamente 1 item, mas pensando pelo lado de que esse singelo item estava ali escrito e esperando por meses, achei sucesso. 

Isso me deixa mais corajosa para enfrentar aquelas coisas todas que já escrevi aqui? Ainda não, mas estou me dando a colher de chá e usando essa névoa gliterosa para fazer coisas que me dão prazer. Hoje tenho uma agenda cheia me esperando, e vou ignorar o que der se isso for me trazer algum desconforto. Sigo militante de fazer as coisas no meu tempo e sem desespero, e ainda quero me propor a ousadia de não me controlar. Pelo jeito hoje eu acordei selvagem.

Não é novidade nem pra mim, nem pra você que teve a santa paciência de ler tudo até aqui, que eu seguro minhas emoções como se minha vida dependesse disso. Mas me foi sugerido o exercício de abrir o bueiro e deixar sair o que vier. Provavelmente vai dar ruim, provavelmente isso vai envolver calças borradas e mais uns dez livros para a minha lista de livros lidos. Provavelmente. Mas tem uma esperança minúscula me dizendo que talvez, bem talvez, eu não precise mais segurar essas coisas. Talvez o mundo veja um novo amanhecer depois que isso acontecer e com sorte, eu também. Talvez eu não me sinta tão sozinha, porque também talvez eu me sinta tão sozinha porque estou segurando algo que não tenho mais forças pra segurar. Desistir para vencer. 

É... me deseje sucesso.

Até amanhã, quem sabe. 

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