domingo, 29 de janeiro de 2023

Um sopro na correnteza

 Foram dias estranhos. Talvez ainda sejam e seja eu quem não está acordada o suficiente ainda para perceber. 

Eu não tinha nenhuma palavra em mim, fosse pra escrever ou falar. Passei dias falando apenas o necessário. É um bom exercício, eu acho. 

No entanto a mente...ah, a mente. Essa não para nunca. Imagens, sensações e palavras. Enxurradas delas, nenhuma que prestasse. 

Ainda sinto o peso da mente sobre meu peito, mas com uma intensidade menor o suficiente pra me trazer de novo aqui. Pra arriscar um passo pequeno que seja, a mais. 

Estamos no dia 29 e eu acabei de terminar meu vigésimo livro. A maioria deles com 600 páginas, o maior dele com mais de 800. Dizer que eu me isolei é eufemismo. Dizer que eu fugi desesperadamente da minha própria cabeça é nada mais do que a verdade. 

Não tenho certeza se quero voltar pra realidade. Ela não tem me feito sentido nenhum, assim como falar com qualquer pessoa que seja. Sou eu que tenho que resolver, que encontrar a saída. Eu que tenho que abrir o caminho até encontrar a luz no final desse túnel interminável. 

Ando me arrastando pela vida, com o corpo fraco e a mente em frangalhos. Uma carcaça ambulante. Sorte a minha ser uma carcaça bem teimosa. A única e talvez a mais preciosa sorte. Pelas numerosas vezes em que quis enfiar a cara no travesseiro até não conseguir mais respirar, estar aqui é um ato de resistência onde eu sou meu próprio herói e feitor. Eu sou tudo isso, apesar de não ser nada mais que um sopro nesses últimos meses. 

Vamos ver o que o dia de hoje me reserva. 

Me deseje sorte. 

Até qualquer dia. 

sábado, 21 de janeiro de 2023

Bueiro

 Saúde mental é um tesouro. 

Que eu não tenho.

Tô aqui na tentativa desesperada de me autoterapeutizar, ver se escrevendo eu acabo largando alguma ideia que faça algum sentido pra eu seguir mais pra frente. 

Minha cabeça tá confusa, meu corpo dói. Meu peito tá apertado, tô amarga, mau humorada, sem vontade. Só de pensar em ver gente já me sinto cansada. 

Ontem pedi pra irmos almoçar fora e ficar dando voltas sem ter que resolver nada. Obviamente que isso não funcionou, acabou que passamos em vários lugares pra comprar coisinhas que estavam faltando, uma pequena romaria. Meu plano depois de ir almoçar era passar um pouco na praia, sentar ali por alguns minutos e simplesmente contemplar. Não consegui nem atravessar a rua. A praia tava cheia de gente, som alto, carros passando. Dei meia volta ali mesmo, não consegui lidar com aquela coisa toda. 
Também tinha me proposto a finalmente comprar uma peça de roupa que seja, e também não rolou. No horário que eu fui, já estava fechado, e quando eu estava voltando, a br tava tão parada que não compensava fazer outro caminho a não ser o de casa. Então o passeio resolveu pra exatamente nada. Voltei pra casa, pro meu quarto e pro livro, não estudei e não fiz nada pra me divertir além de ler. 

É um saco porque tudo virou cobrança. Até o fato de ler de mais ou o que eu tô lendo. Me deixa, caralho. O que eu faço pra me divertir, quando eu faço e porque não estou fazendo. Parece que tem uma enorme lupa em cima da minha cabeça me analisando pra mim mesma o tempo todo. Minha vontade de pedir ajuda é exatamente tão intensa quanto a vontade de continuar em silêncio. Minha vontade é ir passar algum tempo em algum lugar totalmente isolada, sem me preocupar com absolutamente nada, se eu vou arrumar a cama, se eu vou estudar, se eu vou tomar banho e lavar o cabelo, se eu tenho faxina pra fazer ou o quando eu pretendo comer de novo. 

É um luxo que não tem como. O tempo tá passando e quanto mais eu penso, mais eu vejo que mesmo nesse emaranhado de pensamentos e sentimentos, tá tudo no lugar. Se eu tivesse com uma agenda incrivelmente cheia de afazeres, eu provavelmente estaria procrastinando todas e surtando. Eu preciso melhorar primeiro, de novo. Preciso estabilizar minimamente pra ser capaz de executar algum plano. Eu estou completamente sem saída. Não sei pra que lado atirar, não sei o que tentar, não sei com quem falar. 

Eu tô me sentindo avulsa. Existem pouquissimas pessoas em quem eu confio. Menor ainda é o número de quem eu confio e me sinto a vontade pra falar. E mesmo assim, não tem um lugar onde eu me sinta em casa, pertencente. Sempre parece que estou por um fio. Sempre cuidando, sempre esperando algo dar errado. Sempre cuidando pra não incomodar. Em casa muito menos. Ouvi minha irmã me chamando de "aquele ser dos infernos" de alto e bom som pelo telefone aqui na minha janela, a menos de dois metros de mim, sem nenhum constrangimento. Com minha mãe eu não posso contar muito, primeiro porque ela é a primeira a botar um balde de água fria em qualquer conceito novo, se agarrando a isso como se disso dependesse a dignidade dela. Outro dia ela me falou que me amava e eu chorei, porque não tenho nenhuma lembrança dela falando isso pra mim sem que fosse respondendo depois de eu ter falado. As únicas pessoas que expressam algum orgulho por mim são tão próximas, que parece que a opinião delas é parcial e tendenciosa. Como se não fosse possível acreditar, e aí eu não acredito. 

Eu enxergo a burrice em deixar que pessoas que não me conhecem tecer opiniões sobre mim para daí eu acreditar. Essas pessoas teriam tão pouco pra avaliar, e tão bem poderiam pegar qualquer segmento da minha vida, bom ou ruim, e não necessariamente o resultado disso seria bom. 

As pessoas que realmente conhecem minha caminhada, minhas dores, meus desafios e vitórias são justamente aquelas que eu não acredito, porque nem tão no fundo, eu acho que elas falam isso só pra me ajudar a levantar a bola. 

Não dou lá muita importância para as críticas também, a não ser que elas ressoem com as minhas próprias, o que não é lá muito difícil já que eu sou campeã invicta em me massacrar diariamente. Não ligar para críticas ou elogios, e sim na própria avaliação, isso é um objetivo. Talvez eu já faça isso, mas como eu disse, minha autoavaliação é péssima em todas as áreas. 

O que eu faço direito, de verdade? O que é constante, consistente na minha rotina? Me autocriticar e ter crises, isso com certeza. Todo o resto é maleável. Não é todo dia que eu como, não é toda noite que eu durmo, e se eu peco nas necessidades básicas, você pode bem fácil seguir o raciocínio e ver em que buraco eu me encontro. 

Tô escrevendo aqui até meio surpresa, porque hoje eu tentei rezar e não saiu uma palavra. A cabeça tão confusa, nublada, o corpo estrebuchando, não consegui formar nem uma frase. Pelo menos aqui eu consigo me concentrar e aliviar a corrente de pensamentos. 

O que tava ajudando não tá mais. Talvez eu tenha me perdido em alguma prática que eu não fazia ideia do quanto tava ajudando, ou talvez fosse o período do mês, a lua, a minha vibe. Mas tá tudo muito intenso, muito pesado. Como se a sensibilidade estivesse maior e eu sentisse tudo. Pela primeira vez em sete anos, eu não tô minimamente animada para começar as atividades do terreiro. Essas férias sempre eram longas e eu ficava ansiando pelo retorno e hoje se eu pudesse escolher, nem ia. Eu posso sim escolher ficar em casa, mas eu sou mais disciplinada que isso. Eu sei que lá eu posso ter alguma ajuda, ainda que de novo, eu não me sinta pertencente ali, não tenha alguém que eu confie o suficiente para me sentir a vontade de me abrir. Já fiz isso várias vezes e várias vezes o sentimento foi, não me entenderam. 

Acho que é por isso, olhando meu mundo em volta, que eu me sinto tão sozinha. Não é por ânsia de contato físico ou nada do tipo, é por contato mental. Acolhimento emocional. Me sentir pertencendo a um lugar onde eu posso ser natural. Eu falo cochichando dentro da minha própria casa. Eu faço minhas coisas escondidas atrás da cortina fechada. Eu só canto quando não tem ninguém em casa. As vezes eu me sinto mais livre, mas num geral não. 

Eu realmente não sei o que fazer, não sei por onde começar. Sei que ficar quieta não vai fazer nada de bom por mim, mas tem horas que isso é tudo o que eu consigo. Tá na hora de eu me salvar de novo e eu não tenho nada das mãos a não ser um palito de picolé, não premiado. 

Talvez eu devesse quebrar a ponta, afiar e enfiar no olho pra acabar logo com essa história. 

Me deseje sorte. 


sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Shh...

É, faz um tempo que não venho aqui. Não tenho tido vontade de falar com ninguém, nem com você. E apesar da minha cabeça estar vazando com conversas internas e reflexões inúteis, eu só quero ficar preenchendo minha mente com histórias. Então tô lendo loucamente. Por sorte ou não, tenho acertado uma fila de livros bons, inlargáveis, que ajudam nesse objetivo. Também são ótimos pra me ajudar a passar noites em claro, nem sono eu tenho sentido. Dormir tem sido um esforço consciente.

Ficar acordada também tem sido um esforço consciente. Eu sinto meus lábios enrugando pra dentro, do sabor amargo que tenho sentido. O coração pesado, a falta de vontade, pensamentos que me perseguem. 

E no cansaço dos dias e noites sem dormir, perdi totalmente meu ritmo. Parei de escrever aqui, tô estudando igual meu nariz, faz quatro dias que estou tentando terminar uma única aula. A porta que comecei a pintar tá do mesmo jeito há duas semanas. Nem preciso começar a contar sobre minha casa. 

Tomar o cogumelo me ajuda, mas ele me deixa ligada, então pra ver se durmo, tenho pulado as doses. Sigo tomando as tinturas, a do dia e a da noite, mas nem isso tem segurado minha onda. Ou talvez essa seja eu com a onda segurada. Todo esse caos por causa dos hormônios, e eu que lide com o rebote. Até eu pegar o ritmo de novo, já vai estar naquela fase de novo. E assim a gente vive, meu Brasil. 

As vezes é um saco ser eu. Inferno, na maioria das vezes é. Talvez eu devesse seriamente parar de contar tudo o que tenho feito pra melhorar, porque isso só faz parecer o quanto tô ótima, tentando, sobrevivendo. Tem sido daqueles dias que nem o básico bem feito tá saindo bem feito. Tá sendo feito, fim. E o que eu posso deixar pra depois nem entra na agenda. 

E não tem ninguém me cobrando, o que é ótimo, mas o que também me deixa definhar a perder de vista. Mas eu mesma fico me cobrando, preciso trabalhar, preciso ganhar dinheiro, não quero viver assim, não dá mais pra viver assim, quando que eu vou me levantar pra vida, quando que eu vou botar em prática as coisas que planejei, será que eu deveria ver um psiquiatra, será que eu deveria mudar de terapeuta, mas caralho, não tenho dinheiro pra escolher essas coisas, então eu deveria me esforçar pra trabalhar, procurar clientes, divulgar e parecer muito feliz porque eu tô fazendo o que sempre sonhei. 

Sem saída. Sem esperança. 

Mesmo nos dias melhores, eu não fiz lá grande coisa pra avançar na direção que eu supostamente quero. Então o problema realmente é depressão e ansiedade ou simplesmente porque sou muito cagada, desmotivada e preguiçosa? Será que eu quero as coisas do jeito fácil, enquanto tá todo mundo se lascando mas fazendo de um jeito que eu olho e acho que essas pessoas é que são sortudas, porque tá tudo fácil pra elas. 

O labirinto da mente fede. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã ou qualquer dia. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Tudo

 Eu tenho dentro de mimos mais terríveis tesouros e as mais belas maldições. 

Carrego dentro de mim o caminho, o retorno, o tempo e o destino. O ponto final e a vírgula. 

Alguns dias são interrogação, em outros eu mergulho profundamente em um mar de exclamações. 

As vezes vôo alto pelos abismos, descanso minha cabeça entre as nuvens e perco o ar enquanto eu respiro. 

Já fui semente quebrando a casca e a terra desesperada pra nascer. Já destruí cidades inteiras enquanto caminhava pelas ruas, encharcada de vento. 

Já fui folha que caiu da mais altas das árvores, pra me estatelar no chão tão suavemente quanto um bebê colocado no berço pelos braços de sua mãe.

Alguns dias sou o Sol que congela os ossos e em outros vejo queimar os lábios dentro da minha geleira. 

Eu sou tudo ao mesmo tempo e ao mesmo tempo eu não sou nada disso. 

Eu sou a doença e a cura, a dor, o rastejo, a dança e a remissão. 

Sou a vitória e o choro de quem ficou em casa durante a guerra esperando notícias que não chegaram nunca. Sou também a letra e a língua cortada daqueles que ousaram falar demais. Sou algo estranho, algo de novo e um sentimento tão velho quanto o tempo.

Um emaranhado de pensamentos e a cacofonia do mundo cegando todos os meus sentidos.

Eu não sinto nada e sinto tudo ao mesmo tempo. 

QI´s altíssimos e emoções abissais

 Eu tenho terapia daqui a pouco e tô pensando no que eu vou falar. Eu ando meio perdida, essa é a verdade. Mas o fato de eu estar sempre caminhando, sempre tentando alguma coisa, de alguma forma faz com que minha terapeuta ache tudo ótimo, o aprendizado que eu tenho com a minha visão das coisas, a forma como eu lido com as coisas, o fato de eu estar me movimentando - mesmo que as vezes minimamente - o que rapidamente faz ela concluir que não, eu não tô perdida de maneira alguma. Então muitas vezes eu deixo muito tempo passar entre uma sessão e outra, porque eu acabo não vendo sentido em conversar. Eu tô sempre buscando uma resposta, e eu vejo a armadilha disso. A resposta sempre está e sempre esteve dentro de cada um. Mas eu acho reconfortante ver gente falando sobre coisas que me são naturais, gente dando nome pros meus bois. Na esperança que essas reflexões me façam encontrar uma resposta, um caminho, uma luz que me mostre o passo adiante. 

O passo adiante no entanto, é continuar caminhando. Continuar observando, continuar buscando a lição. Fazer o que dá, não o melhor que dá. Não dar tudo de si porque nada compensa esse gasto. O melhor de mim tem que vir pra mim, pra minha saúde e pra viver emocionalmente bem. 

Eu sei que a resposta não tá no outro e que ninguém vai me dar de bandeja aquilo que eu preciso. Se me dessem talvez eu nem enxergasse, até. É por isso que as vezes a conexão perde o sentido de ser e nessa brincadeira, eu também perco a conexão comigo. Com a minha centelha, com aquilo que faz a minha alma vibrar. Quando eu me conecto com a minha parte bonita, eu me conecto com todo o resto. Quando eu encaro meus escuros, eu não vejo mais nada. 

Quanto mais luz, mais sombra. Ontem eu tava lendo um livro de um grupo de estudos que estou participando e o livro dizia um pouco sobre karma, e que algumas pessoas acabam tendo problemas recorrentes mais graves para liberar esses karmas de um jeito mais rápido. Forjada a ferro e fogo, me disseram uma vez. Parece chique, parece exclusivo, talvez fosse pra eu me sentir especial de alguma forma, mais forte. Eu sei que sou forte pra caramba, mas a carcaça também cansa. A força esmorece, mesmo que ela nunca saia realmente de dentro de mim. Eu tô sempre lendo alguma coisa, procurando uma direção, sempre buscando uma atividade que me coloque em movimento, alguma coisa em movimento. Mas é um esforço imenso pra chegar apenas no ponto de partida onde aparentemente a grande maioria está. Então que chances eu tenho de fazer algo a mais, sair do raso?

Tem um cara falando sobre superdotação na internet. Que não tem a ver com QI´s altissimos, aparentemente, apenas uma intensa curiosidade sobre tudo. Capacidade de pensamento abstrato e a falta de conexão que isso traz, por não poder ter uma conversa dessas com qualquer pessoa. O quanto isso tá relacionado com tdah e outras patologias emocionais e mentais. Eu me identifiquei quando ele falou que dificilmente uma pessoa superdotada vai achar que é superdotada simplesmente pelo fato de se achar tão estranha, ter uma autoestima tão minada pelos anos de estranhismo pela vida afora, que o simples termo super-dotado parece uma piada. Parece mesmo, mas o discurso me pegou. Sempre tive facilidade pras coisas que me interessam, enquanto os estudos formais sempre me soaram inúteis e simplesmente eu não gravava. Hoje em dia, não sei se por estresse, pelo uso de remédios, meu cérebro fritou. Tenho dificuldade de entender alguns pensamentos, dificuldade de ler algumas coisas, mas ao mesmo tempo consegui ler vários livros em uma lingua que eu ainda tô tentando dominar. 

Pode ser uma resposta, pode não ser. Pode ser só mais um fato que vou juntar naquela pilha e não fazer nada com ele. 

Pode ser só meus hormônios que deram uma surtada e eu fui pega desprevenida. Pode ser um monte de coisas. Pode ser também só mais uma confirmação do quanto eu tô cansada dessa vida e do quanto eu não tenho nenhuma solução em vista ainda. 

Me deseje sorte, 

Até amanhã quem sabe. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A ladeira tá logo ali

 Eu tô meio estranha de novo. Desde que o ano começou, tenho dormido mal, demoro pra dormir mesmo morrendo de sono, tenho sono cortado e tenho acordado com dor no pescoço. Aí claro, não tô prestando. Deixei de escrever, deixei de estudar, deixei de lado meus projetos e tava fazendo só o mínimo pra manter a missa acontecendo. Pode ser tpm, pode. Deus sabe que sou refém dos meus hormônios da felicidade, mas com certeza a falta de sono não tá ajudando. Ou minha cabeça. 
Porque claro, já fiquei contabilizando quantos dias eu tenho para terminar o curso, e que eu não tenho exatamente dois dias para terminar cada aula do jeito que eu quero. Fico vendo cada coisa na minha casa piscando em neon me lembrando que eu não fiz, a lista de tarefas se repassando aqui na tela mental só pra dizer que eu tô atrasada no rolê. 

Eu sou a pior coisa que pode acontecer comigo, e se eu deixar, também a melhor. 

Não tá um caos, ainda. Mas eu conheço os sinais e sei que eu tenho que reforçar minha vigilância pra não sair rolando ladeira abaixo nos próximos dias. É incrível como as coisas se amarram e se justificam umas as outras. Não faço as coisas porque tô extremamente cansada, mas as coisas ficam aí me lembrando que querem ser feitas e o tempo continua passando.

Dai me sinto uma fraude, derrotada. 

Aproveitando esse lampejo de consciência, vou tentar fazer diferente hoje. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

E agora?

Eu tenho noção de que sou velha há muito tempo. Não de idade, não de aparência, mas de costumes, vontades, hábitos e forma de pensar. Mas volta e meia acontece alguma coisa que me faz me sentir como uma criança, seja pela ingenuidade, fragilidade ou simplesmente pela falta de habilidade em lidar com alguma situação ou emoção. 

Eu tenho sido firme em respeitar minha vontade e especialmente, em não deixar ninguém abusar da minha boa vontade e disposição. Claro que a pessoa número um, campeã invicta nesse aspecto é minha irmã. Ela não é conhecida pela organização que ela mantém, nem sequer limpeza. Ela deixa muito claro que ela não se importa com isso, é claro, ela quer as coisas limpas, desde que não seja ela segurando a vassoura. Já larguei mão de tentar manter a parte comum limpa porque ninguém parece ter o mínimo apreço em desviar das suas preguiças pra manter o lugar organizado, mesmo que a pessoa tenha passado dias organizando aquilo. Águas passadas. 

Bom, ela me pediu pra ajudar a organizar a casa dela porque ela vai receber um amigo. A casa dela tá apocalíptica há vários meses, com a desculpa de que ou ela está muito mal para conseguir limpar (o que eu entendo) ou que está muito ocupada produzindo para usar o tempo pra isso, o que eu também entendo. Acontece que eu já ajudei ela outras vezes e o desfecho é sempre o mesmo, eu acabo fazendo tudo ou a maior parte, porque ela trabalha por cinco minutos e vai ver o celular, "precisa sentar um pouco" e empilhando desculpas até que eu tenha terminado tudo sozinha. E não dura nada, a visita vira as costas e ela continua a zona de onde parou. Então só isso já não é grande motivador. 

Também tem o fato de que no geral, ela me trata mal. No geral, ela me trata bem quando ela tá bem com a vida dela, o que não é comum, ou quando ela quer alguma coisa. Tivemos dias legais ultimamente, e me deixa triste o fato de acabar nisso, ela pedindo alguma coisa porque estamos bem. 

Hoje e amanhã eu tenho que atender, com horário fixo, e também tenho que dar conta das minhas coisas que acumularam por aqui. Tive cachorro hospedado até ontem, que mijaram por tudo e por consequencia, os gatos também, porque afinal, eram intrusos na casa deles. Então meu plano de hoje era começar a limpar essa bagunça, atender, voltar pra casa e continuar, depois atender de novo e no intervalo estudar e fazer minhas coisas. 

Eu finalmente comecei a fazer umas pinturas no gatil que eu queria há muito tempo. E no meu tempo livre, eu quero fazer isso. 

Aí a parte onde me sinto infantil é justamente essa. Me custa ajudar? Não. Só me custa o fato de eu me botar em segundo/terceiro lugar pra ajudar alguém que eu não quero e que muitas vezes nem merece. Isso me parece um preço bem alto. Eu expliquei que eu tenho essas coisas pra fazer e a resposta foi a de sempre, aquela revirada de olhos, deixando bem claro que ela tá pouco se fodendo pro que eu tenho que fazer, que a minha prioridade deveria ser ela. 

Só que eu peço ajuda da minha mãe quando eu preciso, quando eu não consigo. Mas nunca pedi ajuda porque fiquei meses bagunçando e sem mexer um dedo pra mudar isso. Eu sempre tõ tentando manter a ordem, afinal eu me sinto e sou responsável por várias vidas aqui, que não tem nada a ver com os meus desarranjos emocionais. E é sempre uma ajuda, nunca ninguém teve que fazer tudo por mim enquanto eu estava lá, me fazendo de sonsa enquanto alguém arrumava minhas merdas. 

Então isso me pega de um jeito estranho, me irrita, me faz me sentir usada e puta da cara. Ofendida. Ao mesmo tempo que eu não quero discussão, porque qualquer argumento com ela sempre, invariavelmente acaba em discussão, eu também quero falar tudo isso pra ela. Mas não sei exatamente com quem estou sendo injusta. Eu tenho argumentos pra todos os lados, o meu e o dela. 

De qualquer forma, mesmo que eu ajude, eu vou me certificar de que seja uma ajuda e não um abuso. Mas eu vou tentar me esquivar do jeito que eu puder. 

Me deseje sorte,

Até amanhã, quem sabe.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Feliz Ano Novo e tal

 Não sei direito como me sentir nessa data, sempre foi a festa que eu menos gostei. Num geral, odeio ficar acordada até muito tarde, especialmente se o apelo é apenas esperar o reloginho virar pra meia noite, comer uns bagulhinhos em volta de um monte de gente que também tá querendo dormir. Ou que já tá rolando de bêbado.

Antigamente eu tinha que ficar acordada, mesmo que a comemoração fosse mínima, dentro da minha casa, porque eu tinha que ficar cuidando dos animais que morrem de medo de fogos. Tinha toda uma preparação e a gente ficava acordada até mais de 1h, porque sempre tem os retardatários que soltam fogos uma hora depois. Aqui no interior tem muito menos barulho, e na teoria a barulheira dos infernos foi proibida. Na teoria, infelizmente.

Também tem o lado que, mesmo sabendo que é tudo um contínuo, que a gente só vai seguindo, e que essa marcação é só mais uma – tem uns três tipos de ano novo pelo ano só pelo que me lembro agora, eu não deixo de ter uma sensação de angústia.

Me sinto como se estivessem me entregando um pacote, um cheque aparentemente em branco, mas que se você olhar bem, tá escrito em letras incrivelmente miúdas. Me traz ansiedade pensar o que aquele próximo bloco de tempo reserva, até porque eu sou gata escaldada. Sempre penso se vou perder alguém, humano ou peludo, e se eu devia estar aproveitando melhor a companhia de alguém que nem sei que vou perder. Já me sinto de antemão ingênua e impotente de ficar acordada até mais tarde, comemorar, fazer planos, para no fim aquele ano vir com uma voadeira e me destroçar.

Então eu prefiro ignorar. Só seguir o baile e não pensar em blocos de tempo e o que eles podem trazer pra minha vida.

Ah, eu sei, não são só de mudanças ruins que a vida vive. Mas gata escaldada tem medo de água fria também. Numa vida onde as tragédias parecem ser tão mais potentes que as vitórias, talvez esteja certo. Talvez porque as vitórias sejam mais silenciosas que as derrotas. E de novo, numa vida onde a média tá sempre baixa, qualquer perda faz um rombo no placar. Provavelmente é ignorância minha.

Vamos caminhando pra ver o que vai dar.

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.