sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Tudo

 Eu tenho dentro de mimos mais terríveis tesouros e as mais belas maldições. 

Carrego dentro de mim o caminho, o retorno, o tempo e o destino. O ponto final e a vírgula. 

Alguns dias são interrogação, em outros eu mergulho profundamente em um mar de exclamações. 

As vezes vôo alto pelos abismos, descanso minha cabeça entre as nuvens e perco o ar enquanto eu respiro. 

Já fui semente quebrando a casca e a terra desesperada pra nascer. Já destruí cidades inteiras enquanto caminhava pelas ruas, encharcada de vento. 

Já fui folha que caiu da mais altas das árvores, pra me estatelar no chão tão suavemente quanto um bebê colocado no berço pelos braços de sua mãe.

Alguns dias sou o Sol que congela os ossos e em outros vejo queimar os lábios dentro da minha geleira. 

Eu sou tudo ao mesmo tempo e ao mesmo tempo eu não sou nada disso. 

Eu sou a doença e a cura, a dor, o rastejo, a dança e a remissão. 

Sou a vitória e o choro de quem ficou em casa durante a guerra esperando notícias que não chegaram nunca. Sou também a letra e a língua cortada daqueles que ousaram falar demais. Sou algo estranho, algo de novo e um sentimento tão velho quanto o tempo.

Um emaranhado de pensamentos e a cacofonia do mundo cegando todos os meus sentidos.

Eu não sinto nada e sinto tudo ao mesmo tempo. 

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