sábado, 21 de janeiro de 2023

Bueiro

 Saúde mental é um tesouro. 

Que eu não tenho.

Tô aqui na tentativa desesperada de me autoterapeutizar, ver se escrevendo eu acabo largando alguma ideia que faça algum sentido pra eu seguir mais pra frente. 

Minha cabeça tá confusa, meu corpo dói. Meu peito tá apertado, tô amarga, mau humorada, sem vontade. Só de pensar em ver gente já me sinto cansada. 

Ontem pedi pra irmos almoçar fora e ficar dando voltas sem ter que resolver nada. Obviamente que isso não funcionou, acabou que passamos em vários lugares pra comprar coisinhas que estavam faltando, uma pequena romaria. Meu plano depois de ir almoçar era passar um pouco na praia, sentar ali por alguns minutos e simplesmente contemplar. Não consegui nem atravessar a rua. A praia tava cheia de gente, som alto, carros passando. Dei meia volta ali mesmo, não consegui lidar com aquela coisa toda. 
Também tinha me proposto a finalmente comprar uma peça de roupa que seja, e também não rolou. No horário que eu fui, já estava fechado, e quando eu estava voltando, a br tava tão parada que não compensava fazer outro caminho a não ser o de casa. Então o passeio resolveu pra exatamente nada. Voltei pra casa, pro meu quarto e pro livro, não estudei e não fiz nada pra me divertir além de ler. 

É um saco porque tudo virou cobrança. Até o fato de ler de mais ou o que eu tô lendo. Me deixa, caralho. O que eu faço pra me divertir, quando eu faço e porque não estou fazendo. Parece que tem uma enorme lupa em cima da minha cabeça me analisando pra mim mesma o tempo todo. Minha vontade de pedir ajuda é exatamente tão intensa quanto a vontade de continuar em silêncio. Minha vontade é ir passar algum tempo em algum lugar totalmente isolada, sem me preocupar com absolutamente nada, se eu vou arrumar a cama, se eu vou estudar, se eu vou tomar banho e lavar o cabelo, se eu tenho faxina pra fazer ou o quando eu pretendo comer de novo. 

É um luxo que não tem como. O tempo tá passando e quanto mais eu penso, mais eu vejo que mesmo nesse emaranhado de pensamentos e sentimentos, tá tudo no lugar. Se eu tivesse com uma agenda incrivelmente cheia de afazeres, eu provavelmente estaria procrastinando todas e surtando. Eu preciso melhorar primeiro, de novo. Preciso estabilizar minimamente pra ser capaz de executar algum plano. Eu estou completamente sem saída. Não sei pra que lado atirar, não sei o que tentar, não sei com quem falar. 

Eu tô me sentindo avulsa. Existem pouquissimas pessoas em quem eu confio. Menor ainda é o número de quem eu confio e me sinto a vontade pra falar. E mesmo assim, não tem um lugar onde eu me sinta em casa, pertencente. Sempre parece que estou por um fio. Sempre cuidando, sempre esperando algo dar errado. Sempre cuidando pra não incomodar. Em casa muito menos. Ouvi minha irmã me chamando de "aquele ser dos infernos" de alto e bom som pelo telefone aqui na minha janela, a menos de dois metros de mim, sem nenhum constrangimento. Com minha mãe eu não posso contar muito, primeiro porque ela é a primeira a botar um balde de água fria em qualquer conceito novo, se agarrando a isso como se disso dependesse a dignidade dela. Outro dia ela me falou que me amava e eu chorei, porque não tenho nenhuma lembrança dela falando isso pra mim sem que fosse respondendo depois de eu ter falado. As únicas pessoas que expressam algum orgulho por mim são tão próximas, que parece que a opinião delas é parcial e tendenciosa. Como se não fosse possível acreditar, e aí eu não acredito. 

Eu enxergo a burrice em deixar que pessoas que não me conhecem tecer opiniões sobre mim para daí eu acreditar. Essas pessoas teriam tão pouco pra avaliar, e tão bem poderiam pegar qualquer segmento da minha vida, bom ou ruim, e não necessariamente o resultado disso seria bom. 

As pessoas que realmente conhecem minha caminhada, minhas dores, meus desafios e vitórias são justamente aquelas que eu não acredito, porque nem tão no fundo, eu acho que elas falam isso só pra me ajudar a levantar a bola. 

Não dou lá muita importância para as críticas também, a não ser que elas ressoem com as minhas próprias, o que não é lá muito difícil já que eu sou campeã invicta em me massacrar diariamente. Não ligar para críticas ou elogios, e sim na própria avaliação, isso é um objetivo. Talvez eu já faça isso, mas como eu disse, minha autoavaliação é péssima em todas as áreas. 

O que eu faço direito, de verdade? O que é constante, consistente na minha rotina? Me autocriticar e ter crises, isso com certeza. Todo o resto é maleável. Não é todo dia que eu como, não é toda noite que eu durmo, e se eu peco nas necessidades básicas, você pode bem fácil seguir o raciocínio e ver em que buraco eu me encontro. 

Tô escrevendo aqui até meio surpresa, porque hoje eu tentei rezar e não saiu uma palavra. A cabeça tão confusa, nublada, o corpo estrebuchando, não consegui formar nem uma frase. Pelo menos aqui eu consigo me concentrar e aliviar a corrente de pensamentos. 

O que tava ajudando não tá mais. Talvez eu tenha me perdido em alguma prática que eu não fazia ideia do quanto tava ajudando, ou talvez fosse o período do mês, a lua, a minha vibe. Mas tá tudo muito intenso, muito pesado. Como se a sensibilidade estivesse maior e eu sentisse tudo. Pela primeira vez em sete anos, eu não tô minimamente animada para começar as atividades do terreiro. Essas férias sempre eram longas e eu ficava ansiando pelo retorno e hoje se eu pudesse escolher, nem ia. Eu posso sim escolher ficar em casa, mas eu sou mais disciplinada que isso. Eu sei que lá eu posso ter alguma ajuda, ainda que de novo, eu não me sinta pertencente ali, não tenha alguém que eu confie o suficiente para me sentir a vontade de me abrir. Já fiz isso várias vezes e várias vezes o sentimento foi, não me entenderam. 

Acho que é por isso, olhando meu mundo em volta, que eu me sinto tão sozinha. Não é por ânsia de contato físico ou nada do tipo, é por contato mental. Acolhimento emocional. Me sentir pertencendo a um lugar onde eu posso ser natural. Eu falo cochichando dentro da minha própria casa. Eu faço minhas coisas escondidas atrás da cortina fechada. Eu só canto quando não tem ninguém em casa. As vezes eu me sinto mais livre, mas num geral não. 

Eu realmente não sei o que fazer, não sei por onde começar. Sei que ficar quieta não vai fazer nada de bom por mim, mas tem horas que isso é tudo o que eu consigo. Tá na hora de eu me salvar de novo e eu não tenho nada das mãos a não ser um palito de picolé, não premiado. 

Talvez eu devesse quebrar a ponta, afiar e enfiar no olho pra acabar logo com essa história. 

Me deseje sorte. 


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