segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Na cartomante

- ... e aí, o que você tá vendo? Eu vou conseguir comprar meu carro?
- Não vejo carro, meu filho. Eu vejo seu coração enorme, reformado. Reformado com uma enorme janela na parte de trás. Eu vejo você por horas em frente a ela, absorvendo tudo (agachado) catando os caquinhos que vão te sobrar na lembrança. 
Uma parede de CDs, de poesia sua e dos outros. Principalmente dos outros. Seu relógio andando pra trás toda vez que você encontrar a guitarra velha no suporte na sala. 
Aquela que já tocou muito e hoje em dia só serve de enfeite (empenou, você vai responder). Vejo sua música favorita se transformar em campainha, que avisa quando seu filho entrar porta adentro te trazer uma mãozinha. Vejo um cinzeiro que mal esvazia. Fumaça dançando pela janela enquanto você tenta segurar o que ainda resta...
- Mas e quanto a meus amigos?
- Ah querido, isso tudo vai ser bem depois deles...

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