terça-feira, 13 de março de 2012

Carta pra você

Devia fazer bem uns vinte anos que não sabia de você, até que te vi outro dia na rua. 
Eu até achei bem estranho ver você caminhando. Você que mal sabia como se mexer depois de descer do carro. 
Eu lembro daquele carrão que você comprou e a babação toda que veio junto. 
Conta aí qual foi, você ficou pobre ou ficou gordo?
Aqui entre nós, eu dei uma boa engordada neste tempo, mas você tá bonito cara. Eu só tô achando estranho. Você não pode ter esse corpitho e aquele carrão. Com a nossa idade ou você tem um carrão e a barriga adequada pra que ele carregue, ou o corpão. Corpão anda de bicicleta, ergométrica pode ser, mas carrão não, nem vem.
E a filharada, posso apostar que você já tem até neto. Eu teria, se não tivesse castrado meu cachorro. O outro cachorro. O Roleta morreu de velho antes mesmo de eu terminar de ficar adulto.
Agora até já deu tempo de você se formar né, aliás, já deu tempo de virar doutor, desistir, chorar e começar tudo de novo. 
Não ficaria surpreso se você tivesse largado no meio aquele curso mais-do-que-chato que você fazia e trocasse por, sei lá, aquele curso na Itália que ensina a fazer sorvete. Eu com certeza largaria, ou provavelmente nem teria coragem nem de começar. E sabe que não é nada mau um tempinho na Itália, comendo um sorvetinho, um macarrãozinho a bolognesa. Minhas bichas até ficam animadas. Ai, ai, você sempre me dando idéias, Borges. Quem sabe não abro meu boteco e dai coloco seu nome nele pra fazer homenagem.
Não sei se você ainda mora no mesmo lugar, mas de onde era, minha casa é meio longe da sua pra ir andando. Mas se você resolver dar uma chance pro seu carro, passa aqui me visitar, ou também se você quiser, que fique pra quando for que tiver que ser, não é?
Mas seria legal, eu tenho treinado, e quero saber se ainda sou capaz de te vencer na figurinha. 
Então até mais meu caro,

Joaquim B.

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