sábado, 18 de fevereiro de 2023

Até parece

 É, eu sei, eu nunca mais vim aqui. Eu sei que é importante pro processo terapêutico e bla bla bla. 

Eu não consigo me concentrar na leitura. Eu sempre leio um pouco enquanto tomo café, mas já levantei várias vezes porque parece que o compromisso que eu tenho daqui a uma hora é daqui a 5 minutos e eu não posso esperar mais. De certa forma, eu sou grata pelas coisas que eu sou obrigada a fazer, porque elas me obrigam a sair da inércia. Inércia qual eu não estou conseguindo me concentrar. 

Eu tenho que ir buscar as cachorrinhas que vão ficar aqui no fim de semana. O mesmo tanto que eu odeio ter algo marcado com horário eu também tenho que agradecer, eu acho. De tarde tenho terreiro e é a mesma coisa. Horário, coisas pra arrumar antes disso e pra isso. Me deixa nervosa. Parece que minha cabeça perde a noção de quanto tempo leva as coisas e eu fico sofrendo como se eu já tivesse atrasada. Daí eu não consigo me concentrar na leitura. 

Amanhã eu vou escapar pra Curitiba. Finalmente vou ver meu amigo a sós, sem ter que interagir com mais pessoas ou resolver coisas ou ajudar em eventos que são legais mas que eu preferia não participar. Mesmo sendo com a pessoa que eu mais confio nessa vida, ainda estou com medo da interação ser demais. Mesmo sabendo que ele provavelmente entende minha necessidade de ficar quieta porque ele é exatamente igual. Mas também estando apenas nós dois, também não vou poder escapar pra dentro do meu livro. O que é exatamente a ideia de estar viajando, mas enfim. Sabe quando dizem que quando não se sabe pra onde ir, qualquer caminho serve? É mentira. Eu não sei pra onde escapar ou o que eu quero fazer, mas tem coisas que eu sei bem que não quero, definitivamente. 

Essa semana foi difícil. Relativamente mais simples comparadas as outras, mas a anedonia, a amargura e o vazio estavam bem presentes. Também foi uma semana de novos começos, novas tentativas. Comecei terapia com a psicóloga nova, que vai fazer uma anamnese pra ver se a ansiedade e a depressão escondem mais alguma coisa por trás. Faz quase duas semanas que estou tomando medicação e apesar de não estar sentido muitos efeitos colaterais, também não estou sentindo grandes melhorias. Tenho tido crises suaves de ansiedade todos os dias e a angústia segue firme. Tenho zero vontade de fazer qualquer coisa. Até arrumar a mala foi um esforço. 

É uma bosta viver assim. Mas estou mas confiante que pelo menos agora estou no caminho de descobrir se tem algo por trás de tudo isso, porque meu corpo responde assim e dai tratar direito. Pelo menos isso.

Fiquei a semana toda me puxando pra fazer outras coisas, continuar minha cortina, qualquer coisa além de ler. Não fiz. Essa semana também não teve aulas com o professor de magia, e aí eu perco todo o ritmo. Eu tô perdendo o ritmo das coisas muito fácil. Com o novo tratamento de ginecologia natural, que eu não tô fazendo, aliás, eu perdi o ritmo de tomar água. Tô tentando voltar com isso, a tintura também porque ela me fazia bem até não fazer mais, mas tá sendo um esforço. Não quero morrer, mas quero ficar encostada num barranco até que a morte resolva me enxergar. 

Ás vezes sinto aquela faísca lutadora em mim, querendo sair e enfrentar esse touro de frente, mas ela logo desiste. É como se ela fosse só um sonho, um holograma, um devaneio de criança. Como se ela nunca tivesse existido. Eu sei que eu não sou essa casquinha frágil que eu sou agora. Essa casquinha sem graça, sem cor e sem vontade. Eu sei que dentro de mim tem cores fortes, tem palavrões criativos, uma vontade sobrenatural de fazer as coisas acontecerem mesmo dentro de um universo de possibilidades limitadas. O meu universo atual. Mas ela se perdeu no labirinto de névoa e confusão mental. No labirinto onde tudo é exacerbado, onde eu consigo sentir absolutamente tudo com profundidade. Uma palavra, um sentimento, um barulho, tudo vem como um tiro de bazuca diretamente no meu peito. È por isso que eu quero ficar sozinha e em silêncio, porque tudo me fere. Tudo me faz tremer, tudo me tira do eixo. Uma casquinha. E ao mesmo tempo eu tô vivendo dentro desse limbo sem graça, sem cor e sem vontade. Como é possível sentir tudo e não sentir nada ao mesmo tempo?

Tenho tido muitos, muitos sonhos. Essa noite mesmo lembro de pelo menos dois. Noite passada também sonhei. Sonhos ok, sem perturbadores nem bons, apenas sonhos. Nada revelador, nada instigador. Mas em quantidade suficiente pra me confundir da realidade. Será que sonhei ou será que eu vivi isso? Tem horas que eu não sei, ou levo alguns segundos pra descobrir. Tô melhor mas tô ficando maluca. 

Eu quero melhorar, quero ficar bêbada de alegria, idiota, rir sem motivo, fazer piadas ruins e falar bobagens. Cadê essa Georgia? Cadê a Georgia lutadora, idiota, feliz, colorida, sonhadora? Será que ela sempre foi miragem? Quem sou eu de verdade? São pessoas tão diferentes que é difícil conceber que ambas são partes da mesma pessoa. Maluca, é isso. 

Alguém me encontre e me devolva pra mim, porque eu quero muito voltar pra casa. 

Me deseje sorte, 

Até amanhã, até parece. 

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