quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Não expulse seu sofá de casa


Não expulse seu sofá de casa.
Pelas ruas são muitos os casos.
Um porque ficou duro, outro porque ficou molenga. 
Porque ficou velho e porque (meu deus) não fica velho nunca. 
Porque ela sonha com o sofá de pelúcia cor de rosa bem no meio da sala.
Eis como me encontro: sem braço, meio furado e sem espuma. Sem nem um cachorro pra arrancar o que ainda me resta.
Abandonado na porta de casa, onde eles entram e saem toda hora e me olham constrangidos sem nunca reconsiderar e me botar pra dentro de novo.
Sem me dar um fim mais digno do que mereceria uma poltrona que se escapole pra trás toda vez que alguém vai se sentar.
Eu que trabalhei sem descanso por vinte anos e três famílias, vinte anos e três famílias e suas bundas e também as bundas dos seus queridos parentes. 
Era eu que estava lá em todos os Natais, em todos os aniversários, em todas as brigas, eu que fiz o cachorro dormir todas as noites, e se não fosse por mim, o bonito lá ja-mais teria conseguido aqueles beijos com a Laurinha.
E no entanto sou eu que estou aqui, na sarjeta da vida. Expulso de casa como um meliante. 
Agora só me resta apodrecer de tanto desgosto. 
(adeus, mundo cruel)

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