Não sei direito como me sentir nessa data, sempre foi a festa que eu menos gostei. Num geral, odeio ficar acordada até muito tarde, especialmente se o apelo é apenas esperar o reloginho virar pra meia noite, comer uns bagulhinhos em volta de um monte de gente que também tá querendo dormir. Ou que já tá rolando de bêbado.
Antigamente eu tinha que ficar acordada, mesmo que a
comemoração fosse mínima, dentro da minha casa, porque eu tinha que ficar
cuidando dos animais que morrem de medo de fogos. Tinha toda uma preparação e a
gente ficava acordada até mais de 1h, porque sempre tem os retardatários que
soltam fogos uma hora depois. Aqui no interior tem muito menos barulho, e na teoria
a barulheira dos infernos foi proibida. Na teoria, infelizmente.
Também tem o lado que, mesmo sabendo que é tudo um contínuo,
que a gente só vai seguindo, e que essa marcação é só mais uma – tem uns três
tipos de ano novo pelo ano só pelo que me lembro agora, eu não deixo de ter uma
sensação de angústia.
Me sinto como se estivessem me entregando um pacote, um
cheque aparentemente em branco, mas que se você olhar bem, tá escrito em letras
incrivelmente miúdas. Me traz ansiedade pensar o que aquele próximo bloco de
tempo reserva, até porque eu sou gata escaldada. Sempre penso se vou perder
alguém, humano ou peludo, e se eu devia estar aproveitando melhor a companhia de
alguém que nem sei que vou perder. Já me sinto de antemão ingênua e impotente
de ficar acordada até mais tarde, comemorar, fazer planos, para no fim aquele
ano vir com uma voadeira e me destroçar.
Então eu prefiro ignorar. Só seguir o baile e não pensar em
blocos de tempo e o que eles podem trazer pra minha vida.
Ah, eu sei, não são só de mudanças ruins que a vida vive.
Mas gata escaldada tem medo de água fria também. Numa vida onde as tragédias
parecem ser tão mais potentes que as vitórias, talvez esteja certo. Talvez porque
as vitórias sejam mais silenciosas que as derrotas. E de novo, numa vida onde a
média tá sempre baixa, qualquer perda faz um rombo no placar. Provavelmente é
ignorância minha.
Vamos caminhando pra ver o que vai dar.
Me deseje sorte.
Até amanhã, quem sabe.
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