sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Pessoal demais pra ser publicado mas que eu publiquei mesmo assim

 Caraca, é chegar essa época em que a gente fica na correria verdadeira que me bate umas coisas. 

Ao mesmo tempo que eu fico grata por ter alguns clientes, ainda que muito menos do que nos anos anteriores, me dá três tipos de negócio ao ver como isso pega na dinâmica aqui de casa. Minha mãe fica mega nervosa, fala alto, dá uns surtos, fica mau humorada, dramática e reclamona. A ponto de não existir mais respostas de "sim" ou "não", é sempre um discurso que se segue após uma pergunta simples e repleta de suspiros. 

Minha irmã, por outro lado, acha que tudo vai dar errado. Ela aponta para todas as possíveis falhas que podem acontecer, e bate o pé como se aquilo estivesse prestes a acontecer. Coloca vários impedimentos de horários, de rotinas, de gerenciamento de espaço, além de não contribuir com nada. Ela nunca cuida de nenhum hóspede que vem - ela mal cuida dos bichos dela o ano todo, é verdade. Não ajuda, só reclama, põe defeito e reclama que a gente não tá fazendo as coisas que ela queria que a gente fizesse por ela. 

Eu já levei pra terapia várias vezes como isso me desce mal. Meu trabalho já esteve melhor, já consegui em algumas épocas pagar por várias contas da casa além das minhas. Mas nunca senti delas o sentimento de "pô, que legal, o negócio tá fluindo" ou "massa, o que a gente pode fazer pra melhorar". Foi sempre um fardo, um troço pesado, um favor que elas estavam fazendo pra mim, mesmo na época em que todo mundo recebia dinheiro pra isso. Hoje em dia nem eu ganho dinheiro, tudo o que eu ganho vai basicamente para pagar as contas. Eu sei que eu mesma já dancei essa música várias vezes, me sentindo completamente igual, mas eu consegui ficar consciente disso e tentar reverter. Afinal é o trabalho que eu já tenho, já existe, já sou conhecida e procurada por isso. Então quem sabe vale a pena investir um pouco mais nisso aí pra ver se ainda sai alguma coisa boa. 

Não sou contra ninguém ir buscar seus caminhos, mas me dói o fato de ninguém nunca ter cogitado esse trabalho como opção, sempre soou como um favor feito a mim, mesmo. E em outros momentos ouvi minha mãe falando pra gente pensar em algo para trabalhar juntas, e dai eu penso... mas que raios? Porque não isso? Porque não tentar fazer isso dar certo, assim de coração? Metade da porcaria do trabalho é brincar e ser feliz, caceta. Ninguém precisa relar numa planilha se não quiser. Eu mesma não faço uma planilha há anos. Nenhuma delas tem que dar aquela rebolada para conversar com tutores exigentes, chatos, as frescurinhas que sempre aparecem e que a gente tem que sorrir e acenar como em qualquer trabalho. E dentre as opções acredito mesmo que a nossa não é tão ruim assim, podia ser muito pior. Se eu fosse obrigada a passar meus dias num escritório com certeza eu viveria muito mais irritada com tudo. Tirando essa semana de Natal e Ano Novo, a gente faz nossos horários, temos tempo pra nós, não tem chefe, não tem várias coisas que o mercado de trabalho normal tem. 

E certo, eu passei um ano e meio sem divulgar esse trabalho, então o volume diminuiu drasticamente. Mas é algo que bem feito, pode sim dar dinheiro e ainda ser algo divertido e leve. Essa constante rejeição bate em mim as vezes e eu fico me sentindo uma bosta. Como se eu tivesse atrapalhando todo mundo, porque todo mundo quer só que o dinheiro venha enquanto segue jogando gardenscapes ou lendo mangá. Isso me irrita num tanto que não tá escrito. A sensação que eu não sou suficiente, competente ou agradável, independente do que eu faça. Isso me dá uma vontade do caralho de sair e me virar sozinha, mesmo sabendo que nesse momento isso não é uma opção e nesse momento eu dependo ainda delas, inclusive para trabalhar. 

Porque enquanto eu tô lá na rua, nas casas atendendo, alguém tem que ficar aqui recebendo os hóspedes que vão chegar, alguém tem que estar em casa no horário do remédio das crianças que estão aqui. Aí eu acabo fazendo das duas uma: ou eu assumo todas as tarefas possíveis porque tô puta mas tentando manter a pose, ou eu largo de propósito algumas tarefas e deixo elas bufando - enquanto eu tento também manter a pose. Nos dois cenários eu acabo drenada em algum ponto, durante esses dias ou quando eles passam. É por isso que eu queria acabar com o hotel e mudar de trabalho para algo que eu fizesse sem elas. 

Pra fazer o hotel oficialmente eu precisaria construir e até nisso a gente não concorda. Porque se for pra construir algo que os hóspedes não fiquem bem de verdade, eu não quero. Eu sei que sou meio megalomaníaca e queria um baita hotel com quartos amplos cheio de bagulhada e áreas de recreação perfeitas em que a manobra dos animais fosse mais fácil. Eu sei das minhas condições financeiras, mas eu também tô ligada na maldição do provisório. O provisório fica pra sempre, e aquele espaço sem atrativo nenhum acaba fazendo exatamente isso, não atraindo ninguém. 

Então aí fico nessa sinuca de bico, porque vale mesmo a pena pensar em economizar para construir algo massa se provavelmente a realidade desse hotel maravilhosos funcionando vai ser a mesma desse caos mal humorado que a gente já vive? Pra eu construir e ao mesmo tempo, conseguir pagar alguém... eu nunca consegui isso antes. Nunca consegui ganhar o suficiente para oferecer pra alguém um salário oficial que seja. Os salários distribuídos antes eram apenas as divisões dos ganhos. E aí eu mesma caio sozinha na armadilha do "eu não vou dar certo", de não ser suficiente, de não ser competente, etc etc. 

Mas o que eu tenho por enquanto é a opção de tentar manter a pose, sem fingir coisa nenhuma. Tentar de verdade levar esses dias mais leves e fazer o melhor que eu puder - talvez como uma última tentativa de pegar um ar antes de afundar esse trabalho para sempre, não sei. Mas o que eu tenho em mãos hoje é isso e eu vou agarrar com todas as minhas forças. Que Deus me ajude. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.

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