No dia bonito, ele brincava.
Deitado na grama, oferecia sua barriga lameada pra cada um que passava por ali. Ele era imenso, peludo e caramelo, e ninguém parecia querer coçar aquela barrigona oferecida.
Então ele rolava de novo e saía pelo bairro, sem rumo, procurando uma graminha estratégica pra comover algum coçador de plantão.
Do universo paralelo de dentro de casa, eu gastava tudo o que tinha aprendido sobre educação e temperamento canino diante do berreiro. Mas a bichinha continuava gritando enlouquecida na janela. Então ela vinha, resmungava e voltava pra latir mais um pouco. Levantei pra ver e entendi tudo.
O parquinho de um mundo inteiro. Todas as coçadas que você conseguir ter. Todas as coisas do mundo a disposição do seu focinho, esperando que você cheire cheire cheire cheire.
O peludo caramelo estava no meu portão esfregando todas essas possibilidades na cara da minha cadela. Ele corria pela rua como se nada na vida pudesse ser melhor que isso.
É, adestramento nenhum ia ganhar essa. Nem ossinho e almofada. Deixa isso pro gato.
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