quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Cherôôso!


Eu estava segurando um pacote de sfihas quentinhas no ponto de ônibus, que cheiravam bem à pressa de chegar logo em casa.
Enquanto eu esperava, uma mulher virou pra mim com uma cafungada meio invejosa. Ofereci a ela o meu mais simpático "é né?" e dei por encerrado.
Então numa piscada longa ou alguma falha na linha do tempo, eu estava totalmente integrada aos detalhes mais sórdidos da vida daquela mulher. E eu podia jurar que só tinha passado um momentinho.
Nos trinta minutos que se seguiram, eu me tornei alguém de opinião fundamental na vida dela.
Eu, que só dei uma risadinha porque ela achou minha sfiha cheirosa, já tinha até companhia pra voltar pra casa.
Hoje em dia você corre o risco de pagar o jantar inteiro, só porque achou que devia ser mais simpática.
É, não tá fácil pra ninguém...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Milagre do tamanho M

No ônibus a moça estava toda faceira de roupa nova.
Autoestima costurada em malha preta e gola canoa.
Enquanto o ônibus balançava, ela alisava o cabelo com a mão e colocava (e colocava) atrás da orelha. Mesmo de costas dava pra ver que ela estava toda sorrindente. 
O caminho da autoconfiança pagando apenas uma passsagem.
E o cabelo que levava uma etiqueta M grudada então, só deixava tudo mais esnobe.

(Ai que nojo)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Morrer bonito


Não, ela não ia se matar assim.
Escarafunchar as gavetas em busca da maior faca da cozinha e depois esfregar elas nos braços. Não, definitivamente não é este o estilo dela.
Ela não é do tipo que se mata sem antes depilar as pernas.
E duvido muito que ela se deixasse morrer com uma calcinha qualquer. Ela não correria o risco de morrer com uma calcinha meio sambada.
E antes do grand finale ela deixaria tudo em ordem, porque ela sempre diz que até pra morrer tem que ter classe.
Ela também jamais pularia de um prédio só pelo risco de chegar no chão em uma posição desprivilegiada. E descabelada, que horror.
Não, ela faria as unhas (todas as vinte), escolheria um perfume com fixador preparado pra eternidade, afinal ninguém simpatiza com defunto fedido (e Deus me livre de um nariz torcido).
Ela já deixaria encomendadas as flores na cor certa combinando com a roupa, esmalte e o corte do cabelo. Ela pensaria bem no corte de cabelo.
E quando ela enfim se decidisse, junto ao corpo ela deixaria mais instruções, telefones, possíveis roupas, sapatos e também os cílios postiços (que dão assim um tchan nos olhos fechados).
Duvido que ela aceitaria menos que isso.
Ela ia morrer do jeito bonito, ah ia sim.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Puca puca puca

INSEGURANÇA é quando você precisa falar muito muito muito sobre um assunto pra não esquecer se é de verdade.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre a quietude das coisas


Você vem e me pergunta, e ai tá tudo bem? Tá tudo bem, eu vou dizer, porque outra resposta seria mesmo mentira. 
Mas também não é como se a vida estivesse assim animada, pertubadora, daquelas que chega abrindo a porta num frege e fazendo a ordem voar pela janela. 
Estou naquela vida que não te traz escolha a não ser ir pra frente. E que bom, vai tudo muito bem, muito obrigada. 
Mas entre os turnos alternados de comer, dormir e trabalhar, eu sinto falta. 
Sinto a falta que faz uma boa caraminhola na cabeça. 
A tal da pulga criada atrás da orelha. 
Enquanto meu pulso pulsa paciente, eu não tenho a menor intenção de esperar. 
Eu quero é ver o circo pegar fogo, chutar o pau da barraca, o balde e a calmaria toda. 
E ai sim meu amigo, quando você vier me perguntar, se abanque, que vou ter muita coisa pra contar.