terça-feira, 16 de abril de 2024

Quase Natal

 Hoje voltei a escrever porque a coisa ficou feia. Tô me sentindo sozinha, sem ter com quem conversar, sem vontade de conversar também. Eu posso muito bem culpar o combo ovulação mais tpm, porque provavelmente é isso mesmo que tá acontecendo. Exceto que elas duas só potencializam a merda já cagada, né°

Eu tava bem, até. Produtiva. Acho que é isso que eu considero bem hoje em dia. Mas não vou mentir, teve dias que até me senti feliz, leve, esperançosa. Mas meus hormônios combinaram um motim e eu acabei acreditando neles quando eles disseram que NÃO, tá tudo uma bosta mesmo.

Eu sei que não está. Mas ao mesmo tempo, tá sim. É o equilibrio das coisas, eu acho. 

A vitamina nova me deu ânimo, exceto por essa fase. Então ela fica permanentemente na minha vida. As outras coisas que a nutri indicou, nem tanto. A hora que acabar, não vou mais tomar. Talvez o magnesio eu continue, depende. 

Uma coisa que tô muito louca pra parar é com os remédios. Obviamente eu não quis largar agora que tinha acabado pra não arriscar ficar mal justamente nessa época do ano que teoricamente era pra ser a mais corrida pra mim. A ironia não passou desapercebida. Eu tô mal do mesmo jeito e não tem nada marcado pro Natal. Isso tá ajudando a me fazer surtar? Com certeza. 

Um dos fatores que mais me deixam me sentindo sozinha é o meu trabalho. Minha irmã há meses reclama dos eventos que ela faz, que rendem pouco, da correria, bla bla bla, e eu falei até cansar pra ela, vamos nos dedicar ao pet sitter. Cheguei até a fazer um ultimato. Resolveu? Claro que não. Ela só vai junto quando eu peço, só faz um movimento quando eu peço. Minha mãe a mesma coisa. Ela vai junto toda vez porque não quer que eu vá sozinha, mas lá eu acabo fazendo todo o trabalho sozinha. Quando eu preciso que as duas vão juntas, é o maior escarcéu e a minha teoria é porque nenhuma das duas quer trabalhar. Quando eu tô junto a tonta aqui faz tudo e elas ficam lá só sendo lindas... e se eu não vou, alguém tem que prestar atenção nas coisas, arregaçar as mangas, catar caca, falar com tutor e trabalhar. 

Eu gosto do meu trabalho. Eu recuperei parte do gosto que eu tinha perdido. Mas tem dias que eu me sinto muito bosta pra sair de casa e interagir, e me sinto mais bosta ainda quando eu tenho que explicar e provar que eu não to em condições de sair de casa e pelamordedeus vocês podem se aturar por uma hora e meia e atender esses clientes por mim?

E acho que aí que tá meu erro, no "por mm". Porque se é uma empresa FAMILIAR, não tem por mim, já que ninguém tem uma função clara. A divisão é, eu faço tudo e elas vão junto nos atendimentos. Eu sinto falta delas vestindo a camisa e tendo ideias, se empolgando, querendo ver a coisa crescer. Mas parece que não. Parece sempre que estão fazendo um favor pra mim. Pra mim. Sendo que por muito tempo a empresa pagou muita coisa da casa e todo mundo se beneficiou. Nunca rolou por muito tempo pagar um salário, mas verdade seja dita, nem pra mim esse tempo todo. Ah, eu compro uma coisa ou outra eventualmente pra mim, mas é extremamente eventual. Basicamente o que eu ganho é pra sustentar os gatos.

Mas obviamente minha irmã jogou na minha cara isso ontem. Que bem ou mal eu comprei coisas pra casa, como se eu não tivesse direito depois de ralar tanto. Porra caralho, todos os contatos passam por mim, os chatos passam por mim, eu que faço absolutamente tudo. Desde a divulgação, atendimento ao cliente, visitas, conversas, os atendimentos, cada caca que os bichos fazem sou eu quem cato. No máximo elas brincam um pouco e eu tiro fotos. Então tipo, além de elas não ajudarem no que poderia ser uma empresa familiar, eu também não tenho direito de receber pelo o que eu to fazendo? Eu devia compartilhar com elas que fazem absolutamente nada e ainda vão de má vontade quase sempre? Que não tão nem aí se a gente atende 1 ou 100? Na verdade se a gente atendesse 100 elas iam reclamar pq não estão tendo tempo de lavar roupa ou crochetar ou qualquer coisa assim. Mas tá tudo bem que eu não tenha tempo pras mesmas coisas, ou que eu faça minhas coisas totalmente encaixadas, porque EU DOU JEITO, porque eu sou tão super que pra mim é FÁCIL organizar todas as merdas da minha vida.

Deixa eu contar, NÃO É. Tem dias que eu quero mais é morrer encostada e nem é por preguiça. Bom se fosse. È porque treme tudo, não consigo respirar, tudo é triste e sem futuro na minha visão. Tem dias que isso é tudo o que eu vejo. Mas não, a conclusão de sempre é que eu tenho a casa mais arrumada das três, a casa mais "completa" das três, a que tem os babados andando, a que tem vida social, que passeia, que tem amigos, que bla bla bla bla.

Mano elas me veem como se me acompanhassem pelo instagram, só pode. Será que não veem quando eu tô pra morrer na cama ou é mas fácil me taxar de preguiçosa e inútil? Óbvio que o julgamente é mais fácil. Isso me deixa deprimida, com raiva pra caralho, com vontade de ir embora e que se foda. 

E é meio isso que eu tenho feito, cuidado de mim, feito por mim, mas é dificil ignorar o julgamento. Porque quando eu conquisto alguma coisa, não foi porque eu mereci, ou ficam felizes por mim. Não, você tá sendo irresponsável mas eu to te dando uma colher de chá por isso porque vc anda surtada. É difícil ficar feliz pelo outro né? Sabe o nome disso? Inveja, infelizmente é. 

Que Deus me ajude, viu? Especialmente a ficar de boca fechada com meus planos e sonhos e meu coração também, protegido da expectativa de ser acolhida por elas. 

Foda, viu?

Esse ano eu consegui arrumar minha casa pro Natal, mas em compensação eu tô tão suja com essa mágoa que não tô com o menor clima. Nem terminei de arrumar a árvore. E sinceramente já tô louca pra guardar essa parafernália. Tô muito magoada, chateada, poluída. Odeio estar assim. 

Amontoado de Nadas

 Ah que bonitinha, voltei a escrever aqui. Na verdade eu estava traindo vocês e escrevendo em outro lugar. Mas não se irrite, eu escrevi duas vezes só. Então foi uma traiçãozinha bem pequena, nem dá pra considerar. 

As coisas mudam né, mas elas tem a capacidade de se manter basicamente as mesmas mesmo assim. Isso não é doido?

Eu ando razoavelmente melhor, com altos e baixos, mas com baixos um pouco menos baixos que antigamente. Não, minto, bem menos baixos. Mas voltar a sentir sintomas de ansiedade é muito horrível e sinceramente eu gostaria de não sentir nunca mais. Pois cada vez parece que estou caindo ladeira abaixo de novo. Dizem que o medo da coisa é pior que a própria coisa, e acho que é esse bem o caso. Morro de medo de cair de novo e ficar como eu fiquei. Então fico aqui na esperança que seja só uma tropeçada e não um tombo.

Enfim, com essa melhora os sonhos também voltaram. A coragem de sonhar, de planejar, de querer. Coisa que eu não me dava ao luxo há muito tempo. Porque pra que sonhar se eu não sou capaz de cumprir? Pra que sonhar se eu não sei como vou estar amanhã? Pra que sonhar se nada importa, se ninguém se importa etc etc etc?

Mas eu voltei a sonhar. Também voltei a falar com pessoas e como isso faz diferença. Voltei a me abrir e discutir coisas que antes eu achava que não fazia diferença nenhuma. Voltei a me empolgar com meu trabalho, às vezes mais, às vezes menos, mas tenho feito com carinho, com gosto e com amor. Também com cansaço quando a coisa aperta, mas faz parte. 

E isso tem TANTA importância pra mim que quase não consigo explicar aqui. Me vestir pra sair, pra dar amor a um bichinho, pra brincar e fazer bagunça... quanto tempo fazia que eu não sentia essa vontade. Chegava na casa do cliente e fazia só o operacional e ficava por isso. Tenho feito isso dentro de casa também, tenho tentado curtir mais a presença dos meus filhos e me dar de verdade pra eles. 

Ainda tenho que equilibrar vários pratos enquanto adiciono mais isso na rotina, e tem dias que dá mais certo que outros. Acho que deve funcionar assim pra todo mundo, neurodivergentes ou não.

É dificil pra mim entender o que é "normal" e o que é sintoma, até porque eu tenho aprendido que muita coisa que eu achava que era minha na verdade era um sintoma. Então as vezes fico quebrando a cabeça pra tentar entender se é piruá ou se é pipoca, mas acho que também isso funciona pra todo mundo. 

Inclusive essa é um dos temas mais recorrentes das conversas, de pessoas que talvez não tenham entendimento sobre neurodivergências ou são ignorantes da própria condição. Se um ou se outro, meu grande sei lá. Mas eu fico em dúvida. 

Voltando aos sonhos, as coisas tem se moldado para que eu volte com meu pet hotel. Um dia saí pra trabalhar e atender um mísero cliente e quando voltei pra casa estava recebendo 3 hóspedes inesperados na minha casa. Eu surtei rapidamente mas achei ótimo. E pra mim foi um sinal de que eu deveria voltar com tudo isso. Agora COMO isso vai acontecer, ainda não tenho nem idéia, mas não é a primeira vez que eu passo por isso então nem vou me esquentar. A coisa simplesmente acontece e é isso. 

Mas tá legal voltar a me permitir sonhar com possibilidades. E também é claro que eu tô surtando ligeiramente em pensar se vou dar conta de mais isso, sofrendo antecipadamente pelas raivas que sei que vou passar, que já passei quando tinha o hotelzinho anos atrás. 

Cantar também está me permitindo isso. Não sonho mais em cantar para um público, mas só o fato de trocar de roupa e me vestir de gente pra brincar de artista tá sendo bem legal. E por enquanto é só isso que preciso, só desse faz de conta. Voltei a fazer exercícios, o que é um passo bem enorme considerando o quanto eu detesto me mexer. Mas tô indo e ainda tô caminhando uma vez na semana. Praticamente virei atleta. 

Mas a importância desses pequenos momentos de fuga tem sido essenciais. Com certeza é uma parte bem robusta da mina recuperação. E é por aí que vou continuar caminhando, até que não funcione mais.

Eu sei que esses dias mais xoxos fazem parte. Qual é exatamente a explicação pra eles eu não sei, mas estou tentando lidar com eles da forma mais leve possível. Tentando quase fazer eles passarem desapercebidos pra ver se eles passam sem eu ver. Quem dera. 

Como escrever também é um dos meus artifícios, estou aqui hoje escrevendo esse amontoado de nadas, só pra liberar uns gigas da cabeça e dar espaço pra minha cabeça funcionar. Enquanto isso eu tomo coragem pra começar meu dia e enfrentar as coisas que não tô a fim.

Então é isso, me deseje sorte.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

A pequena estrela no fundo do céu

 Bastante tempo passou mas pouca coisa realmente mudou. 

Mudei de estratégia, fui ao médico, estou tomando remédio. Estou discretamente fazendo minhas coisas, nem de perto fazendo tudo o que eu precisava ou queria. Tendo preferido fazer tarefas mais recreativas, mesmo que não exatamente inúteis e que com certeza estavam entaladas em alguma lista de tarefas amarelada pelo tempo. É até engraçado como tenho pegado peças furadas pra costurar, peças que eu estava usando furadas mesmo, sem quase me importar. É quase uma analogia com o que tenho tentado fazer interiormente, costurar meus buracos, reparar minhas feridas - mesmo que o melhor que posso fazer no momento é simplesmente riscar a tarefa da lista, sem me ater muito a qualidade da execução. Tá feito, então tá ok. 

Também tenho feito algumas comidinhas para mim mesma, coisa que eu adoro mas que fazia anos que não fazia. Minha audiência aqui é exigente, então é libertador fazer só pra mim, sem perguntar, sem esperar pelas caras e bocas de desagrado. Coisas simples, um sanduiche, um omelete, pequenos prazeres da vida que eu tava me furtando por tempo demais. Ouvir música e tapar o silêncio e especialmente as conversas acaloradas que rolam através da janela. 

Apesar de eu ter falado que é pouco, é uma coisa enorme. Vindo de um tempo onde passar uma pomada era uma grande coisa, ouvir música com prazer, cozinhar algo que eu tenho vontade de comer - e ter vontade de comer alguma coisa também é um ponto, fazer essas pequenas coisas recreativas só por mim. É uma vitória com certeza. Mas no quadro maior, não tenho feito nada de útil e pela primeira vez tô bem com isso. Mais bem do que antes, pelo menos. Sei que o processo é lento e nada linear, mas tenho caminhado e consigo sentir uma pontinha de esperança ao ver que as coisas parecem estar caminhando. 

Se antes eu sentia que não tinha nada dentro de mim que valesse a pena oferecer, hoje enxergo com mais clareza que sim tenho algumas coisas. Talvez não sejam grande coisa, mas elas existem. E o mais importante talvez, é que o que tenho em mim, ninguém é capaz de tirar. Minhas palavras, minha experiência, minhas percepções e essa coisa que brilha fraco hoje em dia no meu peito, mas que voltou a brilhar. A esperança, a bondade, a vontade de olhar o mundo com beleza. De novo, não mudou muita coisa, não acordei me sentindo a Polianna, mas tem algo aqui que tá querendo se mostrar mesmo que timidamente. Ao mesmo tempo, percebo que ando mais irritada, mais revoltada com as burrices e gente reclamando de barriga cheia. Destratando tudo o que respira só porque não consegue aturar nem a si mesmo. Me revolto com isso que estamos vivendo hoje, a desinformação que rola solta e as pessoas bebendo disso como se fosse o elixir da longa vida. Sou forte na defesa da sua liberdade de pensar o que quiser, mas pelo meu santo saco, não me envolva nisso. 

Sempre encontrei na raiva uma amiga, porque de alguma forma, ela me impulsiona a fazer algo diferente, quebrar as correntes, mandar todo mundo se foder e fazer aquilo que me dá vontade. Eu posso fazer isso agora? Não. Estou profundamente dependente do dinheiro da minha mãe, mas em tudo aquilo que eu puder fazer isso, eu quero. Não é sempre que eu tenho esse impulso e muito menos a força, mas estou sentindo vontade de abraçar a beleza e a leveza, mesmo que o que me motiva a isso seja a raiva. Preciso continuar por mim, porque eu sou tudo aquilo o que eu tenho. Eu preciso me defender, inflar o peito e estar aí pra mim, mesmo que pisando em cobras. Ainda que eu também rasteje muitas vezes, gosto de acreditar que sou uma cobra com princípios. 

Não tão escondido da superfície, sinto uma tristeza enorme abraçando essa raiva e vejo como isso pode acabar mal. Ainda não me sinto forte pra ter certeza que eu vou seguir de cabeça erguida, mas a certeza que eu tenho é que isso vai passar algum dia. Queria que fosse logo, queria estar inteira e voltar a trabalhar direito, ter minha liberdade de volta. Mas não tenho pra onde voltar, até porque não tem algum lugar emocional que eu gostaria de voltar. O melhor momento é agora, esse momento de esperança de cura, ou tratamento que seja. As coisas foram afundando homeopaticamente que só percebi quando era tarde demais, mas nunca teve ideal, confortável e feliz. Estável. Nunca presenciei isso. É pra lá que eu quero ir. Pra vida onde eu pago minhas contas, sustento um estilo de vida onde eu me sinto gente. Fui muito bem treinada a viver com muito pouco e apesar de querer muitas coisas, depois de cobrir algumas necessidades básicas não tenho muito mais o que querer do que apenas... me manter. Provavelmente gastaria em aulas de todo tipo, instrumentos, dança e consequentemente o que elas demandam, mas sonhar é preciso e até isso me foi roubado. Quantos anos meus foram roubados para conquistar uma suposta sabedoria que eu não tenho exata certeza se consigo acessar quando preciso. Acho que o que eu quero dizer é que agora parece que eu quero muito, mas eu sei de verdade que o meu muito é muito menos do que uma pessoa normal, se é que isso existe. 

Talvez esse pensamento me ajude a me convencer de o caminho pode ser mais fácil, já que não é muito, é mais fácil de alcançar do que um sonhão enorme, né? E se eu sou uma pessoa minimamente razoável, nada mais junto que eu mereça uma realidade condizente. Não tenho problema em começar pequeno, o que eu tenho hoje é quase nada. Também nada me falta de verdade, mas a frustração pela falta de liberdade é algo gritante.

Enfim, é isso.

Me deseje boa sorte.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O poder do sossego

 Às vezes me surpreendo com o poder do sossego. Talvez porque ultimamente eu tenha vivido uma vida lenta, mas ao mesmo tempo cheia de cobranças externas que não me deixam exatamente relaxar. É só uma vida lenta, tentando enfiar um tempo de descanso entre os meus pensamentos que ficam dando ordens e me lembrando de coisas que eu deveria ter feito há muito tempo ou estar fazendo neste momento. 

Fui viajar, ver meu amigo em Curitiba. Curitiba, como vocês sabem tem aquele climinha inglório toda vez que apareço por lá. Friozinho, chuva, garoa, tempo cinza... e não foi diferente dessa vez. Mas veio a calhar porque o rolê de carnaval que eu queria era justamente ficar em casa e curtir uma preguiça. Ver uns filmes, falar umas bobagens, falar sobre coisas sérias, tomar uns gorós e ler. E foi isso que eu tive. Dormi até mais tarde, li dois livros enquanto ele assistia seus jogos de futebol. Tive uma imersão sobre um futebol que eu não conhecia, um time que ganhou meu coração apesar de eu saber que nunca vou assistir um jogo. Um time que é pela resistência, que tenta fazer algo mais que apenas o óbvio. Achei massa de verdade. Ouvi músicas novas, fiz um novo pacto, que não tenho certeza se vai rolar mas que só pelo fato de ter existido já vale a pena. Faz alguns dias que cheguei e o sentimento bom ainda está presente. Voltei mais inteira, depois de ter passado dias em um estado de leveza e alegria que não sentia há muito tempo. Não estou me sentindo assim, mas ainda é melhor do que eu estava antes. Tô aqui escrevendo, afinal, e na sequência vou dar sequência aos meus estudos. Tô mais funcional de novo e talvez seja porque o remédio finalmente completou sua adaptação, apesar da tpm estar apitando na curva. Vamos ver quem ganha essa, façam suas apostas. 

É isso meu caro diário da injúria, dias de luta e dias de glória. Sossego é necessário. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Até parece

 É, eu sei, eu nunca mais vim aqui. Eu sei que é importante pro processo terapêutico e bla bla bla. 

Eu não consigo me concentrar na leitura. Eu sempre leio um pouco enquanto tomo café, mas já levantei várias vezes porque parece que o compromisso que eu tenho daqui a uma hora é daqui a 5 minutos e eu não posso esperar mais. De certa forma, eu sou grata pelas coisas que eu sou obrigada a fazer, porque elas me obrigam a sair da inércia. Inércia qual eu não estou conseguindo me concentrar. 

Eu tenho que ir buscar as cachorrinhas que vão ficar aqui no fim de semana. O mesmo tanto que eu odeio ter algo marcado com horário eu também tenho que agradecer, eu acho. De tarde tenho terreiro e é a mesma coisa. Horário, coisas pra arrumar antes disso e pra isso. Me deixa nervosa. Parece que minha cabeça perde a noção de quanto tempo leva as coisas e eu fico sofrendo como se eu já tivesse atrasada. Daí eu não consigo me concentrar na leitura. 

Amanhã eu vou escapar pra Curitiba. Finalmente vou ver meu amigo a sós, sem ter que interagir com mais pessoas ou resolver coisas ou ajudar em eventos que são legais mas que eu preferia não participar. Mesmo sendo com a pessoa que eu mais confio nessa vida, ainda estou com medo da interação ser demais. Mesmo sabendo que ele provavelmente entende minha necessidade de ficar quieta porque ele é exatamente igual. Mas também estando apenas nós dois, também não vou poder escapar pra dentro do meu livro. O que é exatamente a ideia de estar viajando, mas enfim. Sabe quando dizem que quando não se sabe pra onde ir, qualquer caminho serve? É mentira. Eu não sei pra onde escapar ou o que eu quero fazer, mas tem coisas que eu sei bem que não quero, definitivamente. 

Essa semana foi difícil. Relativamente mais simples comparadas as outras, mas a anedonia, a amargura e o vazio estavam bem presentes. Também foi uma semana de novos começos, novas tentativas. Comecei terapia com a psicóloga nova, que vai fazer uma anamnese pra ver se a ansiedade e a depressão escondem mais alguma coisa por trás. Faz quase duas semanas que estou tomando medicação e apesar de não estar sentido muitos efeitos colaterais, também não estou sentindo grandes melhorias. Tenho tido crises suaves de ansiedade todos os dias e a angústia segue firme. Tenho zero vontade de fazer qualquer coisa. Até arrumar a mala foi um esforço. 

É uma bosta viver assim. Mas estou mas confiante que pelo menos agora estou no caminho de descobrir se tem algo por trás de tudo isso, porque meu corpo responde assim e dai tratar direito. Pelo menos isso.

Fiquei a semana toda me puxando pra fazer outras coisas, continuar minha cortina, qualquer coisa além de ler. Não fiz. Essa semana também não teve aulas com o professor de magia, e aí eu perco todo o ritmo. Eu tô perdendo o ritmo das coisas muito fácil. Com o novo tratamento de ginecologia natural, que eu não tô fazendo, aliás, eu perdi o ritmo de tomar água. Tô tentando voltar com isso, a tintura também porque ela me fazia bem até não fazer mais, mas tá sendo um esforço. Não quero morrer, mas quero ficar encostada num barranco até que a morte resolva me enxergar. 

Ás vezes sinto aquela faísca lutadora em mim, querendo sair e enfrentar esse touro de frente, mas ela logo desiste. É como se ela fosse só um sonho, um holograma, um devaneio de criança. Como se ela nunca tivesse existido. Eu sei que eu não sou essa casquinha frágil que eu sou agora. Essa casquinha sem graça, sem cor e sem vontade. Eu sei que dentro de mim tem cores fortes, tem palavrões criativos, uma vontade sobrenatural de fazer as coisas acontecerem mesmo dentro de um universo de possibilidades limitadas. O meu universo atual. Mas ela se perdeu no labirinto de névoa e confusão mental. No labirinto onde tudo é exacerbado, onde eu consigo sentir absolutamente tudo com profundidade. Uma palavra, um sentimento, um barulho, tudo vem como um tiro de bazuca diretamente no meu peito. È por isso que eu quero ficar sozinha e em silêncio, porque tudo me fere. Tudo me faz tremer, tudo me tira do eixo. Uma casquinha. E ao mesmo tempo eu tô vivendo dentro desse limbo sem graça, sem cor e sem vontade. Como é possível sentir tudo e não sentir nada ao mesmo tempo?

Tenho tido muitos, muitos sonhos. Essa noite mesmo lembro de pelo menos dois. Noite passada também sonhei. Sonhos ok, sem perturbadores nem bons, apenas sonhos. Nada revelador, nada instigador. Mas em quantidade suficiente pra me confundir da realidade. Será que sonhei ou será que eu vivi isso? Tem horas que eu não sei, ou levo alguns segundos pra descobrir. Tô melhor mas tô ficando maluca. 

Eu quero melhorar, quero ficar bêbada de alegria, idiota, rir sem motivo, fazer piadas ruins e falar bobagens. Cadê essa Georgia? Cadê a Georgia lutadora, idiota, feliz, colorida, sonhadora? Será que ela sempre foi miragem? Quem sou eu de verdade? São pessoas tão diferentes que é difícil conceber que ambas são partes da mesma pessoa. Maluca, é isso. 

Alguém me encontre e me devolva pra mim, porque eu quero muito voltar pra casa. 

Me deseje sorte, 

Até amanhã, até parece. 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Só pra dizer que tô aqui

 Certo, escrever é importante. Então vamos escrever. 

Eu acabei abandonando tudo, para surpresa de zero eus. A leitura não, espertinhos. A leitura continua sendo meu refúgio secreto e maravilhoso. Agora quanto ao resto... já era. Estou tentando reanimar as áreas que caíram no limbo, que são todas, mas também não tô lá me esforçando muito. Semana passada fui ao psiquiatra, comecei meu tratamento ontem. Fui também a uma ginecologista natural, para tentar cercar de todo lado aquilo que influencia meu humor. Tô fazendo tudo direitinho. Tô melhor, tô, mas não tô bem. 

Já consegui limpar a casa, isso é um avanço tremendo. Ontem tive ajuda da minha mãe com o gatil que tava em triste estado. Mas por uma obra divina, fizemos e terminamos. Hoje peguei minha casa sozinha e não ficou ótimo, mas o básico bem feito tá aí. Pequenos enormes avanços comparado as últimas semanas. 

O estudo do curso ficou abandonado, mas eu vou retomar. Vou pular umas partes que eu já sei e dar foco pras coisas mais complexas e se sobrar tempo eu volto nessas partes aí. Não dá pra ficar me enchendo o saco com isso, tá super claro que eu preciso urgentemente é de sossego. 

No momento tô tomando ansiolítico, vitamina, suplemento, cogumelo, chá e tintura. Alguma coisa há de funcionar. Eu sempre fui contra tomar remédio tarja tensa. Sou contra pra mim, porque tive experiências horríveis com adaptação e efeitos colaterais, com direito a pensamentos suicidas e tudo. Mas dessa vez eu caí tão baixo que já tava tendo pensamento suicida sem nada, então de certo pior não fica. E quem sabe tava faltando me olhar com um pouco mais de acolhimento e reconhecer que o que eu tenho é uma doença e sendo assim, precisa ser tratada. E talvez eu precise dessa medicação por um tempo mais longo. Tomara que não. Mas decididamente eu não quero mais viver nessa montanha russa emocional que eu tenho vivido nos últimos dois anos. Esse limbo eterno alternado com poucos momentos de leveza. Não dá, de verdade não dá e não é assim que eu quero viver. Então se o preço disso é dar o braço a torcer e tomar o comprimidinho sinistro, bora lá. 

E de novo estou aqui tentando achar um jeito de viver bem comigo, de sobreviver meus dias, de tentar mas sem tentar muito, de me preservar e achar um meio termo pras coisas. Mas tá foda, tô cansada, tô desanimada. 

Vamos ver o que me aguarda. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe. 

domingo, 29 de janeiro de 2023

Um sopro na correnteza

 Foram dias estranhos. Talvez ainda sejam e seja eu quem não está acordada o suficiente ainda para perceber. 

Eu não tinha nenhuma palavra em mim, fosse pra escrever ou falar. Passei dias falando apenas o necessário. É um bom exercício, eu acho. 

No entanto a mente...ah, a mente. Essa não para nunca. Imagens, sensações e palavras. Enxurradas delas, nenhuma que prestasse. 

Ainda sinto o peso da mente sobre meu peito, mas com uma intensidade menor o suficiente pra me trazer de novo aqui. Pra arriscar um passo pequeno que seja, a mais. 

Estamos no dia 29 e eu acabei de terminar meu vigésimo livro. A maioria deles com 600 páginas, o maior dele com mais de 800. Dizer que eu me isolei é eufemismo. Dizer que eu fugi desesperadamente da minha própria cabeça é nada mais do que a verdade. 

Não tenho certeza se quero voltar pra realidade. Ela não tem me feito sentido nenhum, assim como falar com qualquer pessoa que seja. Sou eu que tenho que resolver, que encontrar a saída. Eu que tenho que abrir o caminho até encontrar a luz no final desse túnel interminável. 

Ando me arrastando pela vida, com o corpo fraco e a mente em frangalhos. Uma carcaça ambulante. Sorte a minha ser uma carcaça bem teimosa. A única e talvez a mais preciosa sorte. Pelas numerosas vezes em que quis enfiar a cara no travesseiro até não conseguir mais respirar, estar aqui é um ato de resistência onde eu sou meu próprio herói e feitor. Eu sou tudo isso, apesar de não ser nada mais que um sopro nesses últimos meses. 

Vamos ver o que o dia de hoje me reserva. 

Me deseje sorte. 

Até qualquer dia. 

sábado, 21 de janeiro de 2023

Bueiro

 Saúde mental é um tesouro. 

Que eu não tenho.

Tô aqui na tentativa desesperada de me autoterapeutizar, ver se escrevendo eu acabo largando alguma ideia que faça algum sentido pra eu seguir mais pra frente. 

Minha cabeça tá confusa, meu corpo dói. Meu peito tá apertado, tô amarga, mau humorada, sem vontade. Só de pensar em ver gente já me sinto cansada. 

Ontem pedi pra irmos almoçar fora e ficar dando voltas sem ter que resolver nada. Obviamente que isso não funcionou, acabou que passamos em vários lugares pra comprar coisinhas que estavam faltando, uma pequena romaria. Meu plano depois de ir almoçar era passar um pouco na praia, sentar ali por alguns minutos e simplesmente contemplar. Não consegui nem atravessar a rua. A praia tava cheia de gente, som alto, carros passando. Dei meia volta ali mesmo, não consegui lidar com aquela coisa toda. 
Também tinha me proposto a finalmente comprar uma peça de roupa que seja, e também não rolou. No horário que eu fui, já estava fechado, e quando eu estava voltando, a br tava tão parada que não compensava fazer outro caminho a não ser o de casa. Então o passeio resolveu pra exatamente nada. Voltei pra casa, pro meu quarto e pro livro, não estudei e não fiz nada pra me divertir além de ler. 

É um saco porque tudo virou cobrança. Até o fato de ler de mais ou o que eu tô lendo. Me deixa, caralho. O que eu faço pra me divertir, quando eu faço e porque não estou fazendo. Parece que tem uma enorme lupa em cima da minha cabeça me analisando pra mim mesma o tempo todo. Minha vontade de pedir ajuda é exatamente tão intensa quanto a vontade de continuar em silêncio. Minha vontade é ir passar algum tempo em algum lugar totalmente isolada, sem me preocupar com absolutamente nada, se eu vou arrumar a cama, se eu vou estudar, se eu vou tomar banho e lavar o cabelo, se eu tenho faxina pra fazer ou o quando eu pretendo comer de novo. 

É um luxo que não tem como. O tempo tá passando e quanto mais eu penso, mais eu vejo que mesmo nesse emaranhado de pensamentos e sentimentos, tá tudo no lugar. Se eu tivesse com uma agenda incrivelmente cheia de afazeres, eu provavelmente estaria procrastinando todas e surtando. Eu preciso melhorar primeiro, de novo. Preciso estabilizar minimamente pra ser capaz de executar algum plano. Eu estou completamente sem saída. Não sei pra que lado atirar, não sei o que tentar, não sei com quem falar. 

Eu tô me sentindo avulsa. Existem pouquissimas pessoas em quem eu confio. Menor ainda é o número de quem eu confio e me sinto a vontade pra falar. E mesmo assim, não tem um lugar onde eu me sinta em casa, pertencente. Sempre parece que estou por um fio. Sempre cuidando, sempre esperando algo dar errado. Sempre cuidando pra não incomodar. Em casa muito menos. Ouvi minha irmã me chamando de "aquele ser dos infernos" de alto e bom som pelo telefone aqui na minha janela, a menos de dois metros de mim, sem nenhum constrangimento. Com minha mãe eu não posso contar muito, primeiro porque ela é a primeira a botar um balde de água fria em qualquer conceito novo, se agarrando a isso como se disso dependesse a dignidade dela. Outro dia ela me falou que me amava e eu chorei, porque não tenho nenhuma lembrança dela falando isso pra mim sem que fosse respondendo depois de eu ter falado. As únicas pessoas que expressam algum orgulho por mim são tão próximas, que parece que a opinião delas é parcial e tendenciosa. Como se não fosse possível acreditar, e aí eu não acredito. 

Eu enxergo a burrice em deixar que pessoas que não me conhecem tecer opiniões sobre mim para daí eu acreditar. Essas pessoas teriam tão pouco pra avaliar, e tão bem poderiam pegar qualquer segmento da minha vida, bom ou ruim, e não necessariamente o resultado disso seria bom. 

As pessoas que realmente conhecem minha caminhada, minhas dores, meus desafios e vitórias são justamente aquelas que eu não acredito, porque nem tão no fundo, eu acho que elas falam isso só pra me ajudar a levantar a bola. 

Não dou lá muita importância para as críticas também, a não ser que elas ressoem com as minhas próprias, o que não é lá muito difícil já que eu sou campeã invicta em me massacrar diariamente. Não ligar para críticas ou elogios, e sim na própria avaliação, isso é um objetivo. Talvez eu já faça isso, mas como eu disse, minha autoavaliação é péssima em todas as áreas. 

O que eu faço direito, de verdade? O que é constante, consistente na minha rotina? Me autocriticar e ter crises, isso com certeza. Todo o resto é maleável. Não é todo dia que eu como, não é toda noite que eu durmo, e se eu peco nas necessidades básicas, você pode bem fácil seguir o raciocínio e ver em que buraco eu me encontro. 

Tô escrevendo aqui até meio surpresa, porque hoje eu tentei rezar e não saiu uma palavra. A cabeça tão confusa, nublada, o corpo estrebuchando, não consegui formar nem uma frase. Pelo menos aqui eu consigo me concentrar e aliviar a corrente de pensamentos. 

O que tava ajudando não tá mais. Talvez eu tenha me perdido em alguma prática que eu não fazia ideia do quanto tava ajudando, ou talvez fosse o período do mês, a lua, a minha vibe. Mas tá tudo muito intenso, muito pesado. Como se a sensibilidade estivesse maior e eu sentisse tudo. Pela primeira vez em sete anos, eu não tô minimamente animada para começar as atividades do terreiro. Essas férias sempre eram longas e eu ficava ansiando pelo retorno e hoje se eu pudesse escolher, nem ia. Eu posso sim escolher ficar em casa, mas eu sou mais disciplinada que isso. Eu sei que lá eu posso ter alguma ajuda, ainda que de novo, eu não me sinta pertencente ali, não tenha alguém que eu confie o suficiente para me sentir a vontade de me abrir. Já fiz isso várias vezes e várias vezes o sentimento foi, não me entenderam. 

Acho que é por isso, olhando meu mundo em volta, que eu me sinto tão sozinha. Não é por ânsia de contato físico ou nada do tipo, é por contato mental. Acolhimento emocional. Me sentir pertencendo a um lugar onde eu posso ser natural. Eu falo cochichando dentro da minha própria casa. Eu faço minhas coisas escondidas atrás da cortina fechada. Eu só canto quando não tem ninguém em casa. As vezes eu me sinto mais livre, mas num geral não. 

Eu realmente não sei o que fazer, não sei por onde começar. Sei que ficar quieta não vai fazer nada de bom por mim, mas tem horas que isso é tudo o que eu consigo. Tá na hora de eu me salvar de novo e eu não tenho nada das mãos a não ser um palito de picolé, não premiado. 

Talvez eu devesse quebrar a ponta, afiar e enfiar no olho pra acabar logo com essa história. 

Me deseje sorte. 


sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Shh...

É, faz um tempo que não venho aqui. Não tenho tido vontade de falar com ninguém, nem com você. E apesar da minha cabeça estar vazando com conversas internas e reflexões inúteis, eu só quero ficar preenchendo minha mente com histórias. Então tô lendo loucamente. Por sorte ou não, tenho acertado uma fila de livros bons, inlargáveis, que ajudam nesse objetivo. Também são ótimos pra me ajudar a passar noites em claro, nem sono eu tenho sentido. Dormir tem sido um esforço consciente.

Ficar acordada também tem sido um esforço consciente. Eu sinto meus lábios enrugando pra dentro, do sabor amargo que tenho sentido. O coração pesado, a falta de vontade, pensamentos que me perseguem. 

E no cansaço dos dias e noites sem dormir, perdi totalmente meu ritmo. Parei de escrever aqui, tô estudando igual meu nariz, faz quatro dias que estou tentando terminar uma única aula. A porta que comecei a pintar tá do mesmo jeito há duas semanas. Nem preciso começar a contar sobre minha casa. 

Tomar o cogumelo me ajuda, mas ele me deixa ligada, então pra ver se durmo, tenho pulado as doses. Sigo tomando as tinturas, a do dia e a da noite, mas nem isso tem segurado minha onda. Ou talvez essa seja eu com a onda segurada. Todo esse caos por causa dos hormônios, e eu que lide com o rebote. Até eu pegar o ritmo de novo, já vai estar naquela fase de novo. E assim a gente vive, meu Brasil. 

As vezes é um saco ser eu. Inferno, na maioria das vezes é. Talvez eu devesse seriamente parar de contar tudo o que tenho feito pra melhorar, porque isso só faz parecer o quanto tô ótima, tentando, sobrevivendo. Tem sido daqueles dias que nem o básico bem feito tá saindo bem feito. Tá sendo feito, fim. E o que eu posso deixar pra depois nem entra na agenda. 

E não tem ninguém me cobrando, o que é ótimo, mas o que também me deixa definhar a perder de vista. Mas eu mesma fico me cobrando, preciso trabalhar, preciso ganhar dinheiro, não quero viver assim, não dá mais pra viver assim, quando que eu vou me levantar pra vida, quando que eu vou botar em prática as coisas que planejei, será que eu deveria ver um psiquiatra, será que eu deveria mudar de terapeuta, mas caralho, não tenho dinheiro pra escolher essas coisas, então eu deveria me esforçar pra trabalhar, procurar clientes, divulgar e parecer muito feliz porque eu tô fazendo o que sempre sonhei. 

Sem saída. Sem esperança. 

Mesmo nos dias melhores, eu não fiz lá grande coisa pra avançar na direção que eu supostamente quero. Então o problema realmente é depressão e ansiedade ou simplesmente porque sou muito cagada, desmotivada e preguiçosa? Será que eu quero as coisas do jeito fácil, enquanto tá todo mundo se lascando mas fazendo de um jeito que eu olho e acho que essas pessoas é que são sortudas, porque tá tudo fácil pra elas. 

O labirinto da mente fede. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã ou qualquer dia. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Tudo

 Eu tenho dentro de mimos mais terríveis tesouros e as mais belas maldições. 

Carrego dentro de mim o caminho, o retorno, o tempo e o destino. O ponto final e a vírgula. 

Alguns dias são interrogação, em outros eu mergulho profundamente em um mar de exclamações. 

As vezes vôo alto pelos abismos, descanso minha cabeça entre as nuvens e perco o ar enquanto eu respiro. 

Já fui semente quebrando a casca e a terra desesperada pra nascer. Já destruí cidades inteiras enquanto caminhava pelas ruas, encharcada de vento. 

Já fui folha que caiu da mais altas das árvores, pra me estatelar no chão tão suavemente quanto um bebê colocado no berço pelos braços de sua mãe.

Alguns dias sou o Sol que congela os ossos e em outros vejo queimar os lábios dentro da minha geleira. 

Eu sou tudo ao mesmo tempo e ao mesmo tempo eu não sou nada disso. 

Eu sou a doença e a cura, a dor, o rastejo, a dança e a remissão. 

Sou a vitória e o choro de quem ficou em casa durante a guerra esperando notícias que não chegaram nunca. Sou também a letra e a língua cortada daqueles que ousaram falar demais. Sou algo estranho, algo de novo e um sentimento tão velho quanto o tempo.

Um emaranhado de pensamentos e a cacofonia do mundo cegando todos os meus sentidos.

Eu não sinto nada e sinto tudo ao mesmo tempo. 

QI´s altíssimos e emoções abissais

 Eu tenho terapia daqui a pouco e tô pensando no que eu vou falar. Eu ando meio perdida, essa é a verdade. Mas o fato de eu estar sempre caminhando, sempre tentando alguma coisa, de alguma forma faz com que minha terapeuta ache tudo ótimo, o aprendizado que eu tenho com a minha visão das coisas, a forma como eu lido com as coisas, o fato de eu estar me movimentando - mesmo que as vezes minimamente - o que rapidamente faz ela concluir que não, eu não tô perdida de maneira alguma. Então muitas vezes eu deixo muito tempo passar entre uma sessão e outra, porque eu acabo não vendo sentido em conversar. Eu tô sempre buscando uma resposta, e eu vejo a armadilha disso. A resposta sempre está e sempre esteve dentro de cada um. Mas eu acho reconfortante ver gente falando sobre coisas que me são naturais, gente dando nome pros meus bois. Na esperança que essas reflexões me façam encontrar uma resposta, um caminho, uma luz que me mostre o passo adiante. 

O passo adiante no entanto, é continuar caminhando. Continuar observando, continuar buscando a lição. Fazer o que dá, não o melhor que dá. Não dar tudo de si porque nada compensa esse gasto. O melhor de mim tem que vir pra mim, pra minha saúde e pra viver emocionalmente bem. 

Eu sei que a resposta não tá no outro e que ninguém vai me dar de bandeja aquilo que eu preciso. Se me dessem talvez eu nem enxergasse, até. É por isso que as vezes a conexão perde o sentido de ser e nessa brincadeira, eu também perco a conexão comigo. Com a minha centelha, com aquilo que faz a minha alma vibrar. Quando eu me conecto com a minha parte bonita, eu me conecto com todo o resto. Quando eu encaro meus escuros, eu não vejo mais nada. 

Quanto mais luz, mais sombra. Ontem eu tava lendo um livro de um grupo de estudos que estou participando e o livro dizia um pouco sobre karma, e que algumas pessoas acabam tendo problemas recorrentes mais graves para liberar esses karmas de um jeito mais rápido. Forjada a ferro e fogo, me disseram uma vez. Parece chique, parece exclusivo, talvez fosse pra eu me sentir especial de alguma forma, mais forte. Eu sei que sou forte pra caramba, mas a carcaça também cansa. A força esmorece, mesmo que ela nunca saia realmente de dentro de mim. Eu tô sempre lendo alguma coisa, procurando uma direção, sempre buscando uma atividade que me coloque em movimento, alguma coisa em movimento. Mas é um esforço imenso pra chegar apenas no ponto de partida onde aparentemente a grande maioria está. Então que chances eu tenho de fazer algo a mais, sair do raso?

Tem um cara falando sobre superdotação na internet. Que não tem a ver com QI´s altissimos, aparentemente, apenas uma intensa curiosidade sobre tudo. Capacidade de pensamento abstrato e a falta de conexão que isso traz, por não poder ter uma conversa dessas com qualquer pessoa. O quanto isso tá relacionado com tdah e outras patologias emocionais e mentais. Eu me identifiquei quando ele falou que dificilmente uma pessoa superdotada vai achar que é superdotada simplesmente pelo fato de se achar tão estranha, ter uma autoestima tão minada pelos anos de estranhismo pela vida afora, que o simples termo super-dotado parece uma piada. Parece mesmo, mas o discurso me pegou. Sempre tive facilidade pras coisas que me interessam, enquanto os estudos formais sempre me soaram inúteis e simplesmente eu não gravava. Hoje em dia, não sei se por estresse, pelo uso de remédios, meu cérebro fritou. Tenho dificuldade de entender alguns pensamentos, dificuldade de ler algumas coisas, mas ao mesmo tempo consegui ler vários livros em uma lingua que eu ainda tô tentando dominar. 

Pode ser uma resposta, pode não ser. Pode ser só mais um fato que vou juntar naquela pilha e não fazer nada com ele. 

Pode ser só meus hormônios que deram uma surtada e eu fui pega desprevenida. Pode ser um monte de coisas. Pode ser também só mais uma confirmação do quanto eu tô cansada dessa vida e do quanto eu não tenho nenhuma solução em vista ainda. 

Me deseje sorte, 

Até amanhã quem sabe. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A ladeira tá logo ali

 Eu tô meio estranha de novo. Desde que o ano começou, tenho dormido mal, demoro pra dormir mesmo morrendo de sono, tenho sono cortado e tenho acordado com dor no pescoço. Aí claro, não tô prestando. Deixei de escrever, deixei de estudar, deixei de lado meus projetos e tava fazendo só o mínimo pra manter a missa acontecendo. Pode ser tpm, pode. Deus sabe que sou refém dos meus hormônios da felicidade, mas com certeza a falta de sono não tá ajudando. Ou minha cabeça. 
Porque claro, já fiquei contabilizando quantos dias eu tenho para terminar o curso, e que eu não tenho exatamente dois dias para terminar cada aula do jeito que eu quero. Fico vendo cada coisa na minha casa piscando em neon me lembrando que eu não fiz, a lista de tarefas se repassando aqui na tela mental só pra dizer que eu tô atrasada no rolê. 

Eu sou a pior coisa que pode acontecer comigo, e se eu deixar, também a melhor. 

Não tá um caos, ainda. Mas eu conheço os sinais e sei que eu tenho que reforçar minha vigilância pra não sair rolando ladeira abaixo nos próximos dias. É incrível como as coisas se amarram e se justificam umas as outras. Não faço as coisas porque tô extremamente cansada, mas as coisas ficam aí me lembrando que querem ser feitas e o tempo continua passando.

Dai me sinto uma fraude, derrotada. 

Aproveitando esse lampejo de consciência, vou tentar fazer diferente hoje. 

Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

E agora?

Eu tenho noção de que sou velha há muito tempo. Não de idade, não de aparência, mas de costumes, vontades, hábitos e forma de pensar. Mas volta e meia acontece alguma coisa que me faz me sentir como uma criança, seja pela ingenuidade, fragilidade ou simplesmente pela falta de habilidade em lidar com alguma situação ou emoção. 

Eu tenho sido firme em respeitar minha vontade e especialmente, em não deixar ninguém abusar da minha boa vontade e disposição. Claro que a pessoa número um, campeã invicta nesse aspecto é minha irmã. Ela não é conhecida pela organização que ela mantém, nem sequer limpeza. Ela deixa muito claro que ela não se importa com isso, é claro, ela quer as coisas limpas, desde que não seja ela segurando a vassoura. Já larguei mão de tentar manter a parte comum limpa porque ninguém parece ter o mínimo apreço em desviar das suas preguiças pra manter o lugar organizado, mesmo que a pessoa tenha passado dias organizando aquilo. Águas passadas. 

Bom, ela me pediu pra ajudar a organizar a casa dela porque ela vai receber um amigo. A casa dela tá apocalíptica há vários meses, com a desculpa de que ou ela está muito mal para conseguir limpar (o que eu entendo) ou que está muito ocupada produzindo para usar o tempo pra isso, o que eu também entendo. Acontece que eu já ajudei ela outras vezes e o desfecho é sempre o mesmo, eu acabo fazendo tudo ou a maior parte, porque ela trabalha por cinco minutos e vai ver o celular, "precisa sentar um pouco" e empilhando desculpas até que eu tenha terminado tudo sozinha. E não dura nada, a visita vira as costas e ela continua a zona de onde parou. Então só isso já não é grande motivador. 

Também tem o fato de que no geral, ela me trata mal. No geral, ela me trata bem quando ela tá bem com a vida dela, o que não é comum, ou quando ela quer alguma coisa. Tivemos dias legais ultimamente, e me deixa triste o fato de acabar nisso, ela pedindo alguma coisa porque estamos bem. 

Hoje e amanhã eu tenho que atender, com horário fixo, e também tenho que dar conta das minhas coisas que acumularam por aqui. Tive cachorro hospedado até ontem, que mijaram por tudo e por consequencia, os gatos também, porque afinal, eram intrusos na casa deles. Então meu plano de hoje era começar a limpar essa bagunça, atender, voltar pra casa e continuar, depois atender de novo e no intervalo estudar e fazer minhas coisas. 

Eu finalmente comecei a fazer umas pinturas no gatil que eu queria há muito tempo. E no meu tempo livre, eu quero fazer isso. 

Aí a parte onde me sinto infantil é justamente essa. Me custa ajudar? Não. Só me custa o fato de eu me botar em segundo/terceiro lugar pra ajudar alguém que eu não quero e que muitas vezes nem merece. Isso me parece um preço bem alto. Eu expliquei que eu tenho essas coisas pra fazer e a resposta foi a de sempre, aquela revirada de olhos, deixando bem claro que ela tá pouco se fodendo pro que eu tenho que fazer, que a minha prioridade deveria ser ela. 

Só que eu peço ajuda da minha mãe quando eu preciso, quando eu não consigo. Mas nunca pedi ajuda porque fiquei meses bagunçando e sem mexer um dedo pra mudar isso. Eu sempre tõ tentando manter a ordem, afinal eu me sinto e sou responsável por várias vidas aqui, que não tem nada a ver com os meus desarranjos emocionais. E é sempre uma ajuda, nunca ninguém teve que fazer tudo por mim enquanto eu estava lá, me fazendo de sonsa enquanto alguém arrumava minhas merdas. 

Então isso me pega de um jeito estranho, me irrita, me faz me sentir usada e puta da cara. Ofendida. Ao mesmo tempo que eu não quero discussão, porque qualquer argumento com ela sempre, invariavelmente acaba em discussão, eu também quero falar tudo isso pra ela. Mas não sei exatamente com quem estou sendo injusta. Eu tenho argumentos pra todos os lados, o meu e o dela. 

De qualquer forma, mesmo que eu ajude, eu vou me certificar de que seja uma ajuda e não um abuso. Mas eu vou tentar me esquivar do jeito que eu puder. 

Me deseje sorte,

Até amanhã, quem sabe.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Feliz Ano Novo e tal

 Não sei direito como me sentir nessa data, sempre foi a festa que eu menos gostei. Num geral, odeio ficar acordada até muito tarde, especialmente se o apelo é apenas esperar o reloginho virar pra meia noite, comer uns bagulhinhos em volta de um monte de gente que também tá querendo dormir. Ou que já tá rolando de bêbado.

Antigamente eu tinha que ficar acordada, mesmo que a comemoração fosse mínima, dentro da minha casa, porque eu tinha que ficar cuidando dos animais que morrem de medo de fogos. Tinha toda uma preparação e a gente ficava acordada até mais de 1h, porque sempre tem os retardatários que soltam fogos uma hora depois. Aqui no interior tem muito menos barulho, e na teoria a barulheira dos infernos foi proibida. Na teoria, infelizmente.

Também tem o lado que, mesmo sabendo que é tudo um contínuo, que a gente só vai seguindo, e que essa marcação é só mais uma – tem uns três tipos de ano novo pelo ano só pelo que me lembro agora, eu não deixo de ter uma sensação de angústia.

Me sinto como se estivessem me entregando um pacote, um cheque aparentemente em branco, mas que se você olhar bem, tá escrito em letras incrivelmente miúdas. Me traz ansiedade pensar o que aquele próximo bloco de tempo reserva, até porque eu sou gata escaldada. Sempre penso se vou perder alguém, humano ou peludo, e se eu devia estar aproveitando melhor a companhia de alguém que nem sei que vou perder. Já me sinto de antemão ingênua e impotente de ficar acordada até mais tarde, comemorar, fazer planos, para no fim aquele ano vir com uma voadeira e me destroçar.

Então eu prefiro ignorar. Só seguir o baile e não pensar em blocos de tempo e o que eles podem trazer pra minha vida.

Ah, eu sei, não são só de mudanças ruins que a vida vive. Mas gata escaldada tem medo de água fria também. Numa vida onde as tragédias parecem ser tão mais potentes que as vitórias, talvez esteja certo. Talvez porque as vitórias sejam mais silenciosas que as derrotas. E de novo, numa vida onde a média tá sempre baixa, qualquer perda faz um rombo no placar. Provavelmente é ignorância minha.

Vamos caminhando pra ver o que vai dar.

Me deseje sorte.

Até amanhã, quem sabe.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Festividades ligeiramente apocalípticas

 Realmente, ontem fiz muito mais do que achei que daria conta. Tive que dormir no meio do caminho, mas depois foi que foi. Hoje eu só quero ficar paradinha e assim permanecer. 

Um pouco porque tive um sonoro despertar com Quito e Severino se embrenhando nas cortinas, rosnando e se unhando, 5:45. Levantei e coloquei o Quito pra fora. Separei a Bigi pra dar a comida dela que é diferente dos outros gatos, coloquei o Severino no gatil. A Pérola fugiu duas vezes do quarto porque queria a comida da Bigi, que por sua vez não queria a própria comida e quando voltei do gatil, ela já tava acabando com a comida da amiguinha. Ela come porção controlada porque está com cistite e eternamente de dieta. Coloquei água para esquentar e fui abrir um café cremoso que eu ganhei, que imediatamente explodiu na minha blusa, mãos e pia. Aí fui provar o café e provavelmente o ranço entrou em ação nesse momento, porque achei bem ok. Liguei o computador enquanto novamente a Bigi tentava comer a comida que não era dela, ao mesmo tempo que eu tentava convencer a Muga de parar de comer sacola e vir comer o caralho da comida que eu coloquei pra ela. O dia começou festivo. 

Mas já passa. Já vai passar e logo desce a disposição pra eu continuar o que comecei ontem. Tenho fé. Se nada der certo, vou ler meu livro. Quero encerrar o ano com 130 livros e ainda tô no 128. Não quero terminar o ano num número feio, até porque provavelmente não vou ler tanto assim nunca mais na vida. Acho que não mesmo, aliás, eu espero que não, considerando que eu só li esse tanto porque passei muito, mas muito tempo deitada na cama ignorando a vida. Então eu espero humildemente que não. 

Hoje já não acordei tão corajosa quanto ao meu trabalho. Enquanto estava na cama tomando coragem pra levantar, achei um perfil que fala de gatos com uma proposta massa, mas vendo os comentários já me bateu aquele ranço. O perfil tem menos de um mês e muitos seguidores mesmo. Mas é aquela coisa, vídeo informativo, cheio de edições e coisa assim. Eu gosto de me expressar por foto, por texto. Mas nem vou me alongar muito aqui pra não dar trela pras minhas amebas. O foco no momento é o pet sitter e é isso, até que eu trabalhe isso melhor em mim pelo menos. 

Preciso melhorar a vibe desse dia. Me deseje sorte. 

Até amanhã, quem sabe

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Feito foguete

Hoje acordei me sentindo como se eu pudesse dar um jeito na minha vida, mesmo sabendo que não é assim que as coisas funcionam. A vida não é uma coisa que você vai lá e resolve, eu sei.

Mas acordei com aquela disposição de mudar alguma coisa e provavelmente vai ser algo bem besta como faxinar e mudar alguma coisa de lugar. Nada melhor para clarear a mente como deixar as coisas organizadas, eu preciso começar por algum lugar, afinal. 

Eu vou fazer isso, organizar aqui me dá uma mínima sensação de controle sobre minha vida, mesmo sabendo que tem 29 gatos que pensam que organização é algo a se subestimar. Vou começar por aí e ir desenrolando. 

É isso, me deseje sorte

Até amanhã, quem sabe.