sexta-feira, 30 de março de 2012

Cor sim, cor não

A ação foi crescer e a reação é que agora cada um faz por seguir o seu caminho. 
Entre os percalços, a gente se encontra. E no espaço entre as boas novidades, nunca sei direito quem é você, nem o que te habita.
Onde afeto e a falta são vizinhos de porta, já não sei dizer se fingimos que somos juntos, ou se insistimos em fingir que não somos. 
Entre as opções, eu me importo e não, e o tempo passa. E também não. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Boniteza gera pobreza

Entre os buzinaços, eu caminhava morena e linda debaixo do sol. Andando e seduzindo.
A alegria faz uma diferença considerável no visu, deixa mais bonita, mais magra e até mais alta. Pena que deixa a gente mais pobre tambem.
Que quando a gente liga o koleston diante das vitrines, não há porque eu mereço que seja suficiente pra tanta belezura.
(vocês aceitam visa?)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Bum

O velho estava sentado no meio fio na frente do posto comendo pipocas de um pacote rosa.
Era hora do almoço, mas ele estava sentado ali sozinho, ele e suas pipocas.
Sem falar nada ele amassou o saco cor de rosa já vazio e enfiou no canto do canteiro do posto e levantou.
Parou e olhou o saco que se desamassava de um jeito bonito, remexeu no bolso e tirou o maço, acendeu um cigarro e sentou de novo.
A bituca ele jogou no chão e pisou em cima, não era idiota.
Ele sabia que tinha mais no mundo do que ele, o saco rosa e a bituca. 
As coisas correm risco o tempo todo de explodir, dai bum.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Tá no dicionário

Problema: marmanjo(a) de boa idade e boa aparência, dotados de talentos desejáveis e indecentes, frequentemente providos de aliança, colar de meio coração ou enrosco.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pós Guerra

Na manhã pós TPM, o cenário é de entristecer.  
Você levanta farejando pra entender direito o que, onde e como aconteceu e principalmente, onde você estava enquanto isso.
Sua cara no espelho é o retrato do pós guerra. Os cabelos, quanta diferença.
Na gaveta de baixo o último chocolatinho. Aquele separado pra hora da última esperança.
Você estende a mão na direção dele - não, ainda não é hora - e fecha a gaveta.
TPM foi embora, agora é hora de juntar todos os baldes que você chutou durante esses dias.
Tirar o pé da jaca. Botar o banho na lista de prioridades.
O eterno recomeço dessa vida. Eis o verdadeiro significado.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Carta pra você (Batista e seus novos óculos)

Minha querida irmã,
Provavelmente esta carta vem te trazer algum transtorno. Sei que discutimos incansavelmente sobre esse assunto, e também sei que não colaborei em nada quando você precisou da minha companhia para fazer os exames. 
Eu vim pra reconhecer meu erro. Me perdoe irmã, eu estava errado. 
Se eu acabei falando o que eu falei, foi porque eu não via a verdade que estava a um metro da minha cara.
Mas outro dia, no churrasco na casa do padrinho, eu me dei conta do que você estava tentando me dizer há tanto tempo. Você precisa de mim, maninha. Por favor, faça o que for possível para remarcar sua cirurgia que eu farei o que for preciso para te ajudar a se livrar dessas pelancas. Me perdoe por te encher de falsas esperanças, mas isto está tão ruim quanto parece. Mas resolver isso agora é a minha prioridade. E que Deus nos ajude e que Nossa Senhora Santíssima olhe por nós.
Do seu irmão, 
Batista

quarta-feira, 14 de março de 2012

Muito amor

A amiga desembesta a cantarolar.
- Que isso amiga, tá feliz?
- Ai, Milionário e José Rico, sou apaixonada.
- Juro que se no caso de eu vir a casar com alguém que goste de Milionário e José Rico, Teodoro e Sampaio ou Roberto Carlos, eu peço divórcio na hora.
- Dai você manda ele direto lá pra casa que eu cuido direitinho do sujeito! Milionário e José Rico, sou apaixonada. Teodoro e Sampaio, sou apaixonada. Amado Batista, sou apaixonada! Ivete Sangalo, sou apaixonada. José Mayer também, sou apaixonada.
- Ué, o José Mayer é cantor agora?
- Não né, se ele cantasse daí que não teria sossego. Jura que você não gosta de Roberto Carlos? Sou apaixonada!

terça-feira, 13 de março de 2012

Carta pra você

Devia fazer bem uns vinte anos que não sabia de você, até que te vi outro dia na rua. 
Eu até achei bem estranho ver você caminhando. Você que mal sabia como se mexer depois de descer do carro. 
Eu lembro daquele carrão que você comprou e a babação toda que veio junto. 
Conta aí qual foi, você ficou pobre ou ficou gordo?
Aqui entre nós, eu dei uma boa engordada neste tempo, mas você tá bonito cara. Eu só tô achando estranho. Você não pode ter esse corpitho e aquele carrão. Com a nossa idade ou você tem um carrão e a barriga adequada pra que ele carregue, ou o corpão. Corpão anda de bicicleta, ergométrica pode ser, mas carrão não, nem vem.
E a filharada, posso apostar que você já tem até neto. Eu teria, se não tivesse castrado meu cachorro. O outro cachorro. O Roleta morreu de velho antes mesmo de eu terminar de ficar adulto.
Agora até já deu tempo de você se formar né, aliás, já deu tempo de virar doutor, desistir, chorar e começar tudo de novo. 
Não ficaria surpreso se você tivesse largado no meio aquele curso mais-do-que-chato que você fazia e trocasse por, sei lá, aquele curso na Itália que ensina a fazer sorvete. Eu com certeza largaria, ou provavelmente nem teria coragem nem de começar. E sabe que não é nada mau um tempinho na Itália, comendo um sorvetinho, um macarrãozinho a bolognesa. Minhas bichas até ficam animadas. Ai, ai, você sempre me dando idéias, Borges. Quem sabe não abro meu boteco e dai coloco seu nome nele pra fazer homenagem.
Não sei se você ainda mora no mesmo lugar, mas de onde era, minha casa é meio longe da sua pra ir andando. Mas se você resolver dar uma chance pro seu carro, passa aqui me visitar, ou também se você quiser, que fique pra quando for que tiver que ser, não é?
Mas seria legal, eu tenho treinado, e quero saber se ainda sou capaz de te vencer na figurinha. 
Então até mais meu caro,

Joaquim B.

terça-feira, 6 de março de 2012

Plim!

E quando menos você espera, a ficha caiu.
Você está sentado com seu livro dentro do ônibus a caminho de qualquer lugar, quando a ficha redondinha do seu entendimento se atira no chão. Dois segundos muito compridos pra explicar.
Talvez dê pra ouvir o barulho surdo que faz o estômago, se contraindo, e o canto da boca que se movimenta, dependendo, para cima ou para baixo. A ruga que aparece na testa pra confirmar tudo. Os segundos de puro silêncio como em respeito ao que acabou de ser dito.
Então os diálogos mentais que se seguem pra tentar des-saber, voltar atrás, recuperar o rebolado e fazer de conta que não aconteceu nada. Pra ver se cola o tal já tava assim quando eu cheguei.
A ficha ainda rolando no chão e o tremendo elefante cor de rosa na boca do estômago. E nada mais do jeito que era antes.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Coragem


CORAGEM é quando você pega seu monstro no pulo, escapulindo pela porta do armário e tranca a porta rapidinho, dá dez voltas de corrente, fecha com um cadeadão de respeito e ainda põe uma cadeira na frente pra garantir. E aí você esfrega as mãozinhas e comemora.
COVARDIA é quando você faz exatamente a mesma coisa, mas dá no pé e deixa pra comemorar a uns quarteirões dali.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Na cartomante - 4


- Eu vejo você lembrando seu amor de juventude, o grande amor da sua vida. Aquele amor pelo que você lutou, gritou e amaldiçoou tanto. Quem você quase perdeu por causa da vida e depois também por causa da morte.
Eu vejo você com seu grande sonho realizado, naquele vestido que deixa magrinha e as flores que deixaram realmente tudo perfeito. 
A tão esperada família sentada à mesa esperando você terminar de trazer o jantar. 
Mas eu também vejo o que ele nunca vai ter coragem de te contar.
- Como assim, ele vai ter outra? 
- Outra sim, perspectiva. Mas não se preocupe, você vai ter tudo o que sempre quis, só vai te faltar mesmo a certeza.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bolsa de valores


Neguinho parece gerente de banco olhando nossa prateleira de saldos.
Se eu fosse você, investiria mais nisso.
Se eu tivesse no seu lugar, daria mais valor praquilo lá.
Ah se fosse comigo...
O que branquinho nunca viu é a gaveta dos negativos. A pasta grossa dos bocados que vem inclusos.
Se num levante de faxina, jogasse tudo quanto é gaveta pela janela lá pra rua, aí sim. 
Aí qualquer um podia fazer melhor do nosso bocado mesmo. Até a gente.